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Brasil testa nova arma contra a dengue

Clarissa Neher25 de setembro de 2014

Pesquisadores da Fiocruz estudam aplicação de mosquitos "Aedes aegypti" portadores de bactéria que impede transmissão do vírus. Microorganismo não é transmitido a humanos e não oferece riscos ao meio ambiente.

Foto: Fiocruz/Peter Ilicciev

Nesta quarta-feira (24/09), pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) soltaram a primeira leva de Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia no bairro de Tubiacanga, no Rio de Janeiro. Quando inserido no vetor [mosquito transmissor] da doença, o microorganismo consegue bloquear a transmissão do vírus.

A ação da Wolbachia no combate à dengue vem sendo pesquisada desde 2006 por cientistas australianos do programa "Eliminar a dengue: nosso desafio". "Estamos diante de uma estratégia científica inovadora e segura, que poderá contribuir para o controle da dengue e para a melhoria da saúde da população", afirma Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz e líder do programa no país.

Diferentemente de projetos que focam no combate à dengue com mosquitos geneticamente modificados, o método com a Wolbachia é natural. A bactéria é encontrada no meio ambiente em cerca de 60% dos insetos do mundo, incluindo diversas espécies de mosquitos.

Entretanto, na natureza, a Wolbachia não é encontrada em mosquitos vetores de doenças, como o Aedes aegypti e o Anopheles, transmissor da malária. Os cientistas do programa descobriram que, quando inserida no vetor da dengue, a bactéria consegue impedir a transmissão do vírus ao interferir na sua capacidade de desenvolvimento.

Segundo os pesquisadores, o método não oferece risco à saúde humana ou ao meio ambiente, pois a bactéria é intracelular, ou seja, fica dentro das células dos mosquitos e não é transmitida a seres humanos. No mosquito, ela passa de mãe para filho, e, assim, as próximas gerações já nascem com o microorganismo.

Desde 2011, pesquisas de campo estão sendo realizadas na Austrália, Indonésia e Vietnã. Na Indonésia, poucos meses após a liberação dos mosquitos com a Wolbachia, quase 78% da população de Aedes aegypti já carregava o microorganismo. Em algumas regiões da Austrália, o índice foi de 100%.

Ovos de mosquito foram trazidos da Austrália para criar colônia brasileiraFoto: Fiocruz/Gutemberg Brito

Testes aprovados

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa aprovaram a realização de testes de campo no Brasil. Os ovos de mosquito com Wolbachia usados no país foram trazidos da Austrália para criar uma colônia brasileira nos laboratórios da Fiocruz.

O primeiro dos testes está programado para durar de três a quatro meses. Durante esse período, cerca de 10 mil mosquitos serão liberados semanalmente pelos pesquisadores, que irão avaliar se o Aedes aegypti portador da bactéria tem capacidade de se estabelecer no meio ambiente e se reproduzir.

Além da transmissão da dengue, a Wolbachia impede também a propagação da febre chinkungunya. Os cientistas acreditam que o método também pode ser usado para o combate a outras doenças, como malária e febre amarela.

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