Cavernas suábias contendo arte figurativa de 40 mil anos e cais no Rio de Janeiro onde escravos africanos chegavam ao continente americano são escolhidos pela Unesco como novos Patrimônios da Humanidade.
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O comitê da Unesco declarou quatro novos sítios Patrimônio Mundial da Humanidade neste domingo (09/07). Entre eles estão seis cavernas da Era do Gelo no sul da Alemanha e um sítio arqueológico no Brasil.
Cais do Valongo
O Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, foi porto de desembarque de escravos trazidos da África. Os vestígios arqueológicos ali encontrados constituem importante evidência material da chegada dos africanos escravizados ao continente americano. A área em que se situa chegou a ser conhecida como Pequena África na virada para o século 20, devido à grande concentração de afrodescendentes.
Este é o 21º sítio brasileiro incluído na Lista do Patrimônio da Humanidade. A Unesco recomenda que o país adote ações especificas para a gestão do Cais do Valongo, com projetos paisagísticos, oferecendo aos visitantes uma visão holística sobre os vestígios arqueológicos.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores em Brasília, tais medidas "deverão ser implementadas pelos governos federal, estadual e municipal, em coordenação com a sociedade civil e as comunidades envolvidas".
Cavernas de Schwäbische Alb
As seis cavernas nos vales dos rios Ach e Lone, na região montanhosa de Schwäbische Alb, contam entre os sítios arqueológicos mais importantes existentes. Numa delas foi encontrada em 2008 a mais antiga representação conhecida da figura humana: a escultura "Vênus de Hohle Fels", com cerca de 40 mil anos de idade.
Iniciadas em 1860, as escavações nessas cavernas já revelaram numerosas representações figurativas, datando de até 43 mil atrás. Entre os motivos artísticos encontram-se mamutes, leões das cavernas, cavalos e instrumentos musicais, mas também corpos femininos e seres híbridos de homem e animal.
Segundo a Unesco, o sítio da Era do Gelo em torno da cidade de Blaubeuren, no estado de Baden-Württemberg, testemunha as mais antigas manifestações de arte figurativa em todo o mundo, fornecendo, assim, conhecimentos cruciais sobre a evolução da arte.
Na atual sessão, que vai de 2 a 12 de julho, em Cracóvia, o Comitê da Unesco também nomeou Patrimônio da Humanidade o sítio de Aphrodisias, na Turquia, e o English Lake District, no noroeste da Inglaterra.
AV/dpa,dw,ots
Obras de arte da era do gelo
Os mais antigos artefatos feitos por humanos, de 40 mil anos atrás, foram encontrados na Suábia, no sul da Alemanha. As seis cavernas onde objetos foram localizados são candidatas a patrimônio cultural da Unesco.
Foto: LAD, Y. Mühleis
A Vênus de Hohle Fels
Descoberta em 2008, a figura de Vênus da gruta de Hohle Fels data de 35 mil anos atrás. A mais antiga representação de figura humana é o mais conhecido dos 50 artefatos encontrados nas grutas da Suábia. Esculpida em marfim de mamute, a estatueta de 6 cm tem seios volumosos. Um pequeno aro substitui a cabeça, uma indicação de que a peça tenha sido usada como pingente.
Foto: Hilde Jensen, Universität Tübingen
A caverna Hohle Fels
Os arqueólogos encontraram a figura feminina nesta caverna. A maioria dos artefatos encontrados representa animais e remonta ao período aurignaciano (início do paleolítico superior) um tempo em que o neandertal e o homo sapiens viveram, em parte, lado a lado, e procuravam abrigo em cavernas. Já naquela época havia inúmeras grutas na região de Schwäbische Alb (montanhas da Suábia).
