Ao completar 60 anos, gênero musical continua sendo a melhor embaixadora do Brasil – e uma declaração de amor ao Rio de Janeiro. O ritmo eclodiu em 1958 com o álbum "Chega de Saudade", de João Gilberto.
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O gênero musical se espalhou pelo mundo inteiro. Em aeroportos e navios de cruzeiro, em bares e elevadores, em salas de espera e estádios – a Bossa Nova é tocada em todos os lugares. Depois de Yesterday, dos Beatles, Garota de Ipanema é a canção mais executada da história.
Suave e diferente, melancólica e serena, poética e percussiva, a Bossa Nova espelha o melhor da dialética brasileira. No ritmo com melodias etéreas e harmonias dissonantes, as aparentes contradições se dissolvem e se unem para criar um estilo musical único, que permite um' profundo olhar sobre a alma brasileira.
Os 60 anos da Bossa Nova
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Ninguém personifica de forma tão autêntica a mistura de samba, jazz e música clássica quanto um homem tímido do interior baiano que, em meados dos anos 1950, se mudou para o Rio de Janeiro: o violonista João Gilberto. Com uma voz mansa, quase falando, que parece deslizar sobre as cordas, e uma batida rítmica, ele criou um som esquisito que pegou.
Do compositor e maestro Antônio Carlos Jobim, João Gilberto recebeu as músicas; do poeta Vinícius de Moraes, as letras. Bossa Nova significou o adeus ao efeito trêmulo, uma rebelião contra o mofo do passado e o início de um futuro promissor.
A história da criação da Bossa Nova foi escrita pelo jornalista e escritor Ruy Castro. Meticulosamente pesquisado, o livro Chega de Saudade, publicado em 1990, reconstitui essa emocionante era da música brasileira.
Em 1958, o Brasil esnobava otimismo: o arquiteto Oscar Niemeyer e o urbanista Lúcio Costa projetavam a nova capital, Brasília. E com o rei Pelé, o país ganhava pela primeira vez a Copa do Mundo.
Mas foi justamente o Mundial na Suécia que contribuiu pela demora na eclosão da Bossa Nova. Em agosto de 1958, a versão de João Gilberto para Chega de Saudade chegava às lojas sem despertar interesse. O que tocava por toda parte era o hino da vitória da Seleção.
Pior ainda: a interpretação de João Gilberto da canção composta por Tom Jobim e Vinícius de Moraes se deparou com uma rejeição geral. "Não tem voz e canta fora do ritmo", disse na época Oswaldo Gurzoni, então gerente de vendas da filial paulistana da gravadora Odeon.
Também Álvaro Ramos, gerente de vendas das Lojas Assumpção, então a maior cadeia de lojas de discos do país, ficou irritado e não queria vender o disco em suas lojas. Em seu livro, Ruy Castro relata o lendário desabafo: "Essa é a merda que o Rio nos manda!"
Seus clientes eram de outra opinião. Chega de Saudade tornou-se um sucesso de vendas. De agosto a dezembro de 1958 foram vendidos, somente em São Paulo, 15 mil discos. Até 1990, 500 mil cópias.
Um ano depois, o novo ritmo brasileiro tornou-se conhecido internacionalmente com a canção Manhã de Carnaval, que fazia parte da trilha sonora do filme Orfeu Negro, premiado com a Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1959. De acordo com o Livro Guinness dos Recordes, a composição de Luiz Bonfá e Antônio Maria é uma das mais executadas de todos os tempos.
Depois disso, não se pôde mais parar a onda de sucesso. Tom Jobim compôs mais de 400 canções de Bossa Nova, incluindo Garota de Ipanema, Corcovado, Desafinado e Wave. Depois do show triunfante de Bossa Nova no dia 21 de novembro de 1962 no Carnegie Hall, em Nova York, teve início o caso de amor musical com o jazz americano, que perdura até hoje.
Com seu senso de humor único, Miles Davis, que estava na plateia, assegurou a João Gilberto que, com sua voz, poderia musicar até listas telefônicas – e mesmo assim seria bonito.
Ainda hoje, os críticos de música discutem se a Bossa Nova influenciou o jazz ou o contrário. Uma coisa é certa: todos os músicos de jazz conhecidos, incluindo Stan Getz, Charlie Byrd, Chet Baker, Thelonious Monk, Ella Fitzgerald, Frank Sinatra, Sarah Vaughan, Gerry Mulligan, Henri Mancini e o próprio Miles Davis gravaram e reinterpretaram sucessos do gênero musical brasileiro.
Mas o que exatamente é a Bossa Nova? Uma espécie de samba moderno? Uma variante brasileira do cool jazz americano? Ou uma mistura de ambos? O próprio Tom Jobim sempre insistiu em ter "80% de sua vida dedicada ao samba negro". Ele também dizia ver sua música como uma forma de ataque suave à sociedade de classes brasileira.
Junto à crítica social do poeta e diplomata Vinícius de Moraes, Jobim desejava superar fronteiras: entre ricos e pobres, entre pretos e brancos, entre a favela e bairros nobres como Ipanema. "Quando derem vez ao morro, toda a cidade vai cantar", previu a dupla na canção O morro não tem vez.
A mensagem se manteve; os acordes não parecem mais tão tortos, mas suaves; e as síncopes musicais não tropeçam mais, mas agem com vivacidade e leveza: até hoje, a Bossa Nova marca a música brasileira e internacional.
"Quando Tom Jobim começou a compor, tudo mudou", lembra o violonista e compositor João Bosco. "Ele trouxe consigo uma espécie de beleza que não existia antes."
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