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"Brasil não está preparado para mudanças climáticas"

29 de setembro de 2016

Para José Marengo, climatologista e autor do IPCC, as secas prolongadas e chuvas intensas podem virar rotina no país, se a temperatura global subir 2°C já em 2050.

Seca no Amazonas
Foto: Reuters/B. Kelly

Se a temperatura global subir 2°C já em 2050, as secas prolongadas e chuvas intensas podem virar rotina no Brasil, prevê José Marengo, climatologista e autor do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).

Segundo ele, o país ainda não está pronto para se adaptar às mudanças climáticas desencadeadas pela elevação da temperatura, e os impactos podem mudar a vida nas cidades brasileiras. A DW conversou com Marengo, responsável pelo capítulo do IPCC onde se analisam os impactos das mudanças climáticas na América Latina.

DW: Quais são os impactos que a ciência prevê para a América Latina, com a subida da temperatura global?

José Marengo:  Estudos publicados no Grupo 2 do IPCC mostram que, se a temperatura subir 2°C, a América Central é uma das regiões do mundo que mais vai sofrer. Ela tem países muito pobres, está exposta a secas e, em alguns casos, há possibilidade de furacões muito intensos. E a população ainda não está adaptada, o que torna a região uma das mais vulneráveis do mundo. Enquanto nos Estados Unidos há sistemas de alertas de furacões, a América Central ainda não tem.

Na América do Sul, o semiárido do Nordeste é muito vulnerável. Em termos de extremos e secas, estados do Sul e do Sudeste do Brasil são muito vulneráveis, como ficou provado durante a grande estiagem pela qual passou São Paulo.

Com o planeta 2°C mais quente, tudo isso vai acontecer com mais frequência, e os impactos virão: enxurradas, deslizamentos de terra, inundações, destruição de biomas. As cidades costeiras no Brasil também vão sofrer com a elevação do nível do mar.

Os impactos chegaram mais cedo do que previam os modelos matemáticos?

Eu diria que sim. Em termos de modelo, as previsões eram para 2100. Mas já estamos vendo agora as tendências observadas nos últimos 50 anos. Em relação aos extremos de chuva, por exemplo, as previsões mostram que isso só vai aumentar. Alguns impactos previstos para as próximas décadas já estão acontecendo. O problema é que a população está cada vez vulnerável, porque mora principalmente nas cidades, que crescem desordenadamente e em áreas de risco, o que deixa tudo mais complicado.

O Brasil está pronto para se adaptar?

Aqui no Brasil, a seca da Amazônia durante o El Niño, a seca do Nordeste e Sudeste em 2015 só mostram que não estamos adaptados. A população e os políticos parecem não considerar isso. Acontece uma catástrofe agora e o governo dá umas cestas básicas, descontos na conta d'água, e quando acaba a crise a emergência, o assunto é esquecido. Tem que haver um planejamento de longo prazo.

E também é preciso admitir os fatos. No caso da crise da água, por exemplo, o governo do Estado de Sao Paulo demorou a admitir que era uma seca. Os cientistas não estavam inventando que aquilo era uma seca. Em 2001 já tinha acontecido e em 2014-2015 voltou a acontecer. Será que todo o mundo esqueceu aquele fato de 2001? Já se esqueceu do que aconteceu o ano passado? Com as mudanças climáticas, esses fenômenos vão ficar cada vez mais extremos.

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