Para José Marengo, climatologista e autor do IPCC, as secas prolongadas e chuvas intensas podem virar rotina no país, se a temperatura global subir 2°C já em 2050.
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Se a temperatura global subir 2°C já em 2050, as secas prolongadas e chuvas intensas podem virar rotina no Brasil, prevê José Marengo, climatologista e autor do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).
Segundo ele, o país ainda não está pronto para se adaptar às mudanças climáticas desencadeadas pela elevação da temperatura, e os impactos podem mudar a vida nas cidades brasileiras. A DW conversou com Marengo, responsável pelo capítulo do IPCC onde se analisam os impactos das mudanças climáticas na América Latina.
DW: Quais são os impactos que a ciência prevê para a América Latina, com a subida da temperatura global?
José Marengo: Estudos publicados no Grupo 2 do IPCC mostram que, se a temperatura subir 2°C, a América Central é uma das regiões do mundo que mais vai sofrer. Ela tem países muito pobres, está exposta a secas e, em alguns casos, há possibilidade de furacões muito intensos. E a população ainda não está adaptada, o que torna a região uma das mais vulneráveis do mundo. Enquanto nos Estados Unidos há sistemas de alertas de furacões, a América Central ainda não tem.
Na América do Sul, o semiárido do Nordeste é muito vulnerável. Em termos de extremos e secas, estados do Sul e do Sudeste do Brasil são muito vulneráveis, como ficou provado durante a grande estiagem pela qual passou São Paulo.
Com o planeta 2°C mais quente, tudo isso vai acontecer com mais frequência, e os impactos virão: enxurradas, deslizamentos de terra, inundações, destruição de biomas. As cidades costeiras no Brasil também vão sofrer com a elevação do nível do mar.
Os impactos chegaram mais cedo do que previam os modelos matemáticos?
Eu diria que sim. Em termos de modelo, as previsões eram para 2100. Mas já estamos vendo agora as tendências observadas nos últimos 50 anos. Em relação aos extremos de chuva, por exemplo, as previsões mostram que isso só vai aumentar. Alguns impactos previstos para as próximas décadas já estão acontecendo. O problema é que a população está cada vez vulnerável, porque mora principalmente nas cidades, que crescem desordenadamente e em áreas de risco, o que deixa tudo mais complicado.
O Brasil está pronto para se adaptar?
Aqui no Brasil, a seca da Amazônia durante o El Niño, a seca do Nordeste e Sudeste em 2015 só mostram que não estamos adaptados. A população e os políticos parecem não considerar isso. Acontece uma catástrofe agora e o governo dá umas cestas básicas, descontos na conta d'água, e quando acaba a crise a emergência, o assunto é esquecido. Tem que haver um planejamento de longo prazo.
E também é preciso admitir os fatos. No caso da crise da água, por exemplo, o governo do Estado de Sao Paulo demorou a admitir que era uma seca. Os cientistas não estavam inventando que aquilo era uma seca. Em 2001 já tinha acontecido e em 2014-2015 voltou a acontecer. Será que todo o mundo esqueceu aquele fato de 2001? Já se esqueceu do que aconteceu o ano passado? Com as mudanças climáticas, esses fenômenos vão ficar cada vez mais extremos.
Dez ações contra as mudanças climáticas
Três quartos dos gases estufa são produzidos pela combustão de carvão, petróleo e gás natural; o resto, pela agricultura e desmatamento. Como se podem evitar gases poluentes? Veja dez dicas que qualquer um pode seguir.
Foto: picture-alliance/dpa
Usar menos carvão, petróleo e gás
A maioria dos gases estufa provém das usinas de energia, indústria e transportes. O aquecimento de edifícios é responsável por 6% das emissões globais de gases poluentes. Quem utiliza a energia de forma eficiente e economiza carvão, petróleo e gás também protege o clima.
Foto: picture-alliance/dpa
Produzir a própria energia limpa
Hoje, energia não só vem de usinas termelétricas a carvão, óleo combustível e gás natural. Há alternativas, que atualmente são até mesmo mais econômicas. É possível produzir a própria energia e, muitas vezes, mais do que se consome. Os telhados oferecem bastante espaço para painéis solares, uma tecnologia que já está estabelecida.
Foto: Mobisol
Apoiar boas ideias
Cada vez mais municípios, empresas e cooperativas investem em fontes energéticas renováveis e vendem energia limpa. Este parque solar está situado em Saerbeck, município alemão de 7,2 mil habitantes que produz mais energia do que consome. Na foto, a visita de uma delegação americana à cidade.
Foto: Gemeinde Saerbeck/Ulrich Gunka
Não apoiar empresas poluentes
Um número cada vez maior de cidadãos, companhias de seguro, universidades e cidades evita aplicar seu dinheiro em companhias de combustíveis fósseis. Na Alemanha, Münster é a primeira cidade a aderir ao chamado movimento de desinvestimento. Em nível mundial, essa iniciativa abrange dezenas de cidades. Esse movimento global é dinâmico – todos podem participar.
Foto: 350.org/Linda Choritz
Andar de bicicleta, ônibus e trem
Bicicletas, ônibus e trem economizam bastante CO2. Em comparação com o carro, um ônibus é cinco vezes mais ecológico, e um trem elétrico, até 15 vezes mais. Em Amsterdã, a maior parte da população usa a bicicleta. Por meio de largas ciclovias, a prefeitura da cidade garante o bom funcionamento desse sistema.
Foto: DW/G. Rueter
Melhor não voar
Viajar de avião é extremamente prejudicial ao clima. Os fatos demonstram o dilema: para atender às metas climáticas, cada habitante do planeta deveria produzir, em média, no máximo 5,9 toneladas de CO2 anualmente. No entanto, uma viagem de ida e volta entre Berlim e Nova York ocasiona, por passageiro, já 6,5 toneladas de CO2.
Foto: Getty Images/AFP/P. Huguen
Comer menos carne
Para o clima, também a agricultura é um problema. No plantio do arroz ou nos estômagos de bois, vacas, cabras e ovelhas é produzido o gás metano, que é muito prejudicial ao clima. A criação de gado e o aumento mundial de consumo de carne são críticos também devido à crescente demanda de soja para ração animal. Esse cultivo ocasiona o desmatamento de florestas tropicais.
Foto: Getty Images/J. Sullivan
Comprar alimentos orgânicos
O óxido nitroso é particularmente prejudicial ao clima. Sua contribuição para o efeito estufa global gira em torno de 6%. Ele é produzido em usinas de energia e motores, mas principalmente também através do uso de fertilizantes artificiais no agronegócio. Esse tipo de fertilizante é proibido na agricultura ecológica e, por isso, emite-se menos óxido nitroso, o que ajuda a proteger o clima.
Foto: imago/R. Lueger
Sustentabilidade na construção e no consumo
Na produção de aço e cimento emite-se muito CO2, em contrapartida, ele é retirado da atmosfera no processo de crescimento das plantas. A escolha consciente de materiais de construção ajuda o clima. O mesmo vale para o consumo em geral. Para uma massagem, não se precisa de combustível fóssil, mas para copos plásticos, que todo dia acabam no lixo, necessita-se uma grande quantidade dele.
Foto: Oliver Ristau
Assumir responsabilidades
Como evitar gases estufa, para que, em todo mundo, as crianças e os filhos que elas virão a ter possam viver bem sem uma catástrofe do clima? Esses estudantes estão fascinados com a energia mais limpa e veem uma chance para o seu futuro. Todos podem ajudar para que isso possa acontecer.