Pesquisa do instituto Datafolha aponta que 69% dos brasileiros acreditam que o melhor regime para o país é o democrático, enquanto 12% apoiam a ditadura "em certas circunstâncias".
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O apoio à democracia entre os brasileiros atingiu o nível mais alto desde 1989, segundo pesquisa divulgada pelo instituto Datafolha nesta quinta-feira (04/10).
O levantamento aponta que 69% dos cidadãos acreditam que o regime democrático é a melhor forma de governo, enquanto 12% disseram que, em "certas circunstâncias", a ditadura seria a melhor opção para o país. Outros 13% disseram que "tanto faz" o tipo de governo, e 5% não opinaram.
Houve um crescimento significativo no apoio ao regime democrático desde a última pesquisa feita pelo Datafolha sobre o tema, em junho, quando a democracia foi preferida por 57% dos entrevistados. O índice mais recente é o mais alto registrado desde o início do levantamento, em 1989, ano da primeira eleição democrática no país após 21 anos de ditadura militar.
Entre os homens, o apoio à democracia é de 71%, já entre as mulheres, o índice é de 67%. Os jovens com idade entre 16 e 24 anos demonstram maior apreço à democracia (apoio de 74%) do que as pessoas com mais de 60 anos (64%). O apoio à democracia entre as pessoas com ensino superior é de 84%; entre os que têm ensino médio, o percentual é de 72%; e de 55% entre os eleitores com ensino fundamental.
O Datafolha avaliou o apoio à democracia também entre os eleitores dos principais candidatos à presidência.
Entre os entrevistados que declararam votar em Jair Bolsonaro (PSL), o apoio à democracia é de 64%, com 22% defendendo um regime ditatorial – o índice mais alto registrado pela pesquisa.
Os eleitores de Fernando Haddad (PT) demonstraram percentual de apoio ao regime democrático de 77% e um baixo índice de apoio a uma ditadura (6%). O maior apoio à democracia registrado pela pesquisa (81%), assim como o menor apoio a um eventual regime ditatorial (5%) foram registrados entre os eleitores de Ciro Gomes (PDT).
Entre os apoiadores do candidato Geraldo Alckmin (PSDB), 69% defendem a democracia como a melhor forma de governo, enquanto 11% apoiariam um regime ditatorial em determinadas circunstâncias.
As pessoas que declararam voto na candidata Marina Silva (Rede) apresentaram o maior índice de indiferença em relação à forma de governo (23%). Entre seus eleitores, 62% apoiam a democracia, enquanto 9% consideram a ditadura como a melhor opção em certas circunstâncias.
O Datafolha entrevistou 10.930 eleitores em 389 municípios nos dias 3 e 4 de outubro. A margem de erro da pesquisa é de 2% para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
RC/ots
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Regime militar que sufocou a democracia se estendeu por 21 anos. Período foi marcado por perseguições, tortura, censura, crescimento e derrocada econômica.
Foto: Arquivo Nacional
A perseguição política
A perseguição de adversários se concentrou nos meses após o golpe de 1964 e entre o final da década de 60 e início dos anos 70. Mais de 5 mil pessoas foram alvo de punições como demissões, cassações e suspensão de direitos políticos. Ao todo, 166 deputados foram cassados. O regime também perseguiu membros em suas fileiras. Pelo menos 6.951 militares foram presos, desligados e presos.
Foto: Arquivo Nacional
Assassinatos e desaparecimentos
Assim como a perseguição política, os assassinatos de opositores promovidos pelo regime se concentraram em algumas fases da ditadura. Mas todos os generais-presidentes foram tolerantes com a prática. A Comissão Nacional da Verdade (CNV) apontou a responsabilidade do regime militar pela morte de 224 pessoas e pelo desaparecimento de 210 – 228 delas morreram durante o governo Médici (1969-1974).
Foto: Arquivo Nacional
Tortura
Na ditadura, a tortura virou uma prática de Estado. Já no governo Castelo Branco (1964-1967) foram apresentadas 363 denúncias de tortura. Na fase de Médici (1969-1974), seriam mais de 3.500. O relatório "Brasil: Nunca Mais" lista 283 formas de tortura aplicadas pelo regime, como afogamentos, choques elétricos e o pau de arara. Ao longo de 21 anos, houve mais de 6 mil denúncias de tortura.
