"Brasil vive uma de suas provas mais difíceis", diz papa
16 de abril de 2021
Francisco manifesta solidariedade com familiares de mortos pela covid-19 no país, apontando que "pandemia não excluiu ninguém no seu rastro de sofrimento". Crise só será superada com união, afirma.
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O papa Francisco manifestou nesta quinta-feira (15/04) solidariedade com as centenas de milhares de famílias que sofrem com a perda de um ente querido no momento em que o Brasil enfrenta "uma das provas mais difíceis da sua história" devido à pandemia de covid-19.
Francisco falou sobre a grave situação no Brasil numa mensagem em vídeo enviada aos participantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que desta vez reúne 485 bispos de forma virtual.
"Jovens e idosos, pais e mães, médicos e voluntários, ministros sagrados, ricos e pobres: a pandemia não excluiu ninguém no seu rastro de sofrimento", afirmou o pontífice. Ele pediu a Deus que conforte os familiares das vítimas da covid-19, lembrando que muitos sequer puderam se despedir.
O papa convidou os bispos a acompanhar o povo que sofre e a dar consolo aos familiares. "A caridade nos urge a chorar com os que choram e a dar uma mão, sobretudo aos mais necessitados, para que voltem a sorrir."
Francisco disse que atuar como "instrumento de reconciliação e unidade" é a missão da Igreja Católica no Brasil, "hoje mais do que nunca". O pontífice instou a Igreja a deixar suas "divisões e desacordos” e a ser um "exemplo de humanidade”.
Dessa forma, continuou, a sociedade e os governantes do Brasil serão inspirados a "trabalhar juntos para superar não só o coronavírus, mas também outro vírus, que há muito infeta a humanidade: o vírus da indiferença, que nasce do egoísmo e gera injustiça social".
"É possível superar a pandemia. É possível superar suas consequências, mas só o conseguiremos se estivermos unidos", disse o papa. "A conferência episcopal deve ser uma neste momento, pois o povo que sofre é um."
Com mais de 365 mil mortos, o Brasil é o segundo país com mais óbitos ligados à covid-19 no mundo, depois dos Estados Unidos. O número de infectados passa de 13,7 milhões, fazendo do país o terceiro em número de casos, depois dos EUA e da Índia.
O Brasil vive o pior momento da pandemia, com hospitais sobrecarregados e filas por leitos de UTI. Março foi o mês mais mortal da epidemia no país, com mais de 66 mil óbitos, e especialistas afirmam que abril terminará com um saldo ainda pior.
lf (AFP, Lusa, ots)
Pandemia no Brasil pelos olhos de um fotógrafo de guerra
Após cobrir conflitos em 35 países, o fotógrafo francês Jonathan Alpeyrie dirigiu suas lentes à evolução da pandemia de covid-19 no Rio de Janeiro e Manaus. Um painel contundente.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Um rosto aos mortos
Com uma média diária de quase 4 mil mortos, o Brasil é um dos países mais atingidos pela pandemia. O fotógrafo francês Jonathan Alpeyrie esteve lá no terceiro trimestre de 2020, também para dar um rosto às muitas vítimas da covid-19. Como neste enterro no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, um dos maiores da América do Sul.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Último adeus com distanciamento
Morto pelo novo coronavírus, um sexagenário, membro importante da comunidade da Favela Santa Marta, no bairro de Botafogo, é levado para o túmulo por funcionários de vestes protetoras. Os moradores dos bairros cariocas mais pobres têm sido vítimas numerosas da fúria do vírus e de uma política de saúde mais do que caótica.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Boas intenções não bastam
Não faltam iniciativas bem intencionadas de mitigar os efeitos letais do vírus potente, veloz e em frequente mutação. Porém elas não bastam para compensar as falhas de um sistema de saúde cronicamente deficiente e de uma liderança política contraditória e mesmo irresponsável. A pandemia avança: o Instituto Oswaldo Cruz não descarta que, em breve, as mortes diárias cheguem a 5 mil ou mais.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Em meio à guerra da pandemia
O francês Jonathan Alpeyrie é um repórter de guerra clássico. Suas foto-reportagens já o levaram à Síria, Ucrânia, Afeganistão e a focos de conflito na África, entre outros. Em 2020 ele esteve em Manaus, onde a variante P.1 do coronavírus foi detectada pela primeira vez. Cientistas temem que ela seja duas vezes mais contagiosa do que a cepa original.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Cavando novas sepulturas
Atualmente pesquisadores partem do princípio que a virulenta mutação P.1 seja a predominante em todo o Brasil. O presidente Jair Bolsonaro é com frequência cada vez maior responsabilizado pelo descontrole da pandemia, após ter minizado a ameaça por tanto tempo. Neste cemitério de Manaus, novas sepulturas tiveram que ser cavadas em ritmo acelerado, para comportar os muitos mortos a cada dia.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Impacto econômico no Norte
O coronavírus já alcançou os recantos mais distantes do Amazonas, vitimando em especial as populações mais frágeis, como a indígena. Os jovens da foto vivem em palafitas a uma hora da capital. A pandemia os atinge também economicamente, pois, com o desaparecimento dos turistas, vão-se também suas possibilidades de ganhar a vida.
Foto: Jonathan Alpeyrie
Fé, a última que morre
Com tantas incertezas, a muitos brasileiros só resta mesmo a fé para ajudá-los a atravessar o dia a dia sem desesperar. Na Favela Santa Marta do Rio de Janeiro, este pastor abençoa os moradores: ao lado da pobreza, narcotráfico, ocupação policial e outras formas de violência, agora seu novo desafio é também sobreviver ao coronavírus.