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"Brasil levará 5 anos para voltar a ser 7ª economia mundial"

Fernando Caulyt
2 de junho de 2017

Apesar da alta de 1% do PIB, é cedo para dizer que o país superou a recessão, afirma o economista Marcos Troyjo. Em entrevista, ele diz que retomada de confiança dependerá do resultado da eleição presidencial de 2018.

Porto no Rio de Janeiro
Crescimento econômico no primeiro trimestre de 2017 foi registrado após oito trimestres de recuoFoto: picture-alliance/dpa

Após dois anos de queda, a economia brasileira registrou alta de 1% no primeiro trimestre de 2017, em relação aos três últimos meses do ano passado, afirmou o IBGE nesta quinta-feira (01/06). O presidente Michel Temer comemorou o resultado como o fim da recessão.

Tecnicamente, ao deixar de registrar dois trimestres seguidos de recuo, a economia brasileira saiu da recessão. O economista Marcos Troyjo, diretor do BricLab da Universidade de Columbia, nos EUA, afirma, no entanto, que ainda é cedo para dizer que a crise econômica acabou.

"A incerteza na esfera política ainda ameaça uma recuperação plena. Uma suposta lua de mel entre o Brasil e os agentes econômicos foi impactada pelo caso JBS", diz e entrevista à DW Brasil.

DW Brasil: O país deixou a recessão para trás?

Marcos Troyjo: Ainda não. É claro que, nos últimos seis meses, passou a sobressair nos formadores de opinião e agentes econômicos um sentimento de "virada de jogo" para o Brasil e de que 2017 seria o ano do "fim da crise". Ainda que tímida, eu diria mesmo que ganhava corpo a chance de um novo caso de amor entre o Brasil e os mercados. Desta vez, os mercados escolheram identificar na predisposição a realizar reformas o "marco zero" para um novo romance com o Brasil.

Nessa linha, a inegável capacidade de construir maiorias no Congresso, de que o governo Temer dispunha até há pouco tempo, e a adoção de muitos dos pressupostos presentes no documento "Ponte para o Futuro" somaram-se a outros fatores – todos convergentes a sugerir uma nova lua de mel entre país e agentes econômicos. Tudo isso, no entanto, foi impactado pelo recente caso JBS. Inflação, gestão macroeconômica, governança das estatais – tudo isso melhorou, mas a incerteza na esfera política ainda ameaça uma recuperação mais plena.

Troyjo: "Inovação é o único caminho viável para o Brasil voltar a posições de destaque na economia global"Foto: Alcir N. Silva

DW: Esse crescimento econômico é pontual ou marca uma tendência sustentável?

MT: Isso vai depender tanto das condições globais quanto da situação interna. No mundo, as forças desglobalizadoras no comércio e na interdependência – a exemplo do America First de Trump e do Brexit – dão ao Brasil tempo para reajustar sua estratégia de inserção internacional.

A normalização monetária nas economias desenvolvidas é mais gradual e suave do que se previa, e seus efeitos são marginais ante o potencial de direcionamento da abundante liquidez internacional a países como o Brasil, seja em alocações de curto prazo ou a projetos de infraestrutura.

Puxado por novas demandas do Sudeste Asiático, com a emergência econômica do entorno chinês e o eventual renascimento da infraestrutura nos EUA desejado pela Trumponomics, o valor das commodities agrícolas e minerais, no qual o Brasil apresenta vantagens comparativas, está em recuperação. Assim, todos os preparativos para uma nova fase de crescimento para o Brasil são estritamente internos. Eles dependem, no limite, de que, até 1° de janeiro de 2019, com ou sem Temer, não se desperdice tempo para o encaminhamento das reformas previdenciária e trabalhista.

DW: A crise política poderá fazer com que a economia volte a recuar no segundo trimestre?

MT: Isso vai depender de como os efeitos do caso JBS e de outras dinâmicas na área político-jurídica serão sentidos nos próximos trimestres. Eles não podem oxidar maiorias parlamentares pró-reformas. No mesmo quadro, a intocabilidade de rumos e mesmo equipes do ministério da Fazenda e Banco Central, bem como a linha das atuais administrações de Petrobras, Eletrobras e BNDES, são fundamentais. Num quadro de tempo para além desse segundo trimestre, é chave que em outubro de 2018 o país eleja um presidente pró-mercado, reproduzindo, em escala ampliada, não apenas a ojeriza à política tradicional, mas sobretudo o sentimento antiestatizante percebido nos pleitos municipais de 2016.

DW: A alta da economia poderá conter um pouco a crise política e fazer com que Temer pelo menos ganhe tempo?

MT: Essa chance existe. E muitas forças políticas gostariam de ver o cumprimento da agenda parlamentar das reformas, algumas delas impopulares dada a má capacidade de comunicação do governo Temer. Assim, a continuidade da atual administração federal serve mesmo àqueles que fazem nominalmente oposição a Temer. Quem quer que venha assumir o comando do Brasil a partir de 1° de janeiro de 2019 terá uma tarefa menos árdua e, portanto, não precisará gastar tanta energia e capital político, se muito do ajuste fiscal e das reformas estruturais tiverem avançado durante a presidência Temer.

DW: Quando o crescimento econômico deverá começar a refletir na diminuição da elevada taxa de desemprego?

MT: Já sentiremos nos próximos meses algum reflexo positivo no aumento de postos de trabalho pelo simples fato de o país ter deixado de piorar macroeconomicamente. Há, no entanto, a questão da retomada da confiança, sobretudo por parte do empresariado e do consumidor, a qual vinha melhorando, mas que também foi impactada pela fase de incerteza inaugurada com a delação da JBS. Acredito que uma recuperação da confiança mais vigorosa virá apenas com o resultado do pleito presidencial no ano que vem. De modo que uma diminuição significativa do desemprego é algo mais plausível apenas a partir de 2019. Num quadro de recuperação econômica, os primeiros vetores a reagir positivamente são bolsa de valores e câmbio, daí vêm confiança, investimento – e só então um efeito mais robusto no emprego.

DW: Até recentemente, o Brasil era a sétima maior economia do mundo, mas foi ficando para trás e hoje ocupa a nona posição. Em quantos anos o país pode voltar à colocação anterior?

MT: Voltar a ser a sétima economia do mundo levará ao menos cinco anos, caso o Brasil consiga uma expansão média de seu PIB superior a 2,5% ao ano entre 2018 e 2022.

Não há nada de automático ou definitivo na ascensão e queda do Brasil. O sentimento positivo que havia até recentemente em relação ao país – agora, infelizmente, substituído por ceticismo e decepção – originou-se de fatores que, sem dúvida, levam uma nação a crescer durante certo tempo, mas não a mudar de paradigma. Para "subir o degrau", o Brasil precisa construir alguns consensos sobre a forma como vai gerar riqueza. E o mais básico deles reside nas reformas pró-negócios.

Mais uma vez, não há nada de irreversível no declínio brasileiro. Também não há nada de automático e assegurado de que o Brasil reemergirá. O governo brasileiro precisa "sair na frente" e tornar-se o arquiteto de reformas estruturais que lhe permitam ser menor e melhor. Só assim a criatividade brasileira se transformará em inovação – único caminho viável para o Brasil voltar a posições de destaque na economia global.

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