Com mais desmatamento, país registrou 9% mais emissões de gases do efeito estufa em 2016, o que dificulta alcançar objetivos do Acordo de Paris. E isso apesar da recessão, que tende a jogar cifras para baixo.
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Em 2016, as emissões de gases de efeito estufa no Brasil saltaram de 2,091 para 2,278 bilhões de toneladas de carbono equivalente (tCO2e). Isso representa um aumento de 9%, atingindo o nível mais alto desde 2008, segundo divulgado pelo Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) nesta quarta-feira (25/10).
Os números colocam o país numa situação atípica. Atualmente, o Brasil é único país de grande porte que aumentou a carga de poluição enquanto a economia encolheu. O país atravessa a pior recessão de sua história, com retração de 3,6% no PIB em 2016. No ano anterior, o recuo havia sido de 3,8%. Até então, o padrão registrado era proporcional: as emissões subiam motivadas pelo aquecimento da economia.
O desempenho é anunciado às vésperas da Conferência do Clima (COP), que será realizada em novembro na cidade de Bonn, na Alemanha.
"Patinamos ao redor de 2 bilhões de toneladas por ano e agora saltamos para 2,2 bilhões", comentou André Ferretti, gerente de Estratégias de Conservação da Fundação Grupo Boticário e coordenador-geral do Observatório do Clima.
Segundo Ferreti, o país está se afastando da meta que prometeu cumprir em 2020, quando as emissões não poderiam ultrapassar 2,2 bilhões tCO2e – exatamente a marca de 2016. O receio é de que, quando o país voltar crescer, outros setores, como o de energia, devem adicionar mais algumas toneladas ao patamar atual.
Os pesquisadores do SEEG, uma iniciativa do Observatório do Clima que reúne 35 instituições, dizem que a alta do desmatamento no ano passado (27%) puxou as emissões. Na linguagem científica, o corte da floresta representa "mudança de uso da terra", item que registrou aumento de 23% em 2016 – o que corresponde a mais da metade de todos os gases estufa lançados em território brasileiro.
"O descontrole do desmatamento, em especial na Amazônia, nos levou a emitir, em 2016, 218 milhões de toneladas de CO2 a mais que em 2015", afirmou Ane Alencar, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Um cenário tido como grave: "O desmatamento é em sua maior parte ilegal e não se reflete no PIB do país", complementa.
Como parte do Acordo de Paris, o Brasil se comprometeu a acabar com o desmatamento ilegal até 2020, além de reflorestar 12 milhões de hectares em áreas degradadas. Uma meta que parece distante.
A atividade agropecuária, aclamada como motor econômico do país, registrou aumento de 1,7% nas emissões em ralação a 2015. Como ela está atrelada ao desmatamento, os pesquisadores somam as emissões diretas da atividade àquelas da mudança de uso da terra – o que resulta em 74% da carga de poluição brasileira.
No Congresso Nacional, os interesses do setor são defendidos pela forte bancada ruralista. "O presidente está fazendo tudo o que esses mais de 200 deputados pedem", criticou Carlos Rittl, diretor-executivo do Observatório do Clima."O pacote de benesses do presidente em troca da libertação das acusações de corrupção tem um impacto muito ruim na política ambiental."
Segundo o SEEG, só o setor do agronegócio brasileiro tem o mesmo peso do Japão no ranking global de emissões, em que o país asiático ocupa a oitava posição (1,6 bilhão tCO2e).
Por outro lado, a agropecuária tem potencial para liderar uma revolução rumo à economia de baixo carbono, aposta Tasso Azevedo, coordenador técnico do SEEG. "O nosso maior desafio no combate à mudança climática é também a nossa maior oportunidade", afirmou Azevedo. Se a atividade empregasse técnicas de baixa emissão – o que inclui o abandono do desmatamento –, os riscos de queimadas e secas cairiam significativamente, destaca Azevedo.
Para fazer os cálculos de estimativas de emissões, o SEEG usa a metodologia baseada nas diretrizes mais recentes do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), conforme publicado no seu quinto relatório (AR5), de 2013. O mesmo método foi usado para calcular a meta brasileira no Acordo de Paris. Criado no Brasil, o SEEG também é aplicado em cálculos no Peru e Índia.
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Os dez lugares mais poluídos do mundo
Segundo o relatório "Meio Ambiente Tóxico" publicado pela fundação suíça Green Cross, 200 milhões de pessoas em todo o mundo são confrontadas com a poluição ambiental. O relatório analisou onde é mais difícil viver.
