Pela primeira vez, país sedia campeonato para escolher o melhor sommelier do mundo. Concorrentes elogiam ousadia, criatividade e sabor local das cervejas artesanais brasileiras.
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Novato no mercado das cervejas artesanais, o Brasil tem uma produção ousada e inovadora, avaliaram especialistas internacionais que estiveram presentes no Campeonato Mundial de Sommeliers de Cervejas, realizado em São Paulo.
Em sua quarta edição, o evento que elege o melhor sommelier de cerveja do mundo ocorreu pela primeira vez no Brasil. O vencedor, divulgado num jantar na madrugada deste domingo (18/07), foi o italiano Riva Simonmattia.
O sommelier é um especialista em sabores e tipos de cerveja, sabendo distinguir uma das outras e – principalmente – recomendar qual cerveja combina melhor com pratos e ocasiões.
Para a alemã Irina Zimmermann, única mulher na competição, o Brasil avança a passos largos no setor das artesanais. "Reconheço a qualidade da cerveja brasileira, estou encantada com os sabores. É um estilo muito criativo, que não tem medo de ousar."
Na etapa final do concurso, realizada no sábado, os sommeliers escolhem uma cerveja para apresentar ao público. Zimmermann optou pela Wäls Dubbel, da Wäls, cervejaria de Belo Horizonte. A descrição eloquente e carismática da alemã – que deixou escapar um "uau" ao provar a cerveja – e uma bateria de testes renderam a ela o terceiro lugar no campeonato.
O sommelier brasileiro André Soares Rodrigues, de 32 anos, concorda com o caráter arrojado das cervejas artesanais do país. "O Brasil já começou inovando e unindo influências de todas as escolas, como a americana, belga, inglesa e alemã", afirma o curitibano, que ficou em quinto lugar, empatado com o suíço Roger Brügger.
Segundo os especialistas, os cervejeiros brasileiros estão buscando criar um estilo próprio, usando ingredientes típicos do país, como madeiras, especiarias e frutas. "É o caso das cervejas com pitanga, buriti ou fermentada em barris de cachaça. Estamos fazendo uma releitura de estilos tradicionais, com um toque de brasilidade", explica o sommelier paulistano Rodrigo Sawamura, quarto colocado no campeonato.
Crescimento do mercado
O mercado internacional de cervejas especiais está de olho no Brasil. Segundo a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe), há mais de 200 microcervejarias no país, concentradas principalmente no Sul e no Sudeste. Elas representam menos de 1% do setor cervejeiro nacional, mas a previsão é que atinjam 10% do mercado total em dez anos. Entre as marcas mais conhecidas estão as paulistas Colorado e Baden Baden, a mineira Wäls, a catarinense Eisenbahn e a gaúcha Coruja.
O italiano Riva Simonmattia, vencedor da competição, disse que o Brasil se destaca no cenário internacional da cerveja. "Por isso foi muito importante fazer o evento aqui. Mesmo com uma cultura cervejeira nova, o Brasil está bem avançado", afirma.
Segundo Tatiana Spogis, gerente de marketing de uma importadora de cervejas especiais no Brasil, o setor cresce cerca de 20% ao ano. "Somos o mercado que mais cresce no mundo. O país está saindo do consumo básico para buscar mais informações sensoriais. A ousadia no uso de ingredientes locais se reflete também na ambição de crescimento. Nós nos inspiramos nos americanos, que estão um passo à frente, mas queremos superá-los", diz a sommelier, que ficou em terceiro lugar na última edição do campeonato.
As artesanais são um movimento recente no Brasil, que indica uma mudança de mentalidade em relação à cerveja. "O mais comum é beber a cerveja estupidamente gelada, além do consumo em alta quantidade, vinculado ao imaginário da bebedeira. O nicho de cervejas especiais busca o oposto disso: trazer a cerveja para a mesa, harmonizá-la com a gastronomia e fazer os consumidores pararem para sentir os aromas e sabores do produto", diz Spogis.
