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Brasil deveria se tornar um pouco mais chinês, diz Deutsche Bank

Rolf Wenkel (ca)12 de julho de 2013

China e Brasil estão crescendo mais lentamente do que antes. Instituto de pesquisa do Deutsche Bank recomenda uma mudança de estratégia: a economia chinesa deveria se tornar mais brasileira, e a brasileira, mais chinesa.

Foto: picture-alliance/dpa

Em seu relatório atualizado sobre as perspectivas da economia mundial, Olivier Blanchard, economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), corrigiu novamente para baixo os prognósticos de crescimento da economia do planeta.

O crescimento no Japão e nos EUA é menor do que o esperado, a recessão na Europa é maior do que se pensava, e agora se constata também um ritmo mais lento de crescimento nos países emergentes, disse Blanchard na quarta-feira (10/07) em Washington.

Durante muitos anos, países emergentes como China e Brasil foram vistos com a esperança da economia mundial. Nas últimas três décadas, o crescimento médio anual da China foi de 10%, mas nos prognósticos para o próximo ano o país deverá crescer por volta de 7%.

E o Brasil, que em 2010 apresentou um crescimento anual de mais de 7%, viu o crescimento real de sua economia ser reduzido para 0,9% em 2012. Mesmo se o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) se recuperar neste ano para pouco mais de 3%, ainda assim ele seria inferior a 4%, a média da última década.

Para Markus Jaeger, economista do instituto de pesquisa Deutsche Bank Research, ambos os países poderiam estar em melhor situação se aprendessem um com o outro. Através do comportamento de poupança dos dois países, ele constatou as diferenças históricas e atuais das taxas de crescimento. Pois onde há muita poupança, afirma, os bancos podem emprestar muito dinheiro, e as empresas obtêm facilmente empréstimos para investimentos – e onde se poupa menos, há também menos dinheiro para investimentos.

"Na China, a taxa nacional de poupança gira em torno dos 50%. Isso significa que ali, a cada ano, metade do rendimento econômico é economizada", diz Jaeger.

Poupar é investir

Trata-se de um recorde mundial absoluto, que levou a China a um crescimento impulsionado fortemente por investimentos nas últimas décadas. No Brasil, essa cifra está por volta dos 18% – consequentemente há menos dinheiro à disposição para investimentos. No Brasil, o crescimento sempre foi orientado pelo consumo.

"À primeira vista, o modelo de crescimento brasileiro orientado pelo consumo parece ser antiquado", diz Jaeger. "Enquanto a estratégia de crescimento através de investimentos permite que a China continue a ter um alto crescimento econômico."

Supermercado no Brasil: o crescimento sempre foi orientado pelo consumo no paísFoto: MAURICIO LIMA/AFP/Getty Images

No entanto, diz o economista, levando em consideração as consequências sociais, econômicas e políticas, fica logo claro que a China também deve mudar sua estratégia de crescimento.

"Seria bom para o Brasil se tornar 'mais chinês' em termos de poupança e comportamento de investimentos, enquanto a China poderia se beneficiar de um comportamento 'brasileiro' no tocante a um consumo mais elevado", opina.

O volume de poupança das pessoas depende muito do sistema previdenciário. No Brasil, para particulares, os incentivos são limitados quanto à poupança voltada para os cuidados com a saúde e previdência. Os sistemas sociais e previdenciários do país criam antes incentivos para o consumo e menos para a poupança.

Na China, as famílias são confrontadas com o problema oposto: os sistemas de seguridade social são insuficientes.

Empréstimos mais baratos

No Brasil, o setor empresarial enfrenta custos muito elevados de capital devido à baixa poupança doméstica. Na China, por outro lado, as empresas têm acesso a empréstimos muito baratos. Nos últimos anos, a moeda brasileira esteve sobrevalorizada, o que limitou os estímulos a investimentos em setores voltados para a exportação.

Por outro lado, a moeda chinesa – pelo menos por algum tempo – estava desvalorizada, o que propiciou investimentos em indústrias de transformação orientadas para a exportação. "E a lista não acaba por aqui", diz Markus Jaeger.

Para o Brasil, ficar um pouco mais chinês significa tornar-se mais atraente para investidores. E a China, segundo Jaeger, deveria questionar sua estratégia de crescimento impulsionada por investimentos.

China teve um crescimento impulsionado fortemente por investimentos nas últimas décadas

"O crescimento de capital intensivo tem impactos ambientais cada vez mais negativos. O crescimento orientado pela exportação e investimentos faz também com que a economia fique vulnerável a choques externos", explica. "E, finalmente, a maior parte dos investimentos é de capital intensivo e proporciona baixa geração de emprego. Um crescimento focado mais em serviços e consumo criaria mais postos de trabalho."

No entanto, os conselhos do economista aos governos em Brasília e Pequim já se vêm tentando implementar há algum tempo. Após uma disputa desagradável com os EUA sobre os desequilíbrios comerciais, a China vem perseguindo uma política que visa a fortalecer a demanda interna. "Também o novo governo está se movendo nessa direção", constata o economista.

Ele admite, porém, que até agora quase não houve resultados. "Isso não quer dizer que a política econômica não tenha impactos sobre padrões de consumo e investimento, mas que tal política deve ser perseguida com mais vigor."

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