Filme sobre Sebastião Salgado, dirigido por seu filho e pelo alemão Wim Wenders, é um dos cinco finalistas na categoria melhor documentário. "Citzenfour", que conta a trajetória de Snowden, é principal concorrente.
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Quem vai levar o Oscar? Birdman ou Boyhood? Para os brasileiros, a grande disputa pela estatueta no próximo domingo (22/03) gera mais uma importante pergunta: Sebastião Salgado ou Edward Snowden?
Dirigido pelo alemão Wim Wenders e por Juliano Ribeiro Salgado, O sal da Terra, filme que conta a trajetória do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, é o único título brasileiro que concorre ao Oscar em 2015.
"O filme teve uma carreira muito bonita. Essa é a primeira vez que isso acontece comigo. Eu me sinto muito orgulhoso. Esse é um filme muito especial porque fala da minha família e tem uma mensagem forte para passar, falando do mundo de uma maneira muito realista", diz Juliano Salgado à DW Brasil.
A categoria de melhor documentário é sempre uma grande incógnita na premiação, já que seus concorrentes tem um menor apelo comercial – o que também reserva espaço para surpresas.
A coprodução franco-brasileira disputa a estatueta com A fotografia oculta de Vivian Maier, de John Maloof e Charlie Siskel, Last days in Vietnam, de Rory Kennedy, Virunga, de Orlando Von Einsiedel, e Citzenfour, de Laura Poitras.
Sucesso internacional
O filme começou a tomar forma com a ideia comum de Juliano e Wenders de criar um filme que não fosse sobre as fotografias, mas sobre "a testemunha". "Uma pessoa que teve uma experiência única e aprendeu muito sobre o mundo e as pessoas", explica.
A opulência visual do trabalho de Sebastião Salgado está presente em relatos em francês filmados por Wim Wenders e se completam de maneira tocante com as imagens feitas em momentos de intimidade por Juliano. Elas buscam o homem e o pai além do mito de um dos mais bem sucedidos fotógrafos do planeta.
"Estamos em um momento muito pessimista na nossa história e não sabemos o que é uma utopia. Através do exemplo do Sebastião e da Lélia, meus pais, podemos aprender que é possível mudar as coisas em um nível local. Acho que essa consciência das pessoas pode ser o início de alguma coisa", diz Juliano.
O sal da Terra teve sua estreia em Cannes em maio de 2014, onde ganhou o prêmio especial do júri da prestigiosa mostra Un Certain Regard. Desde então o filme participou de diversos festivais e foi indicado a importantes prêmios, como o francês César, o espanhol Goya e o da Associação Internacional de Documentário.
"O filme passa uma energia muito forte. Ele é um motivador importante. Acho que é isso que está sendo premiado: essa energia. O Oscar é um grande holofote, e isso é ótimo porque muito mais gente vai ter contato com o filme", afirma o diretor.
Forte concorrente
No entanto, os sonhos do Brasil de conquistar a cobiçada estatueta podem parar em Edward Snowden. O filme de Laura Poitras sobre o delator do esquema de espionagem da NSA faz parte de uma polêmica trilogia sobre a América após o 11 de Setembro.
A diretora radicada em Berlim filmou a história de Snowden de uma maneira intensa e urgente, indo fundo na intimidade do americano no momento em que ele mudou completamente sua vida e abriu novos parâmetros na discussão sobre privacidade e controle de informação.
"Citzenfour é um filme importante que me tocou muito. É um tema que tem que ser divulgado", revela Juliano.
Agora resta esperar se a conservadora Academia vai cair nas graças do subversivo e brilhante Citzenfour ou se render às múltiplas facetas de um brasileiro, cujo inspirador trabalho foi reconhecido em todo o mundo.
A história do Brasil no Oscar
O Brasil concorreu em 2020 com "Democracia em vertigem" como melhor documentário. Apesar de nunca ter levado o prêmio, país já teve obras indicadas à estatueta em várias categorias. Veja a trajetória do Brasil no Oscar.
Foto: imago/United Archives
"Orfeu negro"
Em 1960, "Orfeu negro", uma coprodução entre Brasil, França e Itália, ganhou a estatueta de melhor filme estrangeiro. Por representar a França, este país acabou levando os louros. Mas é o único de língua portuguesa a ganhar o Oscar.
