Brasil indica "Marte Um" para concorrer a vaga no Oscar 2023
5 de setembro de 2022
Primeiro longa de Gabriel Martins é o escolhido do Brasil para tentar vaga na categoria de melhor filme estrangeiro. Obra conta a história de uma família negra em Contagem, com governo Bolsonaro como pano de fundo.
Anúncio
A Academia Brasileira de Cinema anunciou nesta segunda-feira (05/09) o filme Marte Um, do diretor Gabriel Martins, como o indicado pelo Brasil para disputar uma vaga na categoria de melhor filme internacional do Oscar 2023.
O filme conta a história de uma família negra da periferia de Contagem, em Minas Gerais. O jovem Deivinho (Cícero Lucas) tem o sonho de viajar para Marte, apesar de o pai, o porteiro Wellington (Carlos Francisco), sonhar que ele vire jogador de futebol. A mãe, a diarista Tércia (Rejane Faria), começa a sofrer crises de ansiedade. Enquanto isso, a filha Eunice (Camila Damião) se descobre apaixonada por uma amiga.
A narrativa começa em torno das eleições de 2018, quando o Brasil elege um presidente de extrema direita, e tem como pano de fundo os anos do governo de Jair Bolsonaro. O drama mostra as lutas e os problemas vividos pelo casal, assim como as descobertas de Deivid e sua irmã Eunice.
O filme marca a estreia de Gabriel Martins na direção, um jovem negro associado à produtora Filmes de Plástico, de Minas Gerais.
Foram 28 longas-metragens brasileiros inscritos para concorrer à indicação. A eleição, promovida pelo comitê presidido por Bárbara Cariry, foi realizada em dois turnos.
Após a primeira rodada, seis filmes foram selecionados, dentre os quais Marte Um foi o escolhido para representar o Brasil.
O filme concorrerá a uma vaga para ser um dos cinco longas-metragens que disputarão o Oscar de melhor filme estrangeiro.
A cerimônia de entrega está marcada para o dia 12 de março. A última vez em que uma produção brasileira esteve entre os finalistas foi com o filme Central do Brasil, de Walter Salles, em 1999.
rc (ots)
A história do Brasil no Oscar
O Brasil concorreu em 2020 com "Democracia em vertigem" como melhor documentário. Apesar de nunca ter levado o prêmio, país já teve obras indicadas à estatueta em várias categorias. Veja a trajetória do Brasil no Oscar.
Foto: imago/United Archives
"Orfeu negro"
Em 1960, "Orfeu negro", uma coprodução entre Brasil, França e Itália, ganhou a estatueta de melhor filme estrangeiro. Por representar a França, este país acabou levando os louros. Mas é o único de língua portuguesa a ganhar o Oscar.
Candidatos a melhor filme estrangeiro
Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, "O pagador de promessas", de Anselmo Duarte, garantiu a primeira indicação para o Brasil em 1962. Mais de 30 anos depois, em 1995, a história real de dois casais de imigrantes italianos vivendo sob o mesmo teto rendeu uma indicação a "O quatrilho", de Fabio Barreto. Em 1997, Barreto (foto) voltou a ser indicado na categoria, por "O que é isso companheiro?".
Foto: picture-alliance/dpa
Os pré-selecionados
Anualmente, uma comissão do Ministério da Cultura escolhe um filme brasileiro para representar o país no Oscar. Desde 1954, com a seleção de "O cangaceiro", de Lima Barreto, mais de 45 títulos foram escolhidos, mas apenas quatro ficaram entre os finalistas. Em 2014, "Hoje eu quero voltar sozinho" (foto), de Daniel Ribeiro, representou o país, mas não conseguiu uma indicação.
Foto: D. Ribeiro
Melhor filme
Esnobado na categoria de filme estrangeiro, "O beijo da mulher aranha", coprodução com os Estados Unidos, foi o primeiro longa latino-americano a ser indicado como melhor filme. A amizade entre um preso político (Raul Julia) e um homossexual (Will Hurt) em um presídio brasileiro também rendeu indicações de melhor roteiro adaptado e melhor diretor (Hector Babenco). Hurt venceu como melhor ator.
Foto: 2015 ICRA LLC
"Central do Brasil"
Depois de levar o Urso de Ouro na Berlinale, "Central do Brasil", de Walter Salles, partiu para uma triunfante carreira internacional. Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 1999, o drama sobre a amizade de um menino abandonado e uma mulher desiludida de meia-idade levou também a indicação inédita de melhor atriz para Fernanda Montenegro. Mas nenhum dos dois prêmios foi para o Brasil.
Foto: picture-alliance/dpa/Buena_vista
Melhor direção
Apesar do sucesso comercial no exterior, "Cidade de Deus" foi esnobado ao prêmio de filme estrangeiro em 2004. Mas o frenético retrato do crescimento do crime organizado na favela carioca teve indicações a melhor roteiro adaptado, melhor edição e melhor fotografia. Fernando Meirelles também foi indicado como melhor diretor, mas quem levou a estatueta foi Peter Jackson, por "O Senhor dos Anéis".
Foto: imago/United Archives
Melhor documentário
"Lixo Extraordinário" foi indicado a melhor documentário em 2011. O filme acompanha o artista plástico Vik Muniz (foto) em um projeto com catadores de lixo no aterro do Jardim Gramacho, no subúrbio do Rio de Janeiro. Em 2015, "O Sal da Terra", de Wim Wenders e Juliano Salgado, também concorrera ao Oscar nessa categoria.
Foto: RealFiction Filmverleih
Candidato em 2020
O filme "Democracia em vertigem", da diretora brasileira Petra Costa, concorre à estatueta de melhor documentário ao lado de "Indústria americana", "The cave", "For Sama" e "Honeyland". O documentário brasileiro, incluído na lista dos melhores do ano do "New York Times", foi lançado em junho de 2019 pela Netflix. Ele aborda a ascensão e queda do PT e a polarização entre esquerda e direita no país.
Foto: Netlix/Divulgação
Melhor canção original
O primeiro brasileiro indicado ao Oscar foi no um dos grandes compositores de nossa música. Autor de "Aquarela do Brasil", Ary Barroso foi um dos finalistas ao prêmio pela canção "Rio de Janeiro", do filme "Brasil", em 1945. Mais de meio século depois, em 2012, Carlinhos Brown e Sergio Mendes (foto) garantiram mais uma indicação na categoria por "Real in Rio", parte da trilha da animação "Rio".
Foto: Andrew Southam
Melhor curta-metragem
O Brasil também emplacou duas indicações na categoria de melhor curta-metragem. Diretor de sucessos como "A era do gelo 2" e "Rio", o carioca Carlos Saldanha (foto) foi indicado, em 2002, pela animação "Gone nutty". "Uma história de futebol" garantiu uma indicação para Paulo Machline, em 2001. O curta recria passagens da infância de Pelé e de Zuza, seu companheiro de pelada na cidade de Bauru.