Brasil tem duas vezes mais analfabetos entre não brancos
21 de dezembro de 2017
Sondagem constata que índice de analfabetismo caiu entre 2015 e 2016, mas ainda está longe de meta do Plano Nacional de Educação. Taxa entre brasileiros negros e pardos é mais do que o dobro da registrada entre brancos
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Sondagem divulgada nesta quinta-feira (21/12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou que o índice de analfabetismo no Brasil caiu de 8% em 2015 para 7,2% em 2016. Isso equivale a 11,8 milhões de cidadãos de 15 anos ou mais que não sabem ler nem escrever.
O percentual apresentou relação direta com a idade, aumentando à medida que a idade avançava, até atingir 20,4% entre aqueles com mais de 60 anos. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do IBGE mostrou, entretanto, que o país ainda está longe de cumprir a Meta 9 do Plano Nacional de Educação (PNE), instituído pela Lei 13.005. O PNE estipulava a redução da taxa de analfabetismo para 6,5%, em 2015.
A sondagem constatou também uma taxa de analfabetismo de 9,9% entre os de cor negra ou parda, que representam mais da metade da população do país. Esse número é mais que o dobro do observado entre os brancos (4,2%), em todas as regiões do país.
A disparidade entre raças aumenta nos maiores de 60 anos, com 30,7% de analfabetismo entre negros e pardos e a 11,7% entre os brancos, de acordo com o PNAD. A relação foi constatada em todas as grandes regiões do país.
Segundo o IBGE, o Nordeste apresentou a maior taxa de analfabetismo (14,8%), índice quase quatro vezes maior do que as taxas estimadas para o Sudeste (3,8%) e o Sul (3,6%). No Norte, a taxa foi 8,5%, e no Centro-Oeste, 5,7%.
Portanto a Meta 9 do PNE para 2015 só foi atingida nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Na opinião da analista do IBGE Marina Aguas, as políticas públicas de redução do analfabetismo devem focar as regiões Norte e Nordeste. A taxa de analfabetismo para os homens de 15 anos ou mais foi 7,4%, e para as mulheres, 7%.
De acordo com a analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, Helena Oliveira Monteiro, a pesquisa mostra a continuidade das diferenças regionais e a desigualdade por cor ou raça. "Historicamente, pessoas brancas têm mais acesso à escola. Isso está associado à renda, que produz maior oportunidade de acesso ao ensino.”
No Brasil, em 2016, 51% da população de 25 anos ou mais tinha até o ensino fundamental completo ou equivalente; 26,3%, o ensino médio completo, e 15,3%, o superior completo.
Considerando a cor ou raça, as diferenças no nível de instrução são significativas: 7,3% de brancos sem instrução, contra 14,7% das pessoas negras ou pardas. Situação inversa ocorreu no nível superior completo, com 22,2% dos brancos e 8,8% do negros ou pardos.
Em 2016, o número médio de anos de estudo daqueles com 25 anos ou mais era oito. As regiões Nordeste e Norte ficaram abaixo da média nacional, com 6,7 e 7,4 anos respectivamente; enquanto as regiões Sul (8,3 anos), Centro-Oeste (8,3 anos) e Sudeste (8,8 anos) situaram-se acima da média.
MD/efe/ebc
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A evolução do alfabeto
Houve um tempo em que ser analfabeto não era nada de mais. Quando nossos antepassados começaram a transformar a fala em símbolos, apenas poucas pessoas podiam ler e escrever. Hoje, a Unesco luta pela educação universal.
Foto: picture-alliance/ ZB
Um amontoado de símbolos
As primeiras evidências de uma cultura escrita na China foram encontradas esculpidas em escápulas de bovinos. Criada por volta de 1.400 a.C., a escrita chinesa conta hoje com 50.000 caracteres, mas quem aprende 3.500 deles já consegue ler cerca de 98% de um texto. Para tal, são necessários alguns anos para dominar o sistema da escrita.
Foto: picture-alliance/dpa
Imagens no lugar de letras
Os primeiros achados de desenhos com conteúdos compreensíveis datam de muito antes: mais de 2 mil figuras e representações foram gravadas cerca de 20 mil anos atrás nas cavernas de Lascaux , no sul da França. Os rabiscos mostram animais e pessoas, mas nenhum símbolo gráfico. Por isso, pesquisadores falam em um precursor da escrita, que o homem da Idade da Pedra usou para representar sua vida.
