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Brasil pode servir de exemplo

Marion Andrea Strüssmann, de Bonn23 de maio de 2003

Especialistas brasileiros que participam da conferência internacional sobre a exploração sustentável das florestas, em Bonn, afirmam que alguns projetos Made in Brazil podem servir de exemplo para o resto do mundo.

Brasil presente na conferência de Bonn

A conferência internacional que se encerra nesta sexta-feira (23/5) e reúne mais de 200 cientistas, pesquisadores e representantes de ONGs, instituições governamentais e entidades financiadoras serviu como uma plataforma de informações e troca de experiências. Pessoas de todo o mundo estiveram debatendo durante cinco dias sobre a exploração sustentável das florestas e a preservação da biodiversidade.

A participação brasileira neste evento não foi passiva. Manyu Chang, economista e doutoranda em meio ambiente e desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná, e Fernando César da Veiga Neto, doutorando em desenvolvimento e agricultura na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, por exemplo, foram convidados a apresentar um estudo realizado em conjunto sobre o impacto dos projetos de carbono para o desenvolvimento sustentável local.

O estudo, financiado pelo IIED (Instituto Internacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento) procura avaliar até que ponto os projetos de carbono atendem à sustentabilidade social, que é uma das exigências do protocolo de Kyoto, e o melhor critério para a aplicação do mecanismo de desenvolvimento limpo dentro deste contexto. Apesar de baseado na realidade brasileira, o estudo poderia ser aplicado em outros países de florestas tropicais ricos em biodiversidade.

"É superimportante participar de conferências internacionais como esta porque os debates avançam e a gente pode avaliar até que ponto a nossa realidade está inserida em um contexto de discussão mais amplo", justificou Veiga Neto.

Brasil em destaque

Professor Peter May

O orientador do estudo dos doutorandos brasileiros é Peter May, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, diretor da ONG Pro-Natura e também coordenador de projetos mantidos pelo GEF (Global Enviromment Facility) com o apoio da ONU, que objetivam a conservação e uso sustentável do solo na região noroeste do Mato Grosso, distante cerca de mil quilômetros de Cuiabá.

Em entrevista exclusiva à DW-WORLD, ele se mostrou otimista quanto à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, contestou a postura dos Estados Unidos e afirmou que acredita ser possível existir uma relação equilibrada entre exploração e preservação florestal.

Peter May, qual a importância da realização de um evento como esse na Alemanha?

Eu acho que, para a Alemanha, um país originalmente florestal, é uma oportunidade para retomar as raízes e ver que a importância da floresta para um país europeu pode ser refletida nos países do mundo, particularmente nos países em desenvolvimento, onde muitas populações dependem e se beneficiam de alguma forma da existência das florestas.

Como o Sr. vê o engajamento do atual governo nas questões ambientais do Brasil?

Eu acho que ainda está engatinhando. A nomeação de Marina Silva, grande ambientalista proveniente de uma região da Amazônia, que mais tem representado a questão sócio-ambiental do Brasil para o mundo, significa um símbolo para o país. Internamente, implica um compromisso com o meio ambiente.

Muito tem se criticado que projetos interessantes apresentados na Rio 92 ainda não foram aplicados. Quais seriam os motivos?

A década de 90 foi uma década em que o crescimento atingido com os mercados especulativos não implicou para os grandes investidores e para os países ricos um compromisso com os problemas do resto do mundo. Eles simplesmente abandonaram os compromissos que foram assumidos. No caso dos Estados Unidos, o país virou as costas para o multilateralismo e em particular para os compromissos de Kyoto, que nunca assinou. Isso é um menosprezo, é uma ótica de participação mundial de não se envolver com a comunidade global. Com isso, acho que ainda temos muito para atingir.

É possível uma relação harmoniosa entre exploração e conservação ambiental?

Certamente. Na região onde estamos trabalhando, no noroeste do Mato Grosso, a gente se depara com pessoas que vivem em conflito sobre o uso do solo e suas possibilidades de sobrevivência. Cada vez mais eles percebem que o futuro está atrelado à perspectiva de conservação e uso sustentável da biodiversidade. Não existe uma opção por uma ou por outra. É uma realidade que tem que ser equilibrada e integrada de alguma forma.

O Brasil, no contexto mundial, pode servir de exemplo?

Espero que sim. Estamos aprendendo muito forçosamente, por necessidade, e espero que os exemplos e as oportunidades que a gente tem tido para testar e discutir sejam proveitosos. Como a oportunidade que estamos tendo aqui, onde expomos o mecanismo de desenvolvimento limpo como forma para incentivar as populações rurais a usar e sustentar melhor seus tributos florestais. Acho que isso serviria como exemplo para o resto do mundo de como é possível fazer isso.

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