Brasil condena "ditador", EUA querem agir contra "capangas"
24 de fevereiro de 2019
Washington promete investir contra Maduro, não exclui ação armada. Brasília aponta "atentado a direitos humanos". Oposicionista Guaidó pede à comunidade internacional todas as medidas para "libertar" Venezuela.
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No impasse em torno do fornecimento de ajuda humanitária internacional à Venezuela, os Estados Unidos prometeram "adotar ações" depois que as tentativas de ingresso no país através da Colômbia redundaram em caos sangrento.
Condenando a violência dos que classificou como "capangas" do presidente Nicolás Maduro, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, prometeu que seu país agirá. O presidente Donald Trump afirmou que não descarta partir para a ação armada.
Por sua vez, o governo brasileiro expressou sua "condenação mais veemente" contra os "atos de violência" perpetrados pelo "regime ilegítimo do ditador Nicolás Maduro", que deixaram mortos e dezenas de feridos.
"O uso da força contra o povo venezuelano, que anseia por receber a ajuda humanitária internacional, caracteriza, de forma definitiva, o caráter criminoso do regime Maduro. Trata-se de um brutal atentado aos direitos humanos, que nenhum princípio do direito internacional remotamente justifica e diante do qual nenhuma nação pode calar-se", assinalou o Ministério das Relações Exteriores em comunicado.
"O Brasil apela à comunidade internacional, sobretudo aos países que ainda não reconheceram o presidente encarregado Juan Guaidó, a somarem-se ao esforço de libertação da Venezuela, reconhecendo o governo legítimo de Guaidó e exigindo que cesse a violência das forças do regime contra sua própria população", concluiu a primeira reação oficial do governo Jair Bolsonaro aos recentes incidentes nas fronteiras com o Brasil e a Colômbia.
O autoproclamado presidente interino, Juan Guaidó, apelou à comunidade internacional para que considere "todas as medidas para libertar" a Venezuela de Maduro. O oposicionista de 35 anos anunciou que participará do encontro do Grupo de Lima desta segunda-feira (25/02), na capital colombiana, Bogotá, reunindo sobretudo nações latino-americanas. O vice-presidente Mike Pence representará os EUA na ocasião.
A ajuda humanitária, em grande parte oriunda dos EUA, tornou-se o foco do impasse político entre Maduro e Guaidó, o líder da Assembleia Nacional que se declarou presidente interino há cerca de um mês.
Alegando tratar-se de um "cavalo de Troia" de Washington, o regime em Caracas reprimiu duramente neste sábado as tentativas de comboios para ingressarem no país, a partir da Colômbia e do Brasil, com carregamentos de assistência humanitária, com o apoio de Guaidó.
Houve confrontos entre manifestantes antichavistas e forças governamentais, que reforçaram bloqueios montados na fronteira colombiana, onde caminhões foram incendiados.
Devido às dificuldades e a violência, os oposicionistas liderados por Guaidó ordenaram o retorno dos veículos carregados aos centros de armazenamento. Maduro anunciou o rompimento de todas as relações com Bogotá, ordenando a retirada dos funcionários diplomáticos colombianos do país.
Segundo relatos da oposição, pelo menos três pessoas, uma delas de 14 anos, morreram durante confrontos com paramilitares chavistas. Na sexta-feira, dois manifestantes indígenas já haviam sido mortos por forças do regime na vila venezuelana de Kumarakapay. Os feridos, em parte por armas de fogo, são calculados em torno de 300.
Nos confrontos com os que protestavam nas fronteiras colombiana e brasileira, no decorrer do sábado, militares venezuelanos empregaram gás lacrimogêneo e balas de borracha. Alguns manifestantes atiraram coquetéis molotov contra um posto da Guarda Nacional Bolivariana.
O dia de tensão foi também marcado por deserções de mais de 60 militares venezuelanos, que buscaram refúgio na Colômbia, vários deles declarando apoio a Guaidó.
