Governo dedica Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul a escritor austríaco morto no exílio em Petrópolis há 75 anos. Condecoração é a mais alta comenda brasileira atribuída a personalidades estrangeiras.
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O governo brasileiro homenageou postumamente o escritor austríaco Stefan Zweig com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, maior condecoração do país concedida a estrangeiros. A comanda foi entregue nesta segunda-feira (18/12) à embaixadora da Áustria no Brasil, Irene Giner-Reichl, pelo ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes.
A homenagem ao autor de Brasil, país do futuro ocorre 75 anos depois da morte dele. O escritor cometeu suicídio em 1942, junto com sua mulher, a inglesa Lotte, na casa em que moravam em Petrópolis, no estado do Rio.
A construção onde o austríaco morou em seus últimos cinco meses de vida com sua segunda mulher, situada em uma encosta, hoje abriga a Casa Stefan Zweig, um pequeno museu e memorial dedicado ao escritor.
"Nosso objetivo principal é tornar as ideias humanistas e pacifistas do escritor austríaco, seu trabalho e sua vida, conhecidos da geração mais jovem", explica a diretora da instituição, Kristina Michahelles.
Na madrugada de 22 para 23 de fevereiro de 1942, Stefan Zweig e sua esposa Lotte deram fim a suas vidas através de um pacto de morte, tomando uma overdose de barbitúricos. Na carta de despedida, o escritor declarou que tinha o dever de "agradecer profundamente a este maravilhoso país, o Brasil, por ter dado a mim e ao meu trabalho uma acolhida tão boa e hospitaleira".
Nascido em Viena em 1881, Zweig se tornou um dos autores de língua alemã mais lidos desde a década de 1920. Fugindo do nazismo, o escritor austríaco, descendente de judeus, primeiramente encontrou refúgio na Inglaterra e depois no Brasil.
Mesmo acreditando que este seria o "país do futuro", seu amor à pátria foi mais forte, o levou à depressão e, fatalmente, à morte. Sua obra literária é de extrema sensibilidade e melancolia, retratando principalmente a Velha Europa, da Viena imperial e dos últimos dias da dinastia de Habsburgo.
Zweig é autor de Amok, Carta de uma desconhecida, Confusão dos sentimentos, Xadrez e Brasil, país do futuro. Nesta obra, o escritor expressa sua admiração pelo país que o acolheu, mencionando a sua riqueza natural e o potencial de crescimento. Chegou mesmo a afirmar que, se houvesse um paraíso, teria de ser no Brasil.
Zweig também ficou conhecido por suas biografias, em que criou retratos de personalidades com textos emocionantes, cheios de meticulosidade e profundidade psicológica, como os sobre Balzac, Dickens, Dostoiévski e Maria Antonieta.
A Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul foi criada em 1822 pelo imperador Pedro 1°, com o nome de Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul. Entre as personalidades que já a receberam estão a rainha Elizabeth 2ª, o presidente dos EUA Dwight D. Eisenhower e Che Guevara. Os homenageados são definidos por um conselho integrado, entre outros, pelo presidente da República e pelos ministros das Relações Exteriores e da Defesa.
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Literatura alemã do papel para as telas
Adaptações cinematográficas da literatura são tão velhas como a sétima arte, mas poucas fazem jus ao original. As sete produções selecionadas, baseadas em obras alemãs, são exceção a essa regra.
Foto: imago/Unimedia Images
Nada de novo no front
Um extraordinário exemplo de adaptação literária bem-sucedida, nos primórdios do cinema, é "Nada de novo no front", de 1930. Ao levar às telas o romance antibélico de Erich Maria Remarque, o americano Lewis Milestone confrontou o público com os horrores do front ocidental na Primeira Guerra Mundial. Na Alemanha, os nacionalistas cuidaram para que o filme tivesse exibição muito restrita.
Foto: picture-alliance/dpa
Morte em Veneza
Em 1971, o diretor italiano Luchino Visconti surpreendeu os meios cinematográficos e literários com uma adaptação sensível e empática. Substituindo o escritor original por um compositor e sublinhado com a música de Gustav Mahler, "Morte em Veneza" traduz fielmente o tom narrativo de Thomas Mann. O clássico estrelado por Dirk Bogarde é reflexivo e melancólico – e também incrivelmente belo.
Foto: picture-alliance/akg-images
A honra perdida de Katharina Blum
Em 1975, dois anos antes de o terrorismo da RAF dominar a política nacional, no "Outono Alemão", Volker Schlöndorff levou às telas, juntamente com Margarethe von Trotta, "A honra perdida de Katharina Blum", de Heinrich Böll. O romance, lançado apenas um ano antes, descreve com grande precisão o clima e o debate sobre liberdade de imprensa na Alemanha Ocidental da época.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
Perfume: A história de um assassino
Após mais de 20 anos de espera, chegou às salas de exibição em 2006 a filmagem de um dos romances alemães mais vendidos de todos os tempos: "Perfume: A história de um assassino". O cineasta Tom Tykwer traduz a morbidamente detalhada narrativa de Patrick Süskind em imagens opulentas, com o britânico Ben Whishaw no lacônico papel principal, ao lado de Karoline Herfurth.
Foto: picture-alliance/dpa
O leitor
É bastante raro um best-seller também resultar numa boa produção cinematográfica, sobretudo se o romance original trata de um tema difícil. Em "O leitor", Bernhard Schlink aborda as consequências do nacional-socialismo. A versão cinematográfica de Stephen Daldry, de 2008, convence, acima de tudo, pelo excelente elenco, encabeçado por Kate Winslet e David Kross.
Foto: Studio Babelsberg AG
Ele está de volta
O romance de Tim Vermes ousa fazer humor com um tema extremamente delicado: décadas após o fim da 2ª Guerra, ninguém menos do que Adolf Hitler acorda e se espanta – e também se maravilha – com o que foi feito da "sua" Alemanha. Em 2015, David Wnendt filmou "Ele está de volta", interpolando entrevistas reais e dando-lhe um tom de "mockumentary" grotesco. Hitler é interpretado por Oliver Masucci.
Foto: picture-alliance/dpa/Constantin Film Verleih GmbH
In Zeiten des abnehmenden Lichts
A versão filmada de "In Zeiten des abnehmenden Lichts" (literalmente: Em tempos de luz minguante), de Eugen Ruge, estreou na Berlinale em 2017. O diretor Matti Geschonneck lança um olhar satírico sobre os últimos estertores do regime socialista da Alemanha Oriental, colocando acentos diferentes dos do autor literário. O resultado, estrelado por Bruno Ganz, é cômico com profundidade trágica.