"A grande maioria da cerveja vendida no Brasil é menos aromática e menos amarga, muito em função de pesquisas de mercado, que indicam que o brasileiro prefere assim. Mas isso está mudando", opina Sawamura. Ele ressalta que o alto custo da cerveja no Brasil, a dificuldade de importar rótulos de outros países, além dos altos impostos sobre a bebida são obstáculos para o crescimento do mercado nacional.
Para Rodrigues, a baixa temperatura da cerveja industrial brasileira é uma forma de disfarçar a baixa qualidade do produto porque dificulta a degustação correta dos sabores.
Dez fatos sobre a cerveja na Alemanha
Que a Alemanha é famosa pela cerveja, ninguém duvida. Mas aqui estão dez coisas que você não sabia sobre a cerveja no país e que todo bebedor deveria saber antes de virar o caneco.
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Lei de pureza é coisa do passado
A Alemanha é pelo menos tão famosa por sua obsessão pelas regras quanto por sua cerveja. O antigo Preceito de Pureza, decretado há quase 500 anos, estipula que a bebida deve conter apenas água, lúpulo, malte e levedura. Mas, ao contrário do que muitos creem, ele já não vigora mais, tendo sido anulado pela União Europeia em 1987. Apesar disso, muitos cervejeiros ainda seguem a receita tradicional.
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Artesanais em alta
Apesar de o Preceito de Pureza (Reinheisgebot) ter caído há quase três décadas, nos últimos anos as cervejas artesanais decolaram. Seu mercado cresceu sobretudo em Berlim, onde parte dos novos cervejeiros são de fora do país. O site Mixology.eu, especializado em bares, publicou em 2014 a lista das suas marcas favoritas: Schoppe Bräu, Heidenpeters, Ale Mania, BrauKunstKeller e Crew Republic.
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Campeões de consumo são outros
Embora a Alemanha produza um terço das 15 mil variedades de cerveja do mundo e ostente 1.500 cervejarias, os alemães não levam a medalha de ouro em termos de consumo. No país, cada um "só" bebe uns 110 litros (de 300 a 320 cervejas) por ano. A campeã mundial de consumo, com 140 a 150 litros per capita, é a República Tcheca – afinal, país da pilsen.
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Preste atenção onde você está
Pode-se pedir cerveja em qualquer bar na Alemanha – mas não qualquer cerveja. Muitos só oferecem a variedade local mais uma pilsen. Se você pedir "Ein Bier, bitte", o garçom não vai perguntar qual tipo, mas sim trazer uma caneca ou copo da cerveja local. Em Munique, será uma hefeweizen ou "helles"; em Colônia, uma kölsch, em Hamburgo, uma Astra, e assim por diante.
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O copo certo
Não é apenas importante pedir a cerveja certa em cada cidade: cada variedade de cerveja tem seu tipo apropriado de recipiente. A kölsch, por exemplo, vem num copo de vidro fino de 200 ml. A hefeweizen se bebe ou numa tulipa de meio-litro, abaulada no alto, ou na caneca tradicional. O copo da pilsen mais parece uma taça de vinho com uma barriguinha de cerveja.
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Cerveja não é igual a cerveja
A maioria das cervejas da Alemanha circula pelos 5% de álcool. Mas cuidado na Baviera: lá, o teor alcoólico de algumas chega a até 6%. Considerando-se que a cerveja bávara é servida em canecas de um litro, em vez dos mais usuais 300 ml, o efeito é ainda maior. E um café da manhã bávaro tradicional não dispensa cerveja.
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Cerveja... e o que quer que seja
Num país que colocou sob decreto os ingredientes da cerveja, pode-se pensar que todos são puristas. Porém mesmo o alemão mais beberrão de vez em quando mistura a sua cerveja com coisas inimagináveis em outros lugares. Cada combinação tem seu nome especial: o "radler" é com soda limonada ou Sprite; há inúmeros apelidos para a cerveja com coca-cola. E uma "russe" é metade hefeweizen, metade Sprite.
