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Brasil marca presença no festival de curtas-metragens de Oberhausen

26 de abril de 2012

Três filmes brasileiros foram selecionados entre os mais de 6 mil inscritos. O festival, que já teve participação de diretores renomados como Wim Wenders e Roman Polanski, tem tradição em revelar talentos.

Foto: Tamago

Começa nesta quinta-feira (26/04) o 58º Festival Internacional de Curtas-Metragens de Oberhausen. Três filmes brasileiros foram selecionados entre os mais de 6 mil inscritos. O festival, um dos mais importantes da Europa, vai exibir mais de 470 filmes de cerca de 50 países ao longo de seis dias.

Destes, 140 fazem parte da mostra competitiva, dividida em cinco categorias. Neste ano o evento, que tem como tema principal os 50 anos do Manifesto de Oberhausen, vai exibir também 81 trabalhos dos signatários e participantes do manifesto.

Muitos diretores renomados já participaram de Oberhausen. Alguns deles deram declarações para o site do festival. Entre eles estão o franco-polonês Roman Polanski, para quem o curta-metragem é o primeiro passo para um cineasta iniciante. "Foi assim que eu comecei e o festival de Oberhausen foi um passo importante no meu caminho para me tornar diretor."

O diretor alemão Wim Wenders também participou: "Eu fumei meu primeiro cigarro aqui. Eu vi cada filme que foi exibido no festival, sempre ansioso para o festival do próximo ano. Esse evento foi muito importante para mim, para a minha decisão de me tornar um cineasta", disse.

Três brasileiros concorrem

Os cineastas brasileiros presentes em Oberhausen não são iniciantes. Na categoria internacional concorrem os filmes Odete, de Clarissa Campolina (que já participou da edição anterior do festival), Ivo Lopes Araújo e Luiz Pretti, e Pilgrimage, do videoartista Eder Santos.

No curta-metragem Odete, "a personagem está presa entre o passado e o futuro. Ela sai em viagem, mas continua imóvel. Ela encara o abismo e se pergunta se sairá viva", diz a sinopse do filme, sem dar mais explicações.

Pilgrimage segue o percurso do minério de ferro desde a sua extração, passando pelo transporte e pela exportação. "O vídeo analisa a relação entre a natureza e a cultura e embaralha a tríade espectador, obra e indústria", diz a sinopse.

O trabalho de Santos é considerado por alguns críticos uma das obras videográficas mais densas e poéticas já produzidas no Brasil. Os vídeos do artista integram os acervos permanentes do MoMA (Museu de Arte Contemporânea de Nova York) e do Centre Georges Pompidou, em Paris.

O filme 'L.' concorre na categoria infanto-juvenil e recebeu menção honrosa na 62ª BerlinaleFoto: Tamago

Angústias no limiar da puberdade

O terceiro filme brasileiro em Oberhausen é L., de Thais Fujinaga, que participa da mostra infanto-juvenil. A obra já ganhou diversos prêmios antes de vir para Oberhausen, entre eles menção honrosa na mostra Generation, na 62ª Berlinale. L. também ganhou prêmios em Cuba, na Argentina e nos festivais de Goiânia, Tiradentes e São Paulo.

O filme conta a história de uma menina, Tete, que odeia seus pés compridos. Quando um rapaz mostra interesse por ela, Tete deduz que ele também tem problemas com o seu corpo. Ambos decidem erradicar os seus defeitos através de medidas drásticas. As imagens expressivas do filme mostram as angústias interiores de uma garota tímida no limiar da puberdade.

A diretora conta que o filme é um pouco autobiográfico. "Quando eu tinha a idade da protagonista do filme, um amigo meu me chamou de 'L'. Foi só uma vez, mas na época aquilo me marcou, porque eu detestava os meus pés. Comecei a escrever sobre essa menina que odeia os pés e fui juntando outros elementos, quase todos da minha infância: o ambiente um tanto intimidador de uma academia de natação (filmamos na academia que eu frequentava), a presença de uma ninhada de gatos abandonados, mas faltava alguma coisa", diz.

E, acrescenta, "eu conhecia a expressão 'pés de gueixa' há muito tempo, então resolvi pesquisar sobre isso. Pesquisando, descobri muitos textos e imagens sobre a tradição chinesa (e não japonesa, como eu esperava) de amarrar os pés das meninas para que eles ficassem bem pequenos. Em alguns casos, se o pé já tinha crescido além do tamanho 'ideal', eles eram quebrados antes de serem enfaixados. As fotos dessas mulheres de pés enfaixados, o que essa tradição diz sobre nosso desejo de nos moldarmos a um padrão de beleza, tudo ia ao encontro da história que eu estava escrevendo e eu resolvi incorporar. Então surgiu o outro personagem, o menino chinês Hector".

O filme, gravado em São Paulo e São Bernardo do Campo, foi produzido com apoio da Secretaria Municipal da Cultura de São Paulo e também foi contemplado com um edital do Ministério da Cultura. "Como era permitido juntar os dois prêmios, conseguimos fechar o orçamento em 150 mil reais, o que me deu uma tranquilidade maior pra filmar", já que o curta teria que ser filmado em película, explicou a diretora.

O filme L. será exibido nos dias 26 de abril e 1º de maio, na mostra de cinema infanto-juvenil do festival. Pilgrimage será apresentado nos dias 27 e 28 de abril e Odete será exibido no dia 1º de maio. O festival acontece de 26 de abril a 1º de maio na cidade de Oberhausen, na Alemanha.

Autora: Kamila Rutkosky