Brasil vai exigir quarentena de viajantes não vacinados
8 de dezembro de 2021
Governo anuncia novas regras para entrada no país, que descartam passaporte sanitário mas incluem isolamento de cinco dias para quem não tem imunização completa. Passageiro vacinado e testado está livre da quarentena.
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O governo federal anunciou nesta terça-feira (07/12) que passará a exigir quarentena de cinco dias para viajantes não vacinados contra a covid-19, bem como um teste negativo do tipo RT-PCR. Quem apresentar um comprovante de vacinação, por outro lado, poderá entrar no país apenas com o resultado negativo do exame.
Segundo as novas regras, passageiros não imunizados deverão realizar um teste de covid-19 no quinto dia de quarentena. Apenas se testarem negativo poderão deixar o isolamento.
As medidas foram anunciadas pelos ministros da Saúde, Marcelo Queiroga, da Casa Civil, Ciro Nogueira, e da Advocacia-Geral da União, Bruno Bianco, durante um pronunciamento à imprensa no Palácio do Planalto que não foi aberto a perguntas.
Segundo o governo, o objetivo é promover uma "reabertura das fronteiras" do país em meio à alta taxa de vacinação da população brasileira. Não ficou claro, porém, se as regras serão as mesmas para quem cruzar a fronteira por terra ou por via aérea.
Também não há detalhes sobre como será fiscalizada a quarentena dos não vacinados. Uma portaria deve ser publicada pelo governo federal ainda nesta terça-feira.
Em novembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sugeriu ao governo que passasse a exigir o comprovante de vacinação a quem quisesse ingressar no país por terra, e também que impusesse uma quarentena de cinco dias aos não vacinados que chegassem de avião. A pressão foi redobrada com a descoberta da variante ômicron, possivelmente mais contagiosa.
À época, o jornal Folha de S. Paulo reportou que o presidente Jair Bolsonaro queria apenas reabrir as fronteiras, mas sem exigir o chamado passaporte da vacina.
Ao longo da pandemia, Bolsonaro diminuiu a importância dos imunizantes, distorceu dados sobre segurança e eficácia das vacinas e se negou a ser vacinado, pelo menos publicamente.
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"De novo, porra?"
Nesta terça-feira, antes do anúncio dos ministros, o presidente voltou a criticar a recomendação da Anvisa sobre o passaporte sanitário e minimizou o perigo da ômicron, afirmando que ainda haverá "um monte de variante pela frente".
"Estamos trabalhando agora com a Anvisa, que quer fechar o espaço aéreo. De novo, porra? De novo, vai começar esse negócio? 'Ah, ômicron'. Vai ter um montão de vírus pela frente, um montão de variante pela frente. Talvez. Peça a Deus que eu esteja errado. Mas temos que enfrentar", afirmou Bolsonaro durante um evento.
A afirmação do presidente sobre a Anvisa querer fechar o espaço aéreo, porém, não está correta: a agência apenas sugeriu a exigência de um comprovante de vacinação a quem quiser entrar no país.
ek (Agência Brasil, ots)
Vírus verbal: frases de Bolsonaro sobre a pandemia
"E daí?", "gripezinha", "não sou coveiro", "país de maricas": desde que o coronavírus chegou ao Brasil, presidente tratou publicamente com desdenho a crise. Enquanto a epidemia avança, suas falas causam ultraje.
Foto: Andre Borges/dpa/picture-alliance
"Superdimensionado"
Em 9 de março, em evento durante visita aos EUA, Bolsonaro disse que o "poder destruidor" do coronavírus estava sendo "superdimensionado". Até então, a epidemia havia matado mais de 3 mil pessoas no mundo. Após o retorno ao Brasil, mais de 20 membros de sua comitiva testaram positivo para covid-19.