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Nem todas são loiras
Adicionar xaropes de diferentes sabores à cerveja é um costume bastante comum na vizinha Polônia, mas praticamente desconhecido na Alemanha – exceto na multicolorida Berlim. Lá se pode pedir uma "berliner weisse": cerveja clara misturada com xarope sabor framboesa ou "waldmeister"(aspérula). A bebida, servida numa taça atarracada, será vermelha ou verde, de acordo com o caso.
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Sem saco de papel
Assim como no Brasil, é comum ver na Alemanha gente bebendo nos trens, grupos de jovens indo para a festa de garrafa na mão, até mesmo idosos festejando o feriado com uma gole. Isso geralmente choca quem vem dos Estados Unidos, por exemplo, onde consumir bebidas alcoólicas em público é ilegal, e os amigos do copo têm que esconder a sua bebida numa sacola de papel pardo...
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Não jogue a garrafa fora
Também famosos por sua consciência ecológica, os alemães são ávidos recicladores. Em geral se paga um depósito por todo casco, como incentivo para que ele seja devolvido, em vez de jogado fora. Como cada garrafa plástica vale 0,25 euro e as de vidro, 0,08 euro, é preciso beber muita cerveja para fazer a viagem de volta até o supermercado valer a pena. Portanto, "prost"!
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O sommelier e mestre cervejeiro alemão Frank Lucas, de 46 anos, concorda que, quando morna, esse tipo de cerveja perde seu encanto. Mas, segundo ele, a temperatura baixa é adequada ao clima tropical. "Essas bebidas são menos encorpadas e com pouco álcool, mas são boas para o calor. É uma tradição na América Latina", afirma Lucas, que faturou o segundo lugar da competição.
América Latina
Os sommeliers latino-americanos Carlos Ruiz (Venezuela), Armin Schmid (Chile) e George Franceschi (Porto Rico) também participaram da competição.
Segundo Franceschi, Porto Rico produz o mesmo tipo de cerveja que o Brasil, a american light lager. Ele diz que a produção artesanal está avançada no país, pela proximidade com os EUA. "O estilo pilsen é o que se bebe mais desde o México até a Argentina, pela influência alemã e italiana. Também se usa muito milho e cevada, que são abundantes nos nossos países."
Já Schmid afirma que, no Chile, a concorrência com o vinho dificulta o crescimento das cervejas artesanais. O primeiro tem um status maior e é indicado para as refeições, enquanto a cerveja está associada ao churrasco com os amigos, em dias de calor. "Falta profissionalismo quando comparado com o Brasil. Me surpreendi com a qualidade excelente das cervejas artesanais brasileiras. No Chile, beber cerveja na refeição é mal-visto", afirmou.
Na Venezuela, segundo o sommelier Ruiz – que trabalha como vendedor internacional de cervejas especiais na Alemanha – a situação econômica atual não permite o desenvolvimento desse mercado. "O controle do câmbio e das importações inviabiliza as cervejas especiais. Mas há algumas primeiras tentativas."
Mulheres cervejeiras
Para Zimmermann, uma mulher mestre cervejeira ainda causa espanto num universo predominantemente masculino. "Mas a resistência desaparece quando percebem a minha competência", assegura.
De fato, a sommelière foi aplaudida de pé ao chegar à etapa final do campeonato. Na ocasião, ela teve dificuldade de abrir a garrafa, fechada com rolha, e precisou pedir ajuda a um colega homem. Nada que a abalasse. "Nós mulheres temos essa desvantagem", disse, arrancando risos da plateia.
Como vantagem, ela afirma, o sexo feminino tem uma maior sensibilidade e um gosto diferente para as cervejas. "As mulheres são menos duras e transmitem melhor as emoções relacionadas à bebida, falam mais diretamente ao coração."
Spogis também diz que não sofre preconceito. "Muito pelo contrário, sou muito respeitada. Já foi um universo totalmente masculino, mas hoje somos muitas na cena cervejeira no Brasil. Só na organização desse evento há três mulheres. Ainda somos minoria, mas isso está mudando", afirma.
O copo ideal
Cada cerveja proveniente das diversas regiões alemãs, seja de trigo, clara ou escura, requer copos específicos que ressaltam o sabor, sobrepõem os aromas e ajudam a formar a melhor espuma.
