Brasil poderá ter 5 mil mortes diárias por covid, diz estudo
25 de março de 2021
Análise da UFF prevê pico da segunda onda da epidemia entre abril e maio, e destaca que medidas de isolamento, além de vacinação, são fundamentais para atenuar cenário.
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O Brasil pode chegar a registrar 5 mil mortes diárias por covid-19 no final de abril ou início de maio, de acordo com um estudo da Universidade Federal Fluminense (UFF) divulgado nesta quarta-feira (24/03). A análise prevê que, nesse período, ocorra o pico da segunda onda da epidemia no país.
Desenvolvido pelo professor do Departamento de Estatística da UFF, Marcio Watanabe, o estudo calculou o número possível de mortes diárias nos próximos meses a partir de um modelo matemático-epidemiológico que levou em consideração a análise de dados da pandemia de mais de 50 países entre setembro de 2020 e março deste ano.
"O pico de óbitos no Brasil será provavelmente em abril ou início de maio, com um número calculado entre 3 mil e 5 mil mortes por dia", afirmou Watanabe. "O valor real do pico dependerá da velocidade da vacinação nos próximos meses e das medidas de distanciamento adotadas", acrescentou.
Com base em dados do ano passado, o pesquisador afirmou que a pandemia tende a se agravar nesses meses em países do hemisfério sul, em particular no Brasil, e também em nações que seguem padrões sazonais semelhantes, como Índia e Bangladesh.
Já em países do hemisfério norte, como Estados Unidos e os europeus, os casos tendem a estagnar por um longo prazo, com menor tendência de aumento, segundo o especialista.
Para tentar desacelerar esse ritmo, o estudo destaca a necessidade de medidas de isolamento social, que já se mostraram eficazes para conter a transmissão do coronavírus. Watanabe ressalta que a efetividade delas depende, principalmente, da redução de aglomerações.
"É essencial reduzir aglomerações como ônibus lotados, que têm sido ignorados pelo poder público ao longo da pandemia", afirmou o pesquisador.
Cenário para o futuro
O estudo prevê ainda que a partir de 2022 a covid-19 seguirá, de forma mais clara, o mesmo comportamento das demais doenças respiratórias, com aumento de casos e óbitos entre março e junho, mas de forma mais controlada. Nas demais épocas do ano, deverá ocorrer uma redução da transmissão. Porém, essa previsão depende da evolução das campanhas de vacinação.
"Poderemos conviver com a covid-19 da mesma forma que convivemos com outras doenças respiratórias, como a pneumonia, quando vacinarmos a maior parte da população. Mas, mesmo com a vacina, a doença será endêmica, ou seja, sempre haverá casos", destacou Watanabe.
O especialista também aponta como desafio fundamental para o futuro a busca por um tratamento eficaz para pacientes hospitalizados com covid-19. "Após a produção de diversas vacinas eficazes em tempo recorde, temos que depositar novamente nossas esperanças e apoiar o incrível trabalho de pesquisadores de universidades do Brasil e do mundo que seguem trabalhando incansavelmente para mitigar cada vez mais os efeitos da maior pandemia da história", acrescentou.
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Pior momento
O Brasil enfrenta o pior momento da pandemia. Nesta quarta-feira, o país ultrapassou a marca de 300 mil mortos em decorrência da doença. O número trágico foi atingido apenas dois meses e meio após ter registrado 200 mil mortes. Ao todo, mais de 12,2 milhões de casos foram registrados no país.
A explosão no número de infecções levou ainda ao colapso dos sistemas de saúde em diversos estados, com UTIs lotadas e pacientes morrendo em filas de espera por um leito.
Em pronunciamento na terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro tentou defender as ações do governo no combate à crise, mas mentiu e distorceu dados sobre a crise e a vacinação. Na fala, apesar de reconhecer que o coronavírus "infelizmente tem tirado a vida de muitos brasileiros", o presidente sequer mencionou o recorde de mortes. Ele afirmou que o governo tomou medidas para combater o coronavírus ao longo de toda a pandemia e que sempre foi a favor das vacinas.
Na realidade, ao longo de um ano de pandemia, apesar de lançar medidas econômicas, Bolsonaro minimizou frequentemente os riscos do coronavírus, combateu medidas de isolamento social, promoveu curas sem eficácia, criticou a vacina e tentou sabotar iniciativas paralelas de vacinação e combate à doença lançadas por governadores e prefeitos em resposta à inércia do seu governo na área.
cn/ek (Lusa, ots)
Vírus verbal: frases de Bolsonaro sobre a pandemia
"E daí?", "gripezinha", "não sou coveiro", "país de maricas": desde que o coronavírus chegou ao Brasil, presidente tratou publicamente com desdenho a crise. Enquanto a epidemia avança, suas falas causam ultraje.