Foto: Reuters/T. Brenner
"Europa vai ser mais atingida que nós"
A declaração foi dada em 15 de março. Precisamente, ele afirmou: "A população da Europa é mais velha do que a nossa. Então mais gente vai ser atingida pelo vírus do que nós." Segundo a OMS, grupos de risco, como idosos, têm a mesma chance de contrair a doença que jovens. A diferença está na gravidade dos sintomas. O Brasil é hoje o segundo país mais atingido pela pandemia.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/GDA/O Globo
"Gripezinha" e "histórico de atleta"
Ao menos duas vezes, Bolsonaro se referiu à covid-19 como "gripezinha". Na primeira, em 24 de março, em pronunciamento em rede nacional, ele afirmou, que, por ter "histórico de atleta", "nada sentiria" se contraísse o novo coronavírus ou teria no máximo uma “gripezinha ou resfriadinho”. Dias depois, disse: "Para 90% da população, é gripezinha ou nada."
Foto: Youtube/TV BrasilGov
"Todos nós vamos morrer um dia"
Após visitar o comércio em Brasília, contrariando recomendações deu seu próprio Ministério da Saúde e da OMS, Bolsonaro disse, em 29 de março, que era necessário enfrentar o vírus "como homem". "O emprego é essencial, essa é a realidade. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós vamos morrer um dia."
Foto: Reuters/A. Machado
"A hidroxicloroquina tá dando certo"
Repetidamente, Bolsonaro defendeu a cloroquina para o tratamento de covid-19. Em 26 de março, quando disse que o medicamento para malária "está dando certo", já não havia qualquer embasamento científico para defender a substância. Em junho, a OMS interrompeu testes com a hidroxicloroquina, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/F. Taxeira
"Vírus está indo embora"
Em 10 de abril, o Brasil ultrapassou a marca de mil mortos por coronavírus. No mundo, já eram 100 mil óbitos. Dois dias depois, Bolsonaro afirmou que "parece que está começando a ir embora essa questão do vírus". O Brasil se tornaria, meses depois, um epicentro global da pandemia, com dezenas de milhares de mortos.
Foto: Reuters/A. Machado
"Eu não sou coveiro"
Assim o presidente reagiu, em frente ao Planalto, quando um jornalista formulava uma pergunta sobre os números da covid-19 no Brasil, que já registrava mais de 2 mil mortes e 40 mil casos. “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?”, afirmou Bolsonaro em 20 de abril.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Borges
"E daí?"
Foi uma das declarações do presidente que mais causaram ultraje. Com mais de 5 mil mortes, o Brasil havia acabado de passar a China em número de óbitos. Era 28 de abril, e o presidente estava sendo novamente indagado sobre os números do vírus. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre...”
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Vou fazer um churrasco"
Em 7 de maio, o Brasil já contava mais de 140 mil infectados e 9 mil mortes. Metrópoles como Rio e São Paulo estavam em quarentena. O presidente, então, anunciou que faria uma festinha. "Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha...". Dias depois, voltou atrás, dizendo que a notícia era "fake".
Foto: Reuters/A. Machado
"Tem medo do quê? Enfrenta!"
Em julho, o presidente anunciou que estava com covid-19. Disse que estava "curado" 19 dias depois. Fora do isolamento, passou a viajar. Ao longo da pandemia, ele já havia visitado o comércio e participado de atos pró-governo. Em Bagé (RS), em 31 de julho, sugeriu que a disseminação do vírus é inevitável. "Infelizmente, acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!”
Foto: Reuters/A. Machado
"País de maricas"
Em 10 de novembro, ao celebrar como vitória política a suspensão dos estudos, pelo Instituto Butantan, da vacina do laboratório chinês Sinovac após a morte de um voluntário da vacina, Bolsonaro afirmou que o Brasil deveria "deixar de ser um país de maricas" por causa da pandemia. "Mais uma que Bolsonaro ganha", comentou.
Foto: Andre Borges/NurPhoto/picture alliance
"Chega de frescura, de mimimi"
Em 4 de março de 2021, após o país registrar um novo recorde na contagem diária de mortes diárias por covid-19, Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia, e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando". Ele ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.