Foto: Fotolia/ExQuisine
Faça sua escolha
Não é nenhum segredo que a Alemanha é uma das principais produtoras de cerveja. Mas qual a maneira correta de degustar a bebida? Muitas vezes o segredo se resume à espuma do topo. Um sommelier de cervejas revelou à DW que o formato cônico do copo ajuda a manter o aroma, enquanto um copo fininho preserva o frescor.
Foto: Fotolia/ExQuisine
O orgulho de Colônia
Para os cervejeiros de Colônia estes copos de 20 cl são essenciais. O termo Kölsch (adjetivo referente a Köln, nome de Colônia em alemão) é restrito a cervejarias dentro e nos arredores de Colônia. Garçons carregam bandejas circulares com alças cheias de Kölsch e trocam constantemente os copos cheios pelos vazios. Se você não quer beber mais, tampe o copo.
Foto: DW/M. Nelioubin
Frescor em primeiro lugar
Assim como os rivais às margens do Reno, os moradores da vizinha Düsseldorf também têm uma especialidade, a Altbier. O copo também comporta 20 cl, mas é mais curto e largo que o de Colônia. E como a Altbier é de alta fermentação, o sabor ficaria choco se fosse servida em copos largos, diz um produtor. "No copo correto, a 'Alt' solta seu aroma e forma uma espuma compacta."
Foto: picture-alliance/dpa
Copos decorativos
"Um copo de pilsen se estreita em direção à boca do copo, para que o aroma de lúpulo alcance o nariz", diz um mestre cervejeiro de Essen à DW. "Isto melhora o sabor da cerveja." Alguns copos são apenas cilíndricos, outros, como o da foto, têm o formato de tulipa. O pedestal da base é somente ornamentação e não influencia o sabor da bebida.
Foto: picture-alliance/dpa
Um litro de coragem
A cerveja típica da Oktoberfest ou "helles" é servida em uma caneca de um litro, chamada "Mass". Originalmente de cerâmica, estas canecas são produzidas para resistir às diversas rodadas de brindes e celebrações. Quando vazias, elas pesam mais de um quilo cada uma! Imagine então o quanto elas ajudam a delinear os músculos quando estão cheias! Saúde!
Foto: picture-alliance/dpa
Espaço para a espuma
Os copos da "Hefeweizen", a cerveja clara de trigo, são altos e sinuosos. O elevado teor de dióxido de carbono forma a espuma na parte superior da bebida. Para isso, a cerveja deve ser derramada no copo vagarosamente. O diâmetro ampliado no topo do copo acomoda a espuma extra, assim como seus aromas florais.
Foto: picture-alliance/dpa
Vermelho ou verde?
Até mesmo os soldados de Napoleão levantaram seus copos para brindar a "champanha do norte". Uma fermentação especial à base de culturas de ácidos lácticos dá à "Berliner Weisse" sua característica borbulhante e de sabor único, geralmente complementada com um toque de framboesa ou xarope de aspérula (Waldmeister). O copo amplo serve para acomodar bem a espuma.
Foto: picture-alliance/ZB
Cerveja no pedestal
Todos os detalhes do copo da "Schwarzbier", a cerveja escura, celebram a experiência da degustação. A forma, a espessura e o tratamento dado à borda do vidro salientam o sabor. O formato amplo da boca do copo permite exalar melhor a nota de castanha torrada, chocolate e pão fresco. O formato também ajuda na manutenção da espuma, encorajando a degustar a bebida devagar.
Foto: picture-alliance/dpa
De Bonn
Ao beber a "Bönnsch", da cidade de Bonn, os amantes de cerveja seguram em suas mãos pequenas obras-primas inspiradas pelo designer Luigi Colani. A "Bönnsch" é uma versão não filtrada da "Kölsch". Apesar de não alterar o sabor da bebida, o copo é mais popular que a própria cerveja, especialmente entre turistas que procuram por um souvenir diferente, diz o dono da cervejaria.