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"Borussia deixou Amoroso doente"

Marcio Weichert11 de dezembro de 2002

Irritado com situação do jogador, Nivaldo Baldo abre o verbo em entrevista exclusiva à DW-WORLD. Fisioterapeuta afirma que clube causou lesão no atacante e critica o técnico Sammer.

Atacante com aplicação de gelo nos calcanhares em tratamento no BrasilFoto: Pressebild

A paciência de Nivaldo Baldo chegou ao fim. Após ter recuperado Amoroso de uma lesão no tendão de Aquiles em agosto e setembro, o fisioterapeuta não agüenta mais ouvir as alegações do técnico Matthias Sammer para não escalá-lo no ataque do Borussia Dortmund.

"Como profissional de saúde e como quem conhece Amoroso, a mulher, o pai, a mãe e o cachorro, não posso admitir que digam que ele não está bem fisicamente. Dizer isto é uma prova de burrice cabal. Se ele não tem condições de jogo é porque o clube não é capaz de treiná-lo, pois eu entreguei o Amoroso fisicamente voando. Ele só não é escalado por razões pessoais do Sammer", desabafou Baldo em entrevista exclusiva à DW-WORLD.

O ex-membro da delegação brasileira no Panamericano de 1999 irrita-se com a versão da imprensa alemã de que Sammer talvez venha boicotando Amoroso por ele ter ido tratar-se no Brasil sem sua concordância. "Quem autorizou foram o presidente do clube, Gerd Niebaum, o Michael Zorc (diretor-executivo) e o Michael Meier (secretário-geral) numa reunião conosco. E o Sammer sabe disto. Ele tem de parar com esta história hitleriana. Ele não é o dono do mundo", esclarece e dispara o fisioterapeuta.

Negligência teria causado lesão

Cansado de ver seu paciente preterido, Nivaldo Baldo optou agora por contra-atacar. Para ele, Amoroso foi no mínimo vítima de negligência por parte da comissão técnica do Borussia Dortmund. Após voltar das férias européias de verão, o atacante teria sido colocado para correr em pista "excessivamente dura", do que o artilheiro da temporada passada teria reclamado à comissão técnica. O esforço teria causado uma inflamação em seu tendão de Aquiles, tratado a princípio com uma infiltração – injeção de analgésico e antiinflamatório – "um procedimento aparentemente normal", segundo Nivaldo Baldo.

"Mas infelizmente a infiltração não teve o sucesso esperado e o quadro piorou. A dor havia diminuído, mas a lesão passara a ser de fibras. Ou seja, o que era uma tendinite virou tendinose. Ele não conseguia correr, nem fazer nada", relata o especialista.

Chamado a Dortmund, o fisioterapeuta ficou chocado ao chegar. "Eles não acreditavam na lesão do Amoroso. Não tinham feito ressonância magnética. Só me apresentaram um exame de sangue e diziam que ele tinha excesso de ácido úrico. Não havia qualquer exame complementar. Eu providenciei a ressonância, que comprovou a tendinose. Mas eles não me acreditaram", conta Baldo, para quem a lesão teve origem mecânica.

Somente após Amoroso ser também examinado pelos médicos James Andrews (especialista americano) e Hans-Wilhelm Müller-Wohlfahrt (Bayern de Munique e Seleção Alemã), a diretoria do Borussia Dortmund teria admitido a gravidade do caso e que o clube não estaria tendo êxito em seu tratamento, permitindo que Amoroso fosse ao Brasil tratar-se na clínica de Baldo em Campinas.

Caso não seria isolado

De acordo com o fisioterapeuta, o atacante brasileiro não é a única vítima de falhas no condicionamento físico dos jogadores do clube. "O Borussia vive colecionando lesões, devido à teimosia e à insensibilidade de algumas pessoas ali dentro. Tem muito jogador atuando machucado. Tem jogador que já tomou 42 infiltrações. Colocar jogador no sacrifício é perigoso", denuncia Baldo, que sente falta de uma visão mais científica na comissão técnica do campeão alemão.

Mas não só isto: "O técnico deveria estar feliz por ter à disposição jogadores como Amoroso, Dede, Evanílson e Éwerthon, que deveriam ser tratados como jogadores estrangeiros. Nem melhor, nem pior. Não dá para tratar brasileiros como se fossem alemães. Nem vice-versa. Jogador brasileiro não gosta de ficar correndo na pista. Ele não é corredor de atletismo."

Baldo questiona a linha de treino usada no Borussia. "O clube está numa de que o importante é correr sem bola, com bola é problema. Amoroso nasceu para ser jogador de futebol e não para disputar maratona, embora corra mais do que muito corredor", alega o fisioterapeuta, que completa: "Eles fazem exercícios provocativos com o intuito de o atleta ficar mais forte, mas não tem ficado e as estatísticas provam isto".

Mais acusações

O fisioterapeuta também denuncia que o clube faz pressão sobre jogadores contundidos cortando parte de seus salários caso fiquem machucados por mais de um mês. "Eles entram num subsalário", afirma.

Por outro lado, o Borussia não teria pago Baldo por ter salvado Amoroso. "Eu resolvi o problema deles. Eles não perderam o jogador. Trabalhei como um doido e tivemos um resultado maravilhoso. No fim não me pagaram. Nem obrigado falaram. Isto prova que algo não vai bem no clube", declara o especialista brasileiro, que entretanto admite não ter sido contratado, ao menos por escrito. "Homens de bem se comprometem na palavra", argumenta. Segundo ele, o clube também não teria reembolsado as despesas médicas de Amoroso, assim como suas passagens aéreas.

Quebra do silêncio

Baldo diz só estar revelando toda esta história agora por não suportar mais ver Amoroso sendo humilhado. "Nós ficamos quietos porque eles pediram. Estava guardando tudo pela fidalguia com que estávamos sendo tratados pelo Borussia, mas o Sammer detonou a falar mal do Amoroso sem necessidade", justifica.

"Quem deixou o Amoroso doente foi o Borussia", acrescenta o fisioterapeuta, que faz questão de destacar a cordialidade com que sempre foi recebido pelo presidente Niebaum e o secretário-geral Meier. "Pelo que notei, o presidente não sabe o que acontece em seu time de futebol", desconfia.

Nivaldo Baldo não acredita no fim desta discussão a curto prazo, apesar de Amoroso ter voltado a brilhar em campo com dois gols no último fim de semana. "Não acredito, porque o Sammer tem um comportamento recidivante, de revanchismo. Agora, se ele tem o artilheiro e não o quer mais, então tem de liberá-lo."

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