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Brasil adianta Relógio do Juízo Final

23 de janeiro de 2020

Políticas ambientais do governo e devastação da Amazônia fazem com que o Brasil seja incluído pela 1ª vez em dispositivo criado em 1947 para medir o quanto a humanidade estaria perto de uma catástrofe.

O Relógio do Juízo Final, criado por cientistas em 1947 para medir a probabilidade de uma guerra nuclear
O Relógio do Juízo Final, criado por cientistas em 1947 para medir a probabilidade de uma guerra nuclearFoto: picture-alliance/newscom/K. Cedeno

O Relógio do Juízo Final teve seus ponteiros ajustados nesta quinta-feira (23/01) para a marca de apenas 100 segundos para a meia-noite, simbolizando o maior perigo para a humanidade registrado desde criação do dispositivo em 1947.

O Brasil foi citado pela primeira vez como um dos causadores do aumento do nível de perigo em razão das políticas ambientais do governo e do desmantelamento da proteção à Amazônia.

O avanço dos ponteiros foi decidido pelo Boletim de Cientistas Atômicos, um painel internacional de especialistas que controla o dispositivo e conta com a participação de 13 ganhadores do prêmio Nobel.

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Outros fatores levados em conta foram o aumento das tensões internacionais, a maior utilização de tecnologias destrutivas, a militarização do espaço e o desenvolvimento de novas armas supersônicas, além do risco de uma nova corrida nuclear.

"Passamos a contar em segundos o quanto estamos próximos de uma catástrofe, não em horas ou minutos", disse Rachel Bronson, presidente do organismo. O Relógio do Juízo Final foi inicialmente criado para medir os riscos de uma catástrofe nuclear, mas desde 2007 passou a incluir também as mudanças no clima do planeta e seus efeitos.

"No ano passado, alguns países agiram para combater as mudanças climáticas enquanto outros, incluindo os Estados Unidos, que deixaram o acordo de Paris, e o Brasil, que desmantelou políticas de proteção à floresta amazônica, deram vários passos para trás", afirma o grupo de cientistas em comunicado.

Entre as causas de preocupação, os cientistas destacaram o fracasso da Conferência do Clima em Madri, o aumento das emissões de CO2 e incêndios de grandes proporções ocorridos "desde o Ártico até a Austrália".

No ano passado, o aumento das queimadas na Amazônia gerou comoção internacional e fez com que o Brasil se tornasse alvo de pesadas críticas de governos e organizações ambientalistas em todo o mundo.

Em 2019, em torno de 10 mil quilômetros quadrados de floresta foram devastados no Brasil. O desmatamento na Amazônia cresceu 85,3% em comparação com 2018, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O Brasil abriga 60% da Floresta Amazônica, que é um regulador chave para os sistemas vivos do planeta e também para o índice de chuvas no país. Suas árvores absorvem cerca de 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano e liberam 20% do oxigênio do planeta.

Depois de ter sido considerado uma história de sucesso ambiental, o Brasil vem perdendo prestígio, principalmente desde a eleição de Jair Bolsonaro à presidência. Ele já declarou várias vezes a intenção de explorar a floresta amazônica, ameaçando reservas naturais e terras indígenas, e chegou a negar a existência de mudanças climáticas.

Devido ao discurso do presidente e à agenda ambiental do governo, especialistas temem que o desmatamento no Brasil atinja níveis alarmantes nos próximos anos.

O Relógio do Juízo Final foi inicialmente acertado em sete minutos para a meia-noite. A pior marca até agora – dois minutos para a meia-noite – havia sido registrada nos anos de 2018 e 2019.

Segundo o dispositivo, o mais longe que a humanidade já esteve de uma catástrofe foi em 1991 com o fim da Guerra Fria, quando o relógio marcou 17 minutos para o fim dos tempos.

RC/afp/ots

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