Foto: Blacksmith Institute
Ameaça à vida
Cerca de 200 milhões de pessoas no mundo são diretamente confrontadas com a poluição do meio ambiente. Solo contaminado por metais pesados, lixo químico espalhado no ar, resíduos eletrônicos tóxicos nos rios. Estes são apenas exemplos citados pelo relatório da Fundação Green Cross.
Foto: picture alliance/JOKER
Depósito de lixo de Agbogbloshie, em Gana
Pilhas de discos de satélites e televisores quebrados compõem o cenário no segundo maior depósito de lixo da África Ocidental, que fica em Agbogbloshie, na cidade ganense de Acra. O relatório classificou o local como um dos mais poluídos do planeta. A queima de fios metálicos envoltos em plástico, a fim de recuperar o cobre, torna o lixo ainda mais perigoso, além de liberar chumbo na área.
Foto: Blacksmith Institute
Rio Citarum, na Indonésia
As águas do rio Citarum, na Indonésia, são mil vezes mais poluídas que água potável e contêm grandes quantidades de alumínio e ferro. Cerca de 2 mil fábricas usam o rio como fonte de água e despejam seus resíduos industriais nele. O Citarum ainda abastece milhões de pessoas nas regiões por onde passa.
Foto: Adek Berry/AFP/Getty Images
Centro industrial de Dzerzhinsk, na Rússia
Dzerzhinsk é um dos centros industriais químicos mais importantes do mundo. Entre 1930 e 1998, cerca de 300 mil toneladas de lixo químico não foram devidamente depositadas na área. Essas substâncias acabaram poluindo tanto o lençol freático quanto o ar. A expectativa de vida é de 47 anos entre as mulheres, enquanto entre os homens é de 42 anos.
Foto: Blacksmith Institute
Usina nuclear de Chernobil, na Ucrânia
Até hoje Chernobil é lembrada como o local do maior acidente nuclear da história. No dia 25 de abril de 1986, um incêndio e o derretimento nuclear produziram uma nuvem de radioatividade. Ninguém mais mora a menos de 30 quilômetros de distância da região do acidente. O solo na área da antiga usina ainda é contaminado e coloca em risco a produção de alimentos. Muitos moradores ficaram com leucemia.
Foto: Blacksmith Institute
Curtumes de Hazaribagh, em Bangladesh
Hazaribagh tem mais curtumes do que qualquer outro lugar de Bangladesh. A maioria dessas fábricas usa métodos antigos e ineficazes e acaba despejando cerca de 22 mil litros de resíduos tóxicos por dia no rio Buriganga, principal fonte de abastecimento de água de Dhaka. Muitos moradores sofrem de doenças de pele e das vias áreas causadas pelo material cancerígeno.
Foto: Blacksmith Institute
Minas de chumbo em Kabwe, na Zâmbia
Em Kabwe, a segunda maior cidade da Zâmbia, muitas crianças sofrem com elevados índices de chumbo no sangue. Durante um século, minas de chumbo liberaram metais pesados por meio de partículas de poeira que caíam no chão tanto na cidade quanto nos arredores.
Foto: Blacksmith Institute
Minas de ouro em Kalimantan, na Indonésia
Kalimantan pertence à parte indonésia da ilha do Bornéu e é particularmente conhecida por suas minas de ouro. Para obter o metal precioso, muitos mineiros usam mercúrio, liberando mais de mil toneladas de material tóxico no meio ambiente todo ano, poluindo os lençóis freáticos.
Cerca de 5 mil fábricas despejam esgoto nas águas do rio Matanza-Riachulo, na Argentina. Segundo o relatório da fundação Green Cross, produtores químicos são culpados por mais de um terço da poluição deste rio, que contém grandes quantidades de zinco, chumbo, cobre, níquel, além de outros metais pesados. A população da região sofre de problemas intestinais e nas vias aéreas.
Foto: Yanina Budkin/World Bank
Delta do rio Níger, na Nigéria
O Delta do rio Níger é uma área de alta densidade populacional, concentrando 8% de toda a população da Nigéria. O local sofre com poluição por petróleo e hidrocarbonetos, que contaminam o solo e os lençóis freáticos. Em média, o equivalente a 240 mil barris de petróleo atingem o delta por ano por conta de acidentes ambientais ou roubo da matéria-prima.
Foto: Terry Whalebone
Cidade industrial de Norilsk, na Rússia
Aproximadamente 500 toneladas de óxidos de cobre e de níquel, além de 2 milhões de toneladas de óxido de enxofre, são liberados na cidade industrial russa de Norilsk por ano. A poluição do ar é tão grande que a expectativa de vida dos trabalhadores das indústrias da cidade é dez vezes menor do que a média registrada na Rússia.