1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Brasil falha na aplicação de leis ambientais, diz ONU

24 de janeiro de 2019

Apesar de ter sido um dos primeiros no mundo a fortalecer legislação ambiental, país falha na hora de punir infratores. Dificuldade em frear mortes de ambientalistas é apontada como um dos principais desafios.

Área desmatada na Amazônia
Desmatamento na Amazônia: ONU manifesta preocupação com retrocessos na proteção ambiental no Brasil no mundoFoto: Reuters/U. Marcelino

Na história da evolução das leis ambientais no mundo, o Brasil ganha um papel de destaque: poucos países têm uma legislação tão ampla quanto a brasileira. Já em 1988, a Constituição dedicava um capítulo todo ao meio ambiente, dando ao poder público a tarefa de garantir a preservação para as gerações atual e futuras.

Embora reconheça esse feito do Brasil, um estudo global lançado nesta quinta-feira (24/01) pelas Nações Unidas chama também atenção para falhas na aplicação da legislação. "A implementação das leis ainda é fraca", diz Carl Bruch, um dos autores do Relatório sobre o Estado do Direito Ambiental, da ONU Meio Ambiente.

Entre os sinais mais alarmantes da falta de rigor no cumprimento das leis ambientais no país, Bruch ressalta o número de assassinatos de ativistas. De 2000 a 2015, o relatório aponta que 527 ambientalistas foram mortos no Brasil. Honduras e Filipinas são os próximos do ranking, com 129 e 115 assassinatos, respectivamente.

"É claro que esses crimes geralmente não são praticados pelo governo", afirma Bruch. "O que impressiona é que o Brasil não tem sido capaz de frear e punir esses ataques com rigor", adiciona.

Indícios de retrocesso quanto à proteção ambiental também são cercados de preocupação. "É uma ameaça não apenas no Brasil, mas em todo o mundo", comenta Arnold Kreilhuber, da divisão jurídica da ONU Meio Ambiente, em entrevista à DW Brasil.

Leis específicas e participação da sociedade

Segundo o relatório, as últimas três décadas foram marcadas por um crescimento de leis ambientais no mundo. Atualmente, 176 países têm alguma legislação na área – em 1972, apenas Noruega, Suíça e Estados Unidos compunham a lista.

"Essas leis são essenciais para o desenvolvimento sustentável. Se não passarmos a implementar de fato a legislação ambiental, não faremos a transição para esse novo mundo sustentável de que tanto precisamos, de baixo carbono, que cria novas vagas de emprego, é mais saudável para milhões de pessoas no mundo", justifica Kreilhuber.

A participação da sociedade civil organizada é fundamental para o desenvolvimento sustentável e a preservação ambiental, conclui o estudo. Esse papel começou a ganhar notoriedade após a Rio 92, conferência sediada no Rio de Janeiro que estimulou a criação de leis, de ministérios e agências dedicadas ao meio ambiente.

"Foi no Rio que estabelecemos que era importante focar a informação, participação, transparência e justiça ambiental. E a sociedade civil ajuda muito, pois as organizações são capazes de identificar violações que o governo não consegue, pois estão mais próximas daqueles que enfrentam o risco ambiental e as injustiças", ressalta Bruch.

No Brasil, muitas das denúncias de violações são levadas ao Ministério Público. Entre os anos 1990 e 2000, mais de 3 mil processos dessa natureza foram abertos só no estado de São Paulo. A participação de organizações na criação de leis também é descrita como positiva no relatório – a que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Lei n° 9985/00) foi proposta por uma ONG.

Exemplo no Amazonas

Atuando há 22 anos na Vara Especializada do Meio Ambiente e Questões Agrárias no estado do Amazonas, o juiz Adalberto Carim Antônio tem levado para fora do país suas experiências de punição aos criminosos.

Entre os casos de destaque está o de um ex-caçador ilegal de peixe-boi. Depois de cumprir uma pena alternativa num instituto de pesquisa, em que tinha que dar mamadeira aos filhotes de peixe-boi, o infrator se converteu num defensor ambiental. 

"Nós acreditamos na aplicação severa da lei, na educação e ressocialização ambiental", diz Carim Antônio em entrevista à DW Brasil. Mais de 2 mil infratores já passaram pelas oficinas de ressocialização ambiental criadas pela Vara, com taxa de reincidência zero.

"Temos uma das melhores legislações do mundo, mas a implementação é muito falha. Aqui no nosso estado, que é maior que muitos países europeus, a polícia ambiental foi enfraquecida, a Secretaria do Meio Ambiente tem pouco poder pra fazer as coisas", afirma.

Para lidar com o crime ambiental – que ganhou proporções enormes e passou a ser organizado –, é preciso endurecer a aplicação das leis, e não enfraquecê-las, avalia o juiz.

"Há setores que pensam que, mexendo no licenciamento ambiental, por exemplo, irão facilitar a produção e reduzir despesas. Na verdade, a gente tem que compatibilizar o crescimento com a proteção ambiental. E isso não é uma mensagem de agora, mas de década de 1980", pontua Carim Antônio.

Ele lembra que o Brasil foi o primeiro país na América do Sul a ter uma política nacional do meio ambiente, estabelecida pela lei 6.938 de 1981, em plena ditadura militar.

______________

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube 

WhatsApp | App | Instagram | Newsletter

Pular a seção Mais sobre este assunto