Candidatos a melhor filme estrangeiro
Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, "O pagador de promessas", de Anselmo Duarte, garantiu a primeira indicação para o Brasil em 1962. Mais de 30 anos depois, em 1995, a história real de dois casais de imigrantes italianos vivendo sob o mesmo teto rendeu uma indicação a "O quatrilho", de Fabio Barreto. Em 1997, Barreto (foto) voltou a ser indicado na categoria, por "O que é isso companheiro?".
Foto: picture-alliance/dpa
Os pré-selecionados
Anualmente, uma comissão do Ministério da Cultura escolhe um filme brasileiro para representar o país no Oscar. Desde 1954, com a seleção de "O cangaceiro", de Lima Barreto, mais de 45 títulos foram escolhidos, mas apenas quatro ficaram entre os finalistas. Em 2014, "Hoje eu quero voltar sozinho" (foto), de Daniel Ribeiro, representou o país, mas não conseguiu uma indicação.
Foto: D. Ribeiro
Melhor filme
Esnobado na categoria de filme estrangeiro, "O beijo da mulher aranha", coprodução com os Estados Unidos, foi o primeiro longa latino-americano a ser indicado como melhor filme. A amizade entre um preso político (Raul Julia) e um homossexual (Will Hurt) em um presídio brasileiro também rendeu indicações de melhor roteiro adaptado e melhor diretor (Hector Babenco). Hurt venceu como melhor ator.
Foto: 2015 ICRA LLC
"Central do Brasil"
Depois de levar o Urso de Ouro na Berlinale, "Central do Brasil", de Walter Salles, partiu para uma triunfante carreira internacional. Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 1999, o drama sobre a amizade de um menino abandonado e uma mulher desiludida de meia-idade levou também a indicação inédita de melhor atriz para Fernanda Montenegro. Mas nenhum dos dois prêmios foi para o Brasil.
Foto: picture-alliance/dpa/Buena_vista
Melhor direção
Apesar do sucesso comercial no exterior, "Cidade de Deus" foi esnobado ao prêmio de filme estrangeiro em 2004. Mas o frenético retrato do crescimento do crime organizado na favela carioca teve indicações a melhor roteiro adaptado, melhor edição e melhor fotografia. Fernando Meirelles também foi indicado como melhor diretor, mas quem levou a estatueta foi Peter Jackson, por "O Senhor dos Anéis".
Foto: imago/United Archives
Melhor documentário
"Lixo Extraordinário" foi indicado a melhor documentário em 2011. O filme acompanha o artista plástico Vik Muniz (foto) em um projeto com catadores de lixo no aterro do Jardim Gramacho, no subúrbio do Rio de Janeiro. Em 2015, "O Sal da Terra", de Wim Wenders e Juliano Salgado, também concorrera ao Oscar nessa categoria.
Foto: RealFiction Filmverleih
Candidato em 2020
O filme "Democracia em vertigem", da diretora brasileira Petra Costa, concorre à estatueta de melhor documentário ao lado de "Indústria americana", "The cave", "For Sama" e "Honeyland". O documentário brasileiro, incluído na lista dos melhores do ano do "New York Times", foi lançado em junho de 2019 pela Netflix. Ele aborda a ascensão e queda do PT e a polarização entre esquerda e direita no país.
Foto: Netlix/Divulgação
Melhor canção original
O primeiro brasileiro indicado ao Oscar foi no um dos grandes compositores de nossa música. Autor de "Aquarela do Brasil", Ary Barroso foi um dos finalistas ao prêmio pela canção "Rio de Janeiro", do filme "Brasil", em 1945. Mais de meio século depois, em 2012, Carlinhos Brown e Sergio Mendes (foto) garantiram mais uma indicação na categoria por "Real in Rio", parte da trilha da animação "Rio".
Foto: Andrew Southam
Melhor curta-metragem
O Brasil também emplacou duas indicações na categoria de melhor curta-metragem. Diretor de sucessos como "A era do gelo 2" e "Rio", o carioca Carlos Saldanha (foto) foi indicado, em 2002, pela animação "Gone nutty". "Uma história de futebol" garantiu uma indicação para Paulo Machline, em 2001. O curta recria passagens da infância de Pelé e de Zuza, seu companheiro de pelada na cidade de Bauru.