Foto: Andre Borges/dpa/picture-alliance
"Superdimensionado"
Em 9 de março, em evento durante visita aos EUA, Bolsonaro disse que o "poder destruidor" do coronavírus estava sendo "superdimensionado". Até então, a epidemia havia matado mais de 3 mil pessoas no mundo. Após o retorno ao Brasil, mais de 20 membros de sua comitiva testaram positivo para covid-19.
Foto: Reuters/T. Brenner
"Europa vai ser mais atingida que nós"
A declaração foi dada em 15 de março. Precisamente, ele afirmou: "A população da Europa é mais velha do que a nossa. Então mais gente vai ser atingida pelo vírus do que nós." Segundo a OMS, grupos de risco, como idosos, têm a mesma chance de contrair a doença que jovens. A diferença está na gravidade dos sintomas. O Brasil é hoje o segundo país mais atingido pela pandemia.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/GDA/O Globo
"Gripezinha" e "histórico de atleta"
Ao menos duas vezes, Bolsonaro se referiu à covid-19 como "gripezinha". Na primeira, em 24 de março, em pronunciamento em rede nacional, ele afirmou, que, por ter "histórico de atleta", "nada sentiria" se contraísse o novo coronavírus ou teria no máximo uma “gripezinha ou resfriadinho”. Dias depois, disse: "Para 90% da população, é gripezinha ou nada."
Foto: Youtube/TV BrasilGov
"Todos nós vamos morrer um dia"
Após visitar o comércio em Brasília, contrariando recomendações deu seu próprio Ministério da Saúde e da OMS, Bolsonaro disse, em 29 de março, que era necessário enfrentar o vírus "como homem". "O emprego é essencial, essa é a realidade. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós vamos morrer um dia."
Foto: Reuters/A. Machado
"A hidroxicloroquina tá dando certo"
Repetidamente, Bolsonaro defendeu a cloroquina para o tratamento de covid-19. Em 26 de março, quando disse que o medicamento para malária "está dando certo", já não havia qualquer embasamento científico para defender a substância. Em junho, a OMS interrompeu testes com a hidroxicloroquina, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/F. Taxeira
"Vírus está indo embora"
Em 10 de abril, o Brasil ultrapassou a marca de mil mortos por coronavírus. No mundo, já eram 100 mil óbitos. Dois dias depois, Bolsonaro afirmou que "parece que está começando a ir embora essa questão do vírus". O Brasil se tornaria, meses depois, um epicentro global da pandemia, com dezenas de milhares de mortos.
Foto: Reuters/A. Machado
"Eu não sou coveiro"
Assim o presidente reagiu, em frente ao Planalto, quando um jornalista formulava uma pergunta sobre os números da covid-19 no Brasil, que já registrava mais de 2 mil mortes e 40 mil casos. “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?”, afirmou Bolsonaro em 20 de abril.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Borges
"E daí?"
Foi uma das declarações do presidente que mais causaram ultraje. Com mais de 5 mil mortes, o Brasil havia acabado de passar a China em número de óbitos. Era 28 de abril, e o presidente estava sendo novamente indagado sobre os números do vírus. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre...”
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Vou fazer um churrasco"
Em 7 de maio, o Brasil já contava mais de 140 mil infectados e 9 mil mortes. Metrópoles como Rio e São Paulo estavam em quarentena. O presidente, então, anunciou que faria uma festinha. "Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha...". Dias depois, voltou atrás, dizendo que a notícia era "fake".
Foto: Reuters/A. Machado
"Tem medo do quê? Enfrenta!"
Em julho, o presidente anunciou que estava com covid-19. Disse que estava "curado" 19 dias depois. Fora do isolamento, passou a viajar. Ao longo da pandemia, ele já havia visitado o comércio e participado de atos pró-governo. Em Bagé (RS), em 31 de julho, sugeriu que a disseminação do vírus é inevitável. "Infelizmente, acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!”
Foto: Reuters/A. Machado
"País de maricas"
Em 10 de novembro, ao celebrar como vitória política a suspensão dos estudos, pelo Instituto Butantan, da vacina do laboratório chinês Sinovac após a morte de um voluntário da vacina, Bolsonaro afirmou que o Brasil deveria "deixar de ser um país de maricas" por causa da pandemia. "Mais uma que Bolsonaro ganha", comentou.
Foto: Andre Borges/NurPhoto/picture alliance
"Chega de frescura, de mimimi"
Em 4 de março de 2021, após o país registrar um novo recorde na contagem diária de mortes diárias por covid-19, Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia, e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando". Ele ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.