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Brasil destina US$ 2,3 milhões para desenvolver agricultura na África

21 de fevereiro de 2012

Parceria com a FAO vai estimular agricultura familiar em cinco países africanos. Modelo do programa, que também ajuda pequenos produtores a vender cultivo através das Nações Unidas, é inspirado em receita brasileira.

Programa vai beneficiar famílias em cinco países africanosFoto: picture-alliance/Ton Koene

Sob comando de um brasileiro, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) acaba de receber um grande financiamento do governo do Brasil. Mais de 2,3 milhões de dólares irão custear o novo programa de estímulo à agricultura familiar em cinco países africanos. O acordo foi assinado nesta terça-feira (21/02) em Roma, sede da FAO.

Antes de ser eleito presidente da organização, José Graziano da Silva havia dito em conversa com a DW Brasil que pretendia levar à FAO a experiência brasileira de política alimentar. Oito meses depois de chegar ao cargo, o Brasil se transformou no primeiro doador da nova iniciativa na África.

Segundo a parceria, o dinheiro vai ajudar pequenos produtores rurais na Etiópia, Malauí, Moçambique, Níger e Senegal a aumentarem a capacidade de produção. O que for colhido no campo será então comprado pelo Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas (WFP) e distribuído em seus programa sociais.

"Iremos simultaneamente apoiar a pequena produção familiar em zonas onde esses agricultores são apenas autossuficientes para que aumentem sua produção e comecem a produzir excedentes e levem ao mercado com maior valor comercial" explicou Cristina Amaral, chefe do serviço de operações de emergência da FAO, em entrevista para a DW Brasil.

A atuação do WFP viria em seguida: "Depois, o Programa Mundial da Alimentação compraria os cereais e leguminosas para utilizá-los nos programas sociais, nas cantinas escolares e onde mais o órgao atua", completou Amaral.

Dos 2,3 milhões de dólares doados pelo Brasil, 1,55 milhão irá para a FAO: a organização financiará a compra de sementes e fertilizantes e trabalhará "o mais próximo possível" dos pequenos agricultores e associações. O restante será gerenciado pela WFP, que vai organizar a compra dos alimentos e entregá-los nas escolas e aos grupos mais vulneráveis.

Primeiro impulso

O programa começará a ser implantado já em março e terá duração de 18 meses. "O Brasil é a ponta de lança. Vamos continuar trabalhando com os países para ver se outros doadores se juntam a nós", disse Amaral sobre a continuidade da iniciativa.

Os cinco países africanos escolhidos manifestaram já em 2009 interesse em adaptar a experiência brasileira. Segundo a FAO, de nada adiantaria importar um modelo estrangeiro caso não houvesse motivação interna. A ideia é estimular os países da região a adotarem a estratégia como uma política nacional.

"Sabemos que, durante anos e anos, as ajudas alimentares, embora sejam extremamente necessárias quando há situações de emergência, acabam por criar dependência e prejudicam o mercado local", revelou Amaral. Segundo ela, quando o pequeno agricultor se depara com uma abundância de ajuda alimentar no mercado, ele perde o incentivo de continuar produzindo

"O que há de inovador nessa iniciativa é que os pequenos produtores, que também são pobres, serão beneficiados desse fluxo de ajuda alimentar, sendo eles os fornecedores desse programa de ajuda social", defendeu.

Modelo brasileiro

Não só o dinheiro que financia esse projeto vem do Brasil. Todo a estratégia por traz da ação dos dois órgãos da ONU foi buscar inspiração num dos pilares do brasileiro Fome Zero, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

A ferramenta foi criada em 2003 com objetivo de apoiar a comercialização dos produtos alimentícios da agricultura familiar. Segundo a lógica do PAA, o governo adquire alimentos dos agricultores familiares e doa parte para pessoas em risco alimentar.

"No Brasil, verificou-se que esse programa tem um impacto imediato na luta contra a pobreza. Porque muitos dos pobres nas zonas rurais são produtores que, se forem ajudados, podem dar um salto e sair da pobreza", disse Amaral, ao justificar a escolha do modelo.

Em 2011, as operações do PAA no Brasil chegaram a 451 milhões de reais: mais de 106 mil famílias foram beneficiadas, com destaque para compra de carnes, castanhas, grãos, pescados e sementes. Para o governo federal, essa é uma das estratégias que ajudaram 28 milhões de brasileiros a sair da pobreza absoluta e 36 milhões a entrar na classe média nos últimos anos.

Autora: Nádia Pontes
Revisão: Francis França

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