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Borussia Dortmund: um passo para frente, dois para trás

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
8 de fevereiro de 2022

Sob Marco Rose, time até que pedalou bastante, mas não saiu do lugar. Depois do mau desempenho na Champions League e no DFB Pokal, aurinegros acabam de ser impiedosamente atropelados pelo Leverkusen na Bundesliga.

Marco Reus, do Dortmund, durante partida contra o Leverkusen em que aurinegros perderam por 5x2Foto: INA FASSBENDER/AFP/Getty Images

A última vez que o Borussia Dortmund tinha sofrido uma goleada em casa amargurando cinco gols marcados pelo adversário foi em dezembro de 2020. O adversário era o Stuttgart, e o placar foi 5x1. O técnico aurinegro na época atendia pelo nome de Lucien Favre e acabou demitido no dia seguinte ao debacle, que deixou o time na desconfortável quinta posição na tabela, fora da zona de classificação para a Champions League.

Para entrar no lugar de Favre, foi chamado às pressas o técnico Edin Terzic, treinador dos times de base do clube. Terzic arrumou o elenco, levou o clube ao G4, conquistou o cobiçado DFB Pokal (Copa da Alemanha) e chegou às quartas de final da Champions League – e só então foi eliminado pelo Manchester City de Pep Guardiola. No frigir dos ovos fez um excelente trabalho, não apenas do ponto de vista de resultados, mas também do futebol apresentado.

Encerrada a temporada, Terzic foi ser diretor técnico do clube, e no seu lugar assumiu Marco Rose, que praticamente encontrou o mesmo elenco deixado por seu antecessor, exceção feita a Jadon Sancho, jovem e talentoso meia ofensivo, vendido ao Mancheter United por 85 milhões de euros.  

A expectativa da diretoria do Borussia Dortmund era de que, com a chegada de Rose, todo o potencial dos jovens talentos que compõem o elenco pudesse se desenvolver de tal modo que formasse um coletivo com um claro plano tático e estratégico de jogo pensado e elaborado pelo novo treinador.

Balanço decepcionante

Passados sete meses, o balanço da nova gestão é decepcionante.

Do ponto de vista de resultados, o time foi mal na Champions League, na qual foi amassado pelo Ajax Amsterdã, além de perder para o Sporting Lisboa em confronto decisivo. Acabou num melancólico terceiro lugar no seu grupo, o que ao menos lhe deu a chance de disputar os play-offs contra o Glasgow Rangers da Liga Europa.

No DFB Pokal, o objetivo era defender o título conquistado na temporada anterior, já que seu maior concorrente – o Bayern de Munique – já tinha sido eliminado precocemente na segunda rodada da competição. Nada feito. A equipe foi mal diante do St. Pauli da segunda divisão, perdeu por 2x1 e deu adeus às suas pretensões de conquistar o bi.

Quanto ao desempenho do time no campeonato alemão, pode-se argumentar que ao menos o clube está no G4, à uma folgada distância de dez pontos do quinto lugar. Só que, para um clube do porte do Borussia Dortmund, obter uma das quatro vagas destinadas à Bundesliga pela Uefa nada mais é do que cumprir sua obrigação. É o mínimo que o torcedor aurinegro espera do seu elenco, avaliado no mercado da bola em aproximadamente 500 milhões de euros.   

"Boas defesas ganham campeonatos, bons ataques ganham jogos"

Trocando em miúdos: em sete meses de gestão Marco Rose, o time até que pedalou bastante, mas não saiu do lugar. E pior. Os planos táticos e estratégicos anunciados antes da temporada começar, pelo menos até agora, não foram implementados a ponto de dar resultados visíveis. Comparado com a temporada 2020/2021, o desempenho da campanha atual é pior. Deu mais passos para trás (Champions League e DFB Pokal) do que para frente. 

Durante a pré-temporada em julho do ano passado, Rose insistiu com seus comandados que alguns pontos cruciais da forma de jogar do time precisavam ser melhorados. Citou explicitamente o trabalho defensivo ao afirmar: "Durante a temporada passada, o Borussia Dortmund sofreu muitos gols. Temos que trabalhar nisso e melhorar nosso desempenho no setor defensivo. Além disso, vamos pressionar o adversário quando estiver de posse da bola ainda no seu próprio campo. Marcação alta será um dos nossos lemas para que tenhamos a chance de logo recuperarmos a bola, preferencialmente próximo à grande área do nosso oponente."

Se de fato esses dois quesitos táticos foram exaustivamente trabalhados nesses últimos sete meses, pelo menos por enquanto, os esforços durante as incontáveis sessões de treinos individuais e coletivos não deram resultado.

A defesa, por exemplo, está até um pouco pior. Na campanha passada, sofreu 46 gols em 34 jogos, e na atual já amargou 36 gols, sofridos em apenas 21 partidas. Se continuar nessa média, vai acabar a competição com 58 gols contra. Atualmente o Borussia tem a quinta defesa mais vazada da Bundesliga, o que me faz lembrar um velho ditado popular: "Boas defesas ganham campeonatos, bons ataques ganham jogos".

Goleada sofrida em casa

Quanto à marcação alta e pressão sobre o adversário quando esse estiver de posse da bola, pouco ou nada se viu até agora, o que ficou mais uma vez demonstrado à exaustão na partida contra o Bayer Leverkusen no último domingo (06/02), que terminou com uma sonora goleada por 5x2 imposta ao Borussia Dortmund – para tristeza e desencanto dos seus torcedores presentes no Signal Iduna Park.

Foi a maior goleada sofrida pelo Dortmund na sua própria casa desde aquele fatídico 5x1 frente ao Stuttgart que resultou na demissão de Lucien Favre.

Logo depois do jogo de domingo, o capitão Marco Reus afirmou à imprensa: "Nós não conseguimos colocar em prática o que tinha sido previamente planejado." Ora, não é a primeira vez que isso acontece, e não é a primeira vez que Reus diz isso ao microfone. Há fortes indícios de que os jogadores não conseguem implementar em campo a estratégia e as táticas de jogo preconizadas pelo técnico.

E tem mais uma coisa: quando um time frequentemente não consegue colocar em prática os conceitos previamente estabelecidos, cabe ao treinador adaptar os seus conceitos de jogo ao elenco disponível, mesmo porque é com esse elenco que ele vai trabalhar pelo menos até o final da temporada.

Técnicos inteligentes escaneiam minuciosamente ponto fortes e fracos de cada um dos jogadores à sua disposição e tentam depois adaptar seus conceitos táticos às competências dos seus comandados.

Parece não ser esse o caso de Marco Rose, e é justamente por sua insistência em impor seus conceitos sem levar em consideração as competências específicas de cada um dos seus jogadores que o clube corre o risco de continuar dando um passo para frente e, logo em seguida, dois passos para trás. Foi exatamente o que aconteceu domingo último, quando foi impiedosamente atropelado pelo Bayer Leverkusen. 

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras.

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.