Brasil tem 2,5 milhões de crianças e jovens fora da escola
5 de abril de 2017
Estudo mostra aumento no acesso à educação, mas meta de universalização educacional está longe de ser alcançada. Maior parte dos que estão fora da escola provém das parcelas mais vulneráveis da população.
Lei determina que todas as crianças e jovens entre quatro e 17 anos de idade devem estar matriculados na escolaFoto: picture-alliance/dpa
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Apesar de o acesso de membros de classes menos favorecidas da população à educação ter aumentado no Brasil nos últimos dez anos, ainda há 2.486.245 crianças e jovens entre quatro e 17 anos fora da escola, de acordo com levantamento do movimento Todos pela Educação (TPE) publicado nesta quarta-feira (05/04).
O levantamento foi feito com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). Em 2015, dos quase 2,5 milhões fora da escola, a maior parte tem de 15 a 17 anos – são 1.543.713 jovens que não frequentam salas de aula.
Na avaliação do TPE, há uma redução de desigualdade "importante, embora não suficiente", pois mesmo que os indicadores tenham avançado, ainda estão entre as parcelas mais vulneráveis da população as maiores concentrações de crianças e jovens fora da escola.
"São aqueles que mais precisam da educação para superar a exclusão e a pobreza. Muitos são crianças e jovens com deficiência e moradores de lugares ermos. Muitos têm gerações na família que nunca pisaram na escola", diz a presidente do movimento, Priscila Cruz.
A lei brasileira determina que todas as crianças e jovens entre quatro e 17 anos de idade devem estar matriculados na escola. Segundo a Emenda Constitucional 59 de 2009, incorporada no Plano Nacional de Educação (PNE) e sancionada em 2014, o Brasil teria que universalizar o atendimento educacional até 2016.
"Temos que tomar cuidado quando se diz que estamos quase universalizando. Esse discurso tirou pressão nos governos", diz Cruz. "É a questão que mais deveria envergonhar os brasileiros, saber que temos 2,5 milhões de crianças e jovens fora da escola em pleno século 21".
Avanços
De 2005 a 2015, o acesso dos jovens entre quatro e 17 anos de idade aumentou principalmente entre a população parda e negra, os de baixa renda e moradores do campo. Os avanços foram maiores que os registrados entre brancos, ricos e moradores da cidade.
Entre os mais pobres, em 2005, 86,8% estavam na escola, contra 97% dos mais ricos. Em 2015, ambas as classes registraram melhoras, mas o avanço significativo foi alcançado entre os mais pobres, com um salto de mais de seis pontos percentuais, para 93,4%. Dos mais ricos, 98,3% estavam na escola em 2015.
Entre aqueles que moram no campo, o acesso subiu de 83,8% para 92,5%, enquanto a taxa dos moradores de zonas urbanas passou de 90,9% para 94,6%.
O crescimento do acesso entre negros e pardos – que passou, respectivamente, de 87,8% para 92,3% e de 88,1% para 93,6% – foi maior que o da população branca – que passou de 91,2% para 95,3%.
PV/abr/ots
Quem faz a educação funcionar
Histórias de persistência, dedicação e trabalho dos que fazem parte das escolas públicas que, apesar das dificuldades, estão entre as mais destacadas do país.
Foto: DW/N. Pontes
Campeão olímpico
Quando estava no 7º ano, Antônio Wesley de Brito Vieira ganhou sua primeira medalha numa Olimpíada de Matemática. Hoje, aos 19 anos, está no 2º ano do curso de Matemática na Universidade Federal do Piauí e, por causa dos prêmios que acumulou na escola, recebe uma bolsa que ajuda a pagar os custos. Ele quer ser professor e, sempre que pode, retorna à Augustinho Brandão, onde fez o ensino médio.
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Sala dos professores
No intervalo, os professores da escola Augustinho Brandão, em Cocal dos Alves, Piauí, se encontram. A diretora Aurilene Vieira (de blusa rosa) divide a mesa com ex-alunos, que se tornaram professores. A profissão é disputada na cidade. Cursos de graduação semipresenciais ajudaram na formação desta nova geração. Ainda assim, todos se deslocam para cidades maiores para concluir os estudos.
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Hora extra em casa
O professor de matemática Antônio Amaral foi o primeiro a inscrever os alunos da escola Augustinho Brandão numa Olimpíada de Matemática. Para tirar a dúvida dos competidores, ele instalou uma lousa nos fundos de sua casa, onde recebe os estudantes depois das aulas, nos fins de semana e feriado. Os filhos de Amaral, Sávio e Saulo, gêmeos de 14 anos, também são medalhistas e bons de cálculo.
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O vigia que é doutorando
No portão da escola, Tarcísio Vieira de Brito não perde um minuto sequer. Quando não precisa liberar a entrada ou saída de alunos e funcionários, o vigia se concentra nos estudos. Ele concluiu o ensino médio aos 22 anos, estudou Biomedicina, fez mestrado e cursa agora um doutorado. Obstinado, ele diz que só larga o posto de vigia quando passar num concurso de professor de universidade pública.
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Professora e ex-zeladora
A professora Flávia, como é chamada na escola Antônio Custódio, em Sobral, também é conhecida como a maga da alfabetização. A relação dela com a escola é longa: aos 18 anos, trabalhava como substituta da zeladora – que era sua avó – fazendo serviços gerais. Hoje, aos 25 anos, Flávia é formada em Pedagogia, fez curso técnico em Saneamento Básico e trabalha como professora efetiva.
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Ex-secretária na sala de aula
Faz dois anos que Socorro Mesquista, 54 anos, começou a sua vida como professora. Antes, ela trabalhava como secretária da escola Antônio Custódio desde 2010, mas resolveu estudar Pedagogia para viver a rotina dentro da sala de aula. Professora de Matemática, ela planeja um curso de especialização para 2017.
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Futuro empresário
Aos 14 anos, Wendel Manfrini de Andrade Mendes já sabe qual será sua profissão: quer ser empresário. Dono de várias medalhas em Olimpíadas de Matemática, o aluno do 9º ano do ensino fundamental da escola Dorilene Arruda Aragão, em Sobral, é disputado por escolas particulares por seu excelente desempenho. Ana Lívia, de 7 anos, diz que quer seguir o mesmo caminho que o irmão mais velho.
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Salas de aulas para todos
Reunir todos os alunos num único prédio foi a primeira vitória da escola Francisca Josué, em Deputado Irapuan Pinheiro, Ceará. Nas salas de aula, blocos vazados garantem uma maior ventilação, já que a temperatura na região pode ultrapassar os 40˚C. No Ideb, a escola obteve 8,2. Alunos e professores ainda comemoram o bom resultado.
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Leitura divertida
No intervalo da aula, diversos livros ficam à espera dos alunos do ensino fundamental 1 da escola Francisca Josué. A escola implantou um programa de incentivo à leitura em que, a cada semana, um estudante leva uma maleta de livros para casa. No dia da devolução, sempre às quintas-feiras, os pais comparecem e trazem ilustrações, que ajudam o filho a contar a história em voz alta para toda a turma.
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Disputa no campo
A disputa pela bola é acirrada no intervalo. Todos vestem o mesmo uniforme, mas os integrantes dos dois times sabem diferenciar seus jogadores. Eles disputam uma partida de futebol num campo sem linhas, onde as traves não estão alinhadas. O campo improvisado não impede que as crianças corram atrás da vitória. A torcida animada vibrava a cada gol, sem fazer diferença entre os times.