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Brasil está novamente diante da tempestade perfeita

Thomas Milz
Thomas Milz
10 de março de 2021

Com a pandemia acelerando dramaticamente, a economia se desfazendo cada vez mais rápido e um governo cada dia mais desnorteado, só faltava o Brasil voltar às trincheiras de 2018. Agora, com o retorno de Lula, aconteceu.

Bolsonaro com boneco de Lula na campanha de 2018: para colunista, Brasil está de volta às trincheirasFoto: Reuters/A. Machado

Há momentos em que os acontecimentos confluem de forma estranha, numa simultaneidade capaz de tirar o fôlego. A virada do ano de 2015 para 2016 foi assim: Eduardo Cunha abriu um processo de impeachment contra a então presidente em um Brasil ainda em choque pelo desastre em Mariana. Ao mesmo tempo, a economia brasileira despencava 3,8%, e grande parte do público, chocado com as incríveis revelações da Lava Jato, de repente se dava conta de que Dilma Rousseff cairia e que o ex-presidente Lula acabaria nas garras da Justiça. O Brasil estava sendo atingido, dizia-se na época, pela "tempestade perfeita".

A situação atual não é muito diferente. Ela é ainda mais ameaçadora do que em 2016. Depois de um 2020 difícil para muitos, acreditava-se que 2021 só poderia melhorar. Mas aqueles exaustos após um ano de pandemia assistem a novos e cada vez mais assustadores registros de mortes e infecções a cada dia. Passaram-se apenas dois meses, mas não aguentamos mais 2021.

Com a crise de oxigênio em Manaus em janeiro e o atual desastre na aquisição de vacinas, a sensação atualmente é de que a batalha contra o coronavírus está sendo perdida. O governo, que parece ser formado por rebeldes malcriados, já nem sequer se dá o trabalho de ao menos fingir que toma medidas significativas.

Onde está o ministro da Educação para ficar ao lado dos pais exaustos após um ano de aulas à distância? Será que ele existe mesmo? E onde está o ministro da Saúde, suposto gênio da logística, que confunde Amazonas e Amapá ao enviar doses de vacinas? O que seus colegas militares acham de seu desastrado trabalho? E onde está o ministro da Economia, Paulo Guedes, para apoiar a economia em queda e finalmente montar um novo pacote de "auxílio emergencial"? Por que ele, decepcionado , simplesmente não desiste?

Pelo menos sabemos onde estão o filho do presidente e quase embaixador Eduardo Bolsonaro e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo: ambos foram para Israel atrás um milagroso spray nasal para o coronavírus. Existe um único adulto são neste governo? Nesse meio tempo, deve-se estar satisfeito com o fato de os profissionais do Centrão estarem assumindo o comando. Tempos estranhos!

Tudo isso seria suficiente para outra tempestade perfeita. Mas não só o Supremo agora finalmente desmantelou a Lava Jato e com ela, como dano colateral, a luta contra a corrupção, mas também catapultou Lula de volta para o cenário político. E assim o Brasil volta à polarização política de 2018.

Uma campanha eleitoral iminente entre dois populistas, que se arrastará por um ano e meio, só mergulhará o Brasil mais profundamente no caos. Bolsonaro vai tirar o "Kit Gay" da gaveta novamente e procurar conquistar os eleitores de Lula com programas sociais generosos. Em vez de enfrentar as reformas tão necessárias, o Brasil corre o risco de deslizar cada vez mais rapidamente para a espiral descendente.

A polarização entre Bolsonaro e Lula não deixa espaço para alternativas. Os dois presumivelmente sabem disso – e devem gostar. Em um só golpe Bolsonaro se livra de todos os possíveis candidatos do centro que poderiam ameaçá-lo, sobretudo João Doria e Eduardo Leite. E na centro-esquerda de repente não há mais espaço para uma candidatura de Ciro Gomes, que poderia unir o espectro de esquerda e partes do centro moderado.

Por último, o próprio PT: Fernando Haddad, que provavelmente esperava que, ao contrário de 2018, ele finalmente tivesse tempo suficiente para construir sua candidatura para 2022, também foi tirado do caminho pela possível candidatura de Lula. Resta apenas uma esperança para evitar a tempestade perfeita: Lula abandonar a candidatura em 2022 em favor de um candidato moderado, capaz de unir a oposição e mandar a turma caótica do presidente Bolsonaro para casa.

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Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como o Bayerischer Rundfunk, a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.

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Realpolitik

Depois de uma década em São Paulo, Thomas Milz mudou-se para o Rio de Janeiro, de onde escreve sobre a política brasileira sob a perspectiva de um alemão especializado em Ciências Políticas e História da América Latina.