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Brasil muda tom e expõe preocupação com eleição venezuelana

27 de março de 2024

Itamaraty aponta que bloqueio de candidatura oposicionista pelo regime chavista não é compatível com acordo internacional. Caracas reage e diz que nota brasileira é "medíocre" e "parece ter sido ditada pelos EUA".

Maduro e Lula em Brasília em 2023
Maduro e Lula em Brasília em 2023. Brasil vinha evitando criticar o regime venezuelanoFoto: UESLEI MARCELINO/REUTERS

Em uma mudança de tom, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil manifestou pela primeira vez preocupação com o andamento do processo eleitoral na Venezuela sob o regime chavista em nota divulgada nesta terça-feira (26/03). O governo venezuelano reagiu com um comunicado duro, acusando o Itamaraty de "intervencionismo".

"O governo brasileiro acompanha com expectativa e preocupação o desenrolar do processo eleitoral", diz o texto, que marca a primeira manifestação do tipo sobre o pleito presidencial venezuelano pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que até agora vinha evitando direcionar críticas às medidas que o líder Nicolás Maduro vem aplicando para barrar candidatos da oposição.

Manifestação após bloqueio de candidatura

A nota foi divulgada horas após o fim do prazo de registro de candidaturas para as eleições presidenciais venezuelanas. O prazo esgotou sem que o bloco opositor majoritário, a Plataforma Unitária, pudesse inscrever a candidata Corina Yoris.

Seu bloco denunciou que foi impedido de fazer o registro. "Fizemos todas as tentativas de inserir os dados, e o sistema está completamente fechado para poder entrar digitalmente", afirmou Yoris em entrevista coletiva horas após o encerramento do prazo. Yoris já era uma candidata substituta, tendo assumindo a posição como representante de María Corina Machado, que em 2023 acabou sendo impedida pela Justiça venezuelana – fortemente controlada pelo chavismo – dedisputar cargos públicos por 15 anos.

A nota do Itamaraty destacou que o impedimento do registro da candidatura não é compatível com os acordos assinados em outubro do ano passado, em Barbados, para promoção de diálogo, direitos políticos e garantias eleitorais na Venezuela.

"Com base nas informações disponíveis, observa que a candidata indicada pela Plataforma Unitaria, força política de oposição, e sobre a qual não pairavam decisões judiciais, foi impedida de registrar-se, o que não é compatível com os acordos de Barbados. O impedimento não foi, até o momento, objeto de qualquer explicação oficial", disse o Itamaraty.

O chamado Acordo de Barbados, firmado com a oposição em 2023, permitiu o relaxamento de parte das sanções econômicas ao regime chavista impostas pelos EUA, mas com a condição de que o regime chavista organizasse eleições transparentes e justas. No entanto, o regime logo voltou a retomar a perseguição a opositores, incluindo a inabilitação de Machado e a prisão de personalidades críticas a Maduro, que está no poder desde 2013 e busca mais uma vez a reeleição.

Mas ainda assim persistem dúvidas se o regime, no poder desde 1999, vai finalmente permitir eleições justas. Até o momento, o governo de Nicolás Maduro tem mandado sinais preocupantes.

Venezuela reage e crítica nota do Itamaraty

Após a divulgação da nota do Itamaraty, o regime de Maduro classificou como "intervencionista" a preocupação manifestada pelo Brasil, afirmando ainda que "repudia o comunicado medíocre e intervencionista, redigido por funcionários da chancelaria brasileira, que parece ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos". A resposta venezuelana foi divulgada em português nas redes sociais pelo ministro venezuelano das Relações Exteriores, Yvan Gil, que também afirmou que os comentários brasileiros eram "carregados de profundo desconhecimento e ignorância sobre a realidade política na Venezuela".

Por outro lado, Venezuela poupou Lula pessoalmente na nota e encerrou o comunicado agradecendo "as expressões de solidariedade do presidente Lula da Silva, que condenam direta e inequivocamente o bloqueio criminoso e as sanções que o governo dos Estados Unidos impôs ilegalmente, com o objetivo de produzir dano ao nosso povo".

Anteriormente, o ministro Gil já havia acusado o Ministério das Relações Exteriores colombiano – que também criticou as táticas do regime contra oposicionistas – de dar "um passo em falso" e cometer "um ato de grosseira ingerência".

jps (AFP, Agência Brasil, ots)

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