Maduro reprime tentativa da oposição de entrar no país com ajuda humanitária a partir da Colômbia e do Brasil. Confrontos entre manifestantes e militares deixam mortos e centenas de feridos em cidades fronteiriças.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/H. Matheus
Comboios de ajuda humanitária
A oposição liderada por Juan Guaidó com apoio dos governos brasileiro, colombiano e de outros países da região buscou reforçar a pressão sobre o regime de Nicolás Maduro com o envio de ajuda humanitária para a Venezuela a partir do Brasil e da Colômbia, mas a tentativa foi duramente reprimida pelo governo venezuelano ao longo do sábado (23/02).
Foto: Getty Images/AFP/N. Almeida
Fronteiras reforçadas
Maduro mandou fechar as fronteiras da Venezuela com o Brasil e com a Colômbia para impedir a entrada de ajuda humanitária, reforçando os bloqueios com militares das Forças Armadas venezuelanas instalados nas divisas. O líder chavista alega que o ingresso de ajuda não passa de um pretexto para os Estados Unidos promoverem um golpe de Estado no país.
Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Llano
Confrontos na fronteira brasileira
Na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, conflitos irromperam quando dois veículos carregados de ajuda humanitária foram impedidos de prosseguir. Militares do regime chegaram a lançar gás lacrimogêneo contra manifestantes opositores que estavam do lado brasileiro, enquanto estes atiraram coquetéis molotov contra soldados venezuelanos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/I. Valencia
Mortos e feridos
Choques na cidade fronteiriça de Santa Elena de Uairén, na divisa com Roraima, teriam deixado ainda ao menos quatro mortos, segundo informações de uma ONG e de um deputado venezuelano da oposição. Além disso, vários feridos foram levados para hospitais no Brasil, muitos com ferimentos a bala. Na véspera, outras duas pessoas já haviam sido mortas por forças do regime na região.
Foto: Reuters/R. Moraes
Choques na fronteira colombiana
Confrontos violentos também foram registrados na fronteira da Venezuela com a Colômbia. Na cidade venezuelana de Ureña, onde fica uma das pontes que conectam os dois países, tropas chavistas dispararam gás lacrimogêneo e balas de borracha contra manifestantes.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Llano
Veículos incendiados
Caminhões carregando ajuda humanitária também foram impedidos de entrar na Venezuela a partir da fronteira com a Colômbia. Na ponte Francisco de Paula Santander, que liga a cidade de Cúcuta a Ureña, pelo menos dois veículos foram incendiados. Manifestantes conseguiram salvar parte da carga. A oposição culpou membros de grupos paramilitares chavistas pelos incêndios.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Abd
Centenas de feridos
Na ponte Simón Bolívar, mais ao sul, também houve uma série de confrontos, com manifestantes atirando pedras e coquetéis molotov nos militares venezuelanos a partir do lado colombiano. Os choque ao longo de toda a fronteira entre a Colômbia e a Venezuela deixaram ao menos 285 feridos, sendo 255 cidadãos venezuelanos e 30 colombianos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Llano
Maduro em Caracas
Enquanto os confrontos eclodiam nas fronteiras, Maduro resolveu encenar uma demonstração de força na capital, Caracas. Em um discurso de mais de uma hora diante de uma multidão de apoiadores, ele lançou acusações contra os Estados Unidos, prometeu defender a Venezuela de intervenções estrangeiras e anunciou o rompimento das relações diplomáticas com a Colômbia.
Foto: Reuters/M. Quintero
Guaidó em Cúcuta
Por sua vez, o líder oposicionista Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente interino da Venezuela e foi reconhecido por 50 países, defendeu a entrada de ajuda humanitária em seu país e ajudou a organizar uma procissão de caminhões carregando mantimentos a partir da Colômbia. Após o fracasso das tentativas de furar os bloqueios militares, ele acusou Maduro de crime de lesa humanidade.
Foto: Reuters/M. Bello
Deserção de militares
O dia de tensões também foi marcado pela deserção de dezenas de militares venezuelanos. Segundo Bogotá, mais de 60 membros das Forças Armadas da Venezuela fugiram do país e buscaram refúgio na Colômbia ao longo do sábado. Entre eles há oficiais do Exército, da Marinha, da Guarda Nacional, da Polícia Nacional Bolivariana e das Forças Especiais.