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Brasil pode se beneficiar com fim de sanções ao Irã

Fernando Caulyt18 de janeiro de 2016

Devido a proximidade política, Brasil deverá pelo menos dobrar a venda de commodities aos iranianos. Por outro lado, entrada do país no mercado de petróleo já força queda do preço do barril e pode prejudicar Petrobras.

Produtos como soja podem ganhar espaço com fim das sançõesFoto: Getty Images

A suspensão das sanções das potências internacionais ao Irã, anunciada neste sábado (16/01), vai beneficiar as exportações de commodities brasileiras para o país asiático. De acordo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o país deverá pelo menos dobrar a venda dos principais produtos – como milho, carne bovina, soja, farelo de soja e açúcar – aos iranianos.

"A tendência é que teremos basicamente lados positivos com a queda das sanções. Durante muitos anos, por conta delas, muitas ou a maioria das operações deixaram de ser realizadas e, assim, o Brasil vendeu um volume pequeno", afirmou José Augusto de Castro, presidente da AEB.

O comércio entre os dois países registrava um crescimento progressivo até 2011/2012, quando chegou a ultrapassar 2 bilhões de dólares por ano, mas foi reduzido em quase 50% como resultado das sanções internacionais. O intercâmbio comercial com o Irã caiu de 2,3 bilhões de dólares para 1,4 bilhão de dólares entre 2011 e 2014, devido, principalmente, à queda das exportações brasileiras ao país.

Devido às restrições impostas pelas potências mundiais, os bancos não aceitavam realizar financiamentos e pagamentos de transações comerciais entre os dois países, o que dificultava o acesso de exportadores brasileiros a um mercado com cerca de 80 milhões de consumidores e considerado de bom poder aquisitivo.

Produtos do agronegócio representam mais de 98% da pauta de exportação do Brasil ao país. Na esteira das sanções, a venda de carne bovina brasileira para os iranianos chegou a cair cerca de 70% nos últimos três anos. No último ano, o Brasil vendeu 1,6 bilhão de dólares em produtos aos iranianos, comprando apenas 3,3 milhões de dólares.

Por outro lado, a retomada das exportações de petróleo por Teerã deverá prejudicar indiretamente o Brasil. Nesta segunda-feira, devido a temores de um possível excesso de oferta, o preço do barril chegou a ser comercializado na Ásia por menos de 28 dólares. Estima-se que o país tenha um grande estoque de petróleo e que poderá disponibilizar quase 500 mil barris/dia ao mercado internacional.

"Na medida em que o Irã é um grande produtor, a entrada de mais um competidor deve fazer com que o preço do petróleo caia ainda mais", afirma Márcio Coimbra, coordenador do MBA de Relações Institucionais do Ibmec/DF. "Sabemos que a desvalorização do produto afeta, neste momento, sobremaneira a Petrobras, que já enfrenta enorme desvalorização diante dos casos de corrupção expostos pela Operação Lava Jato."

Entrada de Irã no mercado deve desvalorizar barril de petróleo, prejudicando PetrobrasFoto: Reuters/P. Whitaker

Decisões levando em conta preferência geopolítica

No sábado, a AIEA afirmou que o Irã cumpriu todas as exigências do acordo nuclear firmado em julho de 2015 com o chamado Grupo P5+1, composto por EUA, Rússia, Reino Unido, França e China, além da Alemanha. Em seguida, a chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, anunciou o fim das sanções econômicas e financeiras ao programa nuclear de Teerã.

As chances do aumento do comércio entre os dois países são grandes. Do ponto de vista político, o Brasil sempre criticou as sanções das potências mundiais ao Irã e defendeu o diálogo e diplomacia como solução para o impasse frente ao programa nuclear iraniano.

Para Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade de Columbia, nos EUA, a boa relação que Brasília manteve com Teerã, mesmo nos períodos mais árduos de imposição internacional de sanções, deveria, teoricamente, beneficiar o Brasil na exportação de serviços. "Sobretudo considerando que muitas empresas brasileiras possuem relevante experiência e histórico de sucesso no Oriente."

Em 2010, o Irã chegou a assinar um acordo, mediado por Brasil e Turquia, para realizar o enriquecimento do urânio iraniano (a menos de 20%) em outro país. O pacto, porém, não foi reconhecido pela comunidade internacional e, menos de um mês depois, o Conselho de Segurança aprovou novas sanções a Teerã. A situação causou embaraços à diplomacia brasileira.

Em agosto de 2013, o então chanceler brasileiro, Antonio Patriota, em visita a Teerã para a posse do presidente Rouhani, afirmou em entrevista que as sanções afetavam os interesses econômicos do Brasil.

Já pelo lado econômico, em setembro de 2015, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, visitou Teerã pela primeira vez após o acordo nuclear para conversar sobre oportunidades de comércio com a expectativa de queda das sanções. Ele foi recebido pelo presidente iraniano, Hassan Rouhani, e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif.

"O regime de Teerã não é afeito à 'tomada de preços' na contratação de muitas de suas compras governamentais. Assim, muitas das decisões se baseiam na preferência geopolítica que o Irã nutre por esse ou aquele país na hora de contratar empresas", diz Troyjo.

Ele destaca, porém, que essa oportunidade se dá no momento em que as empresas brasileiras se encontram numa conjuntura desfavorável em decorrência dos desdobramentos da Operação Lava Jato.

"Nesse contexto, a China, maior importadora de petróleo iraniano, pode ver sua presença no mercado iraniano, também em novas oportunidades no setor de infraestrutura, aumentar ainda mais", conclui o diretor do BRICLab.

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