Foto: Arquivo Nacional
A luta armada
Ao dar o golpe, os militares citaram a corrupção e o esquerdismo do governo Jango. A luta armada, às vezes apontada como razão de ser da ditadura, nem foi mencionada. Só em 1966 ocorreram as primeiras ações relevantes de grupos de esquerda, que cometeriam atentados e assaltos com o objetivo de promover uma revolução. Em 1974, todos já haviam sido aniquilados, mas a ditadura duraria mais uma década
Foto: Arquivo Nacional
Os atos institucionais
O regime militar recorreu a uma série de decretos chamados atos institucionais para manter seu poder. Entre 1964 e 1969 foram promulgados 17 atos, que estavam acima até da Constituição. Alguns promoveram a cassação de adversários (AI-1) e a extinção dos partidos políticos existentes (AI-2). O mais duro deles, o AI-5, instituiu em 1968 a censura prévia na imprensa e a suspensão do "habeas corpus".
Foto: Arquivo Nacional
A censura
Boa parte da imprensa apoiou o golpe, mas vários jornais passaram a criticar o regime, alguns mais cedo, outros mais tarde. Com o AI-5, passou a vigorar uma censura prévia em vários meios de comunicação. O regime censurava até más notícias, promovendo uma imagem fictícia da realidade do país. Epidemias, desastres e atentados eram temas vetados. Músicas, filmes e novelas também foram censurados.
Foto: Arquivo Nacional
Colaboração com outras ditaduras
Junto com os regimes da Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai, a ditadura brasileira integrou a Operação Condor, uma aliança para perseguir opositores no Cone Sul. O regime também ajudou a treinar oficiais chilenos em técnicas de tortura. Um dos casos mais notórios de colaboração foi o sequestro em 1978 de dois ativistas uruguaios em Porto Alegre, que foram entregues ao país vizinho.
Foto: Biblioteca da Presidência da República
O milagre econômico...
Após três anos de ajustes, os militares promoveram a partir de 1967 investimentos e oferta de crédito. A fórmula deu resultados. Entre 1967 e 1973, a expansão do PIB brasileiro foi de 10,2% ao ano. O país passou a ser a décima economia do mundo. O crescimento aumentou a popularidade do regime durante a fase mais repressiva da ditadura. Mas o "milagre brasileiro" duraria pouco.
Foto: Arquivo Nacional
... e a derrocada econômica
A conta do "milagre" chegou após os dois choques do petróleo e uma série de decisões desastradas para manter a economia aquecida. Ao fim da ditadura, o país acumulava dívida externa 30 vezes maior que a de 1964 e inflação de 225,9% ao ano. Quase 50% da população estava abaixo da linha de pobreza. Os militares pegaram um país com graves problemas econômicos e entregaram um quebrado.
Foto: Biblioteca da Presidência da República
Corrupção
A censura e a falta de transparência favoreceram a corrupção. O período foi marcado por vários casos, como o Coroa-Brastel, Delfin, Lutfalla e a explosão de gastos em obras. O regime promoveu e protegeu figuras como Paulo Maluf e Antônio Carlos Magalhães, que já nos anos 70 eram suspeitos em casos de corrupção. Também abafou casos, como a compra superfaturada de fragatas do Reno Unido nos anos 70.
Foto: Biblioteca da Presidência da República
Grandes obras
A ditadura promoveu obras faraônicas, divulgadas com propaganda ufanista, como Itaipu e a ponte Rio-Niterói. Algumas foram marcadas por desperdícios e erros, como a Transamazônica e as usinas de Angra. Em 1969, o regime criou uma reserva de mercado para as empreiteiras nacionais ao proibir a atuação de estrangeiras. É nessa época que empresas como a Odebrecht passam a dominar as obras no país.
Foto: Arquivo Nacional
Anistia e falta de punições
Em 1979, seis anos antes do fim da ditadura, foi promulgada a Lei da Anistia, perdoando crimes cometidos por motivação política. Mas ela tinha mão dupla: garantiu também a impunidade para agentes responsáveis por mortes e torturas. No Chile e na Argentina, dezenas de agentes foram condenados por violações de direitos humanos após a volta da democracia. No Brasil, ninguém foi punido.