Foto: H. Parow-Souchon
O vale do rio Ach
Durante a era do gelo havia poucas florestas nesta região, coberta de estepes e habitada por mamutes e renas. Hoje em dia, a área, que tem mais de duas mil cavernas, é coberta por bosques. Seis das grutas onde aconteceram os achados espetaculares são candidatas a patrimônio cultural da humanidade. A candidatura foi oficializada no início do ano passado pelo estado alemão de Baden-Württemberg.
Foto: LAD, Chr. Steffen
Instrumento musical pré-histórico
O ser humano já fazia música há 40 mil anos. A prova são três flautas encontradas no abrigo rochoso Geißenklösterle, no sul da Alemanha, em 2009. A mais bonita delas, feita de marfim, pode ser vista junto com a Vênus no Museu da Pré-História da cidade alemã de Blaubeuren. O abrigo rochoso Geißenklösterle está bloqueado por uma cerca, mas, como não é muito profundo, pode ser visto a partir de fora.
Foto: Claus Rudolph, Urmu
Gruta Sirgensteinhöhle
A gruta Sirgensteinhöhle, de 42 m de comprimento, é aberta a visitantes e fecha só no inverno europeu, para a proteção dos morcegos que ali vivem. Os arqueólogos descobriram que o homem pré-histórico permanecia principalmente na entrada da caverna, onde fazia fogo, trabalhava e dormia. Há 500 anos, acreditava-se que na caverna havia vivido um monstruoso ciclope (gigante imortal com um só olho).
Foto: LAD, M. Steffen
Vale do rio Lone
As três outras grutas indicadas a patrimônio da humanidade ficam no vale do rio Lone, perto de Heidenheim. Elas se chamam Vogelherd, Hohlenstein Stadel e Bockstein. Da mesma forma como no vale do Ach, os sítios são área protegida. Não podem ser feitas alterações na área sem consentimento das autoridades de defesa do patrimônio. Sem essa garantia, a candidatura à Unesco não teria chance.
Foto: LAD, O. Braasch
A gruta Hohlenstein Stadel
As escavações nas cavernas da Suábia começaram no século 19. Os arqueólogos descobriram ali restos de fogueiras, armas, ferramentas e adornos feitos de pedra, chifre, marfim e osso. Em 1861, foram encontrados na gruta Hohlenstein 10 mil ossos de ursos. Apenas uma parte da caverna é aberta a visitantes.
Foto: Museum Ulm
Figura com traços humanos e de leão
A maior peça encontrada na gruta Hohlenstein Stadel é este artefato em marfim, de 31 cm de altura. Na foto, ele é visto de diferentes perspectivas. A peça, que faz parte do acervo do museu em Ulm, foi reconstruída quase completamente a partir de mais de 300 pedaços. Os arqueólogos não conseguiram identificar se se trata de homem ou mulher, por isso o chamam "Löwenmensch", "humano leão".
Foto: LAD, Y. Mühleis
Gruta Vogelherd
A localização da gruta Vogelherd era perfeita para o homem pré-histórico porque oferece uma ótima vista para o vale. Já se podia avistar os perigos de longe. Ou localizar a caça. Ali foram encontradas dez pequenas figuras de animais feitas de marfim de mamute. Um leão e uma figura de mamute podem ser vistos no parque temático arqueológico que fica junto à caverna.
Foto: LAD, Th. Beutelspacher
Cavalo selvagem
Uma figura de cavalo selvagem de cerca de cinco centímetros é considerada a principal peça encontrada na gruta Vogelherd. Seu pescoço curvado e as formas redondas e elegantes refletem a habilidade artesanal do homem pré-histórico. Ele está exposto no castelo de Tübingen, juntamente com outros achados das cavernas.
Foto: Hilde Jensen, Universität Tübingen
Gruta Bockstein
No rochedo Bockstein, no vale do Lone, há várias cavernas que podem ser acessadas. Os artefatos encontrados apontam que ali já moraram neandertais há mais de 60 mil anos. Em julho próximo, a Unesco vai decidir se "as cavernas com a mais antiga arte da era do gelo" virarão patrimônio cultural da humanidade.