Foto: picture-alliance/dpa
A escrita cuneiforme
Os primeiros caracteres surgiram aproximadamente 3.300 a.C na Mesopotâmia, o atual Iraque. Por trás da invenção estariam os sumérios, que riscavam em placas de argila com pedras pontiagudas. Inicialmente, o símbolo "pé" representava unicamente a parte do corpo, mas depois também passou a ser associado ao ato de "andar" e, por fim, ao som de "a" – uma verdadeira revolução.
Foto: picture alliance/dpa
Palavras mágicas
Os egípcios batizaram sua escrita de "Medu Netjer", ou palavras de Deus, e atribuíram a ela poderes mágicos. A atual expressão hieróglifo vem do grego e significa gravuras sagradas. Apenas de 1% a 5% dos egípcios eram alfabetizados, e a profissão era altamente respeitada. Dizia-se na época: "Vire escritor, então seus membros ficam lisos e suas mãos, macias."
Foto: picture alliance/akg
O mundo perdido dos maias
Até hoje, muitos textos antigos ainda não foram decifrados. Foi assim que a alta cultura dos maias sucumbiu aos conquistadores espanhóis. Em 1562, o bispo Diego de Landa mandou destruir em massa altares, pinturas e pergaminhos: apenas quatro manuscritos restaram. Arqueólogos conseguiram deduzir 800 símbolos, mas muitos dos enigmas continuam sem resposta.
Foto: SLUB
O latim vira moda
A escrita latina, que ganhou impulso com a expansão do Império Romano, desenvolveu-se a partir do alfabeto grego. Tais letras foram adaptadas para as necessidades dos romanos e somadas a sons como G, Y ou Z. O W apareceu só na Idade Média como a 26ª letra, completando o que viria a ser o alfabeto mais disseminado do mundo atual.
Foto: picture alliance/Prisma Archivo
Caligrafia e textos sagrados
Existem cerca de cem alfabetos pelo mundo. No árabe são usadas duas escritas: uma para o dia a dia e outra para ornamentos caligráficos. Diferentemente do alfabeto hebraico, que durante séculos ficou reservado a textos religiosos. Isso só mudou em 1948, com a fundação do Estado de Israel, quando o hebraico se tornou língua e escrita oficial do país.
Foto: picture alliance/Tone Koene
Uma invenção revolucionária
Este museu em Mainz abriga o livro mais antigo do mundo: a Bíblia. Em 1452, Johannes Gutenberg criou a prensa móvel e se aventurou na impressão das escrituras sagradas. Foram necessários dois anos para imprimir os primeiros 200 exemplares. Mas, sem essa invenção, hoje não haveria livros escolares. Curiosidade: no Havaí, as crianças precisam aprender apenas 12 letras e um símbolo.
Foto: picture-alliance
Do manuscrito à máquina de escrever
Durante séculos, as pessoas escreveram à mão, mas a revolução industrial trouxe facilidades consigo. A pena de ganso foi substituída pela caneta tinteiro e, depois, pela caneta esferográfica – e, por fim, pela máquina de escrever. E isso sempre atendendo às necessidades de cada idioma, seja com um ß para alemães ou com um ã para línguas latinas. Cartas ilegíveis viraram coisa do passado.
Foto: cc-by-sa/Deutsche Fotothek
Bem-vindos ao século 21
Apesar disso, as pessoas continuaram a escrever no papel e a imprimir seus livros como um dia fez Gutenberg – até o lançamento do computador. Antes uma peça gigante usada em pesquisas, hoje o PC é onipresente. Seus códigos binários deram início a uma nova era da escrita. Mas apenas programadores precisam conhecer a sequência de zeros e uns – o que aparece na tela é o alfabeto que nós conhecemos.
Foto: Fotolia/arahan
Alfabetização? Não para todos
Apesar dos avanços tecnológicos, a educação ainda não pode ser considerada um direito adquirido. Milhões de pessoas pelo mundo não sabem ler ou escrever, sobretudo na Índia e na África. Mais afetadas são as meninas e mulheres. Desde 1966, sempre no dia 8 de setembro, a Unesco lembra o quão importante é educação para todos, no Dia Mundial da Alfabetização.