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Brasil está bem representado no Festival de Locarno

(sv)1 de agosto de 2002

Um documentário sobre Glauber Rocha em Cuba, feito por seu filho, Erik Rocha; o vídeo autobiográfico “33”, de Kiko Goifman, e a visão de dois cineastas italianos sobre os “Sem Terra” representam o Brasil na cidade suíça.

O brasileiro Kiko Goifman, diretor de "33", que compete em Locarno na categoria "vídeo"

Com uma oferta recorde de mais de 400 filmes, a pequena Locarno, na Suíça de língua italiana, abre nesta quinta-feira sua Piazza Grande para a sétima arte. Com competição em película e vídeo, três retrospectivas e várias mostras paralelas, a mostra assume sua posição de evento "A" na escala dos festivais. Isso significa maior financiamento e uma certa flexibilidade na escolha dos filmes em direção ao mainstream, pelo menos no que diz respeito à competição.

Mais da metade dos filmes que concorrem ao Leopardo de Ouro são este ano europeus, embora os ciclos Cineastas do Presente, Semana da Crítica e as mostras em vídeo abram um bom espaço para produções de outras regiões e nos mais diversos formatos. O videomaker e artista plástico brasileiro Arthur Omar é um dos jurados do festival.

Brasil – 33, de Kiko Goifman, rodado com uma câmera digital, marca a presença brasileira na mostra competitiva em vídeo. Em 74 minutos de imagens preto-e-branco e narração em primeira pessoa, o diretor registra os 33 dias de seu percurso em busca da sua mãe biológica. O antropólogo e videomaker foi adotado a 5 de agosto de 1968 em Belo Horizonte, mas sabe que nasceu três dias antes.

No documentário autobiográfico, Goifman revira o passado atrás de pistas que possam levar à descoberta de sua mãe. São entrevistadas pessoas que estiveram envolvidas no processo de adoção, como um médico, a babá, a mãe adotiva, a irmã e detetives particulares, que fazem com que "33" ganhe ares de filme noir.

Tributo a Glauber –

A Semana da Crítica traz Rocha que Voa, documentário rodado por Erik Rocha, filho de Glauber Rocha. O longa, que participa também do Festival de Veneza deste ano, tem no exílio de Glauber em Cuba, entre 1971 e 1972, seu fio condutor. Erik, o filho, sai em busca dos passos do pai, que realizou em Cuba "Histórias do Brasil" e procurou estabelecer uma ponte entre o Cinema Novo e o Cine Revolucionário Cubano.

Erik tinha apenas três anos quando Glauber morreu, em 1981. Logo, seu filme não tem traços de memória concreta, explícita. Rocha que Voa é mais uma tentativa de reconstrução emocional da trajetória de Glauber em Cuba. Erik abdica, assim como o pai, da narrativa tradicional, desenvolvendo sua própria linguagem. Com algumas seqüências em sépia, o documentário utiliza imagens, em parte inéditas, feitas por Glauber, ao lado de depoimentos de seus amigos de então.

Sem Terra –

No ciclo Cineastas do Presente, Locarno traz ainda este ano Sem Terra, dos italianos Pasquale Scimeca e Roberto Torelli. Os diretores documentam a passagem por Porto Alegre, durante o último Fórum Social Mundial, e o encontro com representantes do Movimento Sem Terra.

Alemanha

Dois longas alemães participam da mostra competitiva. O Anseio (Das Verlangen), de Iain Dilthey, descreve, com uma distância que lembra Brecht, a monótona existência de uma mulher ao lado de seu marido autoritário, vivendo em uma pequena aldeia. Sophiiiiie!, de Michael Hofmann, retrata as desventuras de uma jovem em Hamburgo.

Da competição em vídeo, participa o alemão Kafka Vai ao Cinema (Kafka geht ins Kino), de Hans Zischler. O diretor, que já trabalhou como ator em filmes de Wim Wenders, Chabrol e Godard, abre seu longa com duas visitas. A primeira à biblioteca Bodleian, em Oxford, que guarda a maior parte das correspondências de Kafka e a segunda à Cinemateca Francesa, onde os primórdios do cinema são meticulosamente preservados. Na sessão Cineastas do Presente, Thomas Schadt mostra seu remake do clássico Berlim, Sinfonia da Metrópole (1927).