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Brasil vota contra condenação de embargo a Cuba

8 de novembro de 2019

Pela primeira vez em 27 anos, país cede à pressão dos EUA e deixa de condenar embargo econômico contra a ilha em votação na ONU. "Chega de bajular Cuba", diz ministro das Relações Exteriores.

Bandeira de Cuba
O embargo econômico americano a Cuba existe desde 1962Foto: picture alliance/NurPhoto/A. Widak

Pela primeira em 27 anos, o Brasil se juntou aos Estados Unidos e votou contra uma resolução que é apreciada anualmente na Assembleia Geral da ONU para condenar o embargo econômico americano contra Cuba.

A Assembleia Geral, de 193 membros, adotou nesta quinta-feira (07/11) a resolução por esmagadora maioria pelo 28º ano seguido, com 187 votos favoráveis.

Colômbia e Ucrânia se abstiveram, e Israel foi o terceiro país a votar contra. A Moldávia, antiga república soviética, não votou. A votação da ONU tem peso político, mas somente o Congresso dos Estados Unidos pode revogar o embargo, que já dura mais de 50 anos.

O voto brasileiro reverte uma tradição diplomática brasileira que remonta a 1992, quando a resolução foi votada pela primeira vez. A mudança reforça o alinhamento do governo Jair Bolsonaro com a administração de Donald Trump, mas contraria interesses de empresas brasileiras.

A fabricante brasileira de cigarros Souza Cruz, que pertence à British American Tobacco, tem uma joint-venture em Havana que produz a maioria dos cigarros em Cuba.

A nova posição brasileira também contrasta com a de outros países próximos dos EUA, alguns altamente dependentes de ajuda militar ou econômica, como a Colômbia e a Ucrânia, que se abstiveram. Já a Guatemala, único país que acompanhou Washington na transferência de sua embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, votou a favor da resolução.

Após a votação, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, defendeu a mudança de curso do país. Em mensagens no Twitter, ele disse que o "Brasil votou a favor da verdade" e que é preciso deixar de "bajular Cuba".

"Nada nos solidariza com Cuba. O regime cubano, desde sua famigerada revolução 60 anos atrás, destruiu a liberdade de seu próprio povo, executou milhares de pessoas, criou um sistema econômico de miséria e, não satisfeito, tentou exportar essa 'revolução' para a América Latina", escreveu.

Já a abstenção da Colômbia resulta de um esfriamento de suas relações com Havana. Cuba chegou a sediar conversas de paz entre a Colômbia e seu grupo rebelde Exército de Libertação Nacional (ELN), mas a recusa cubana em extraditar três comandantes guerrilheiros depois que as negociações fracassaram provocaram críticas do governo do presidente Iván Duque.

A Colômbia se absteve de votar por causa da "atitude hostil" de Cuba em relação aos seus pedidos de extradição dos "terroristas confessos" e de seu apoio ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse o Ministério das Relações Exteriores colombiano em um comunicado.

Os EUA vêm votando contra as resoluções da ONU de forma constante há mais de duas décadas, mas se abstiveram pela primeira vez em 2016, no governo do ex-presidente Barack Obama, quando Washington e Havana se aproximaram. Mas as relações se deterioraram no governo Trump, que endureceu as restrições ao comércio e viagens que seu antecessor, Obama, havia afrouxado.

"Os Estados Unidos não são responsáveis pelos abusos sem fim do regime cubano contra seu povo", disse a embaixadora americana na ONU, Kelly Craft, à Assembleia Geral antes da votação.

"Nossa primeira responsabilidade como líderes é defender aqueles sem voz, hoje em especial o povo de Cuba. Que sejamos cobertos de vergonha se nos recusarmos a levantar nossas vozes em defesa às deles", afirmou Craft.

O embargo econômico americano a Cuba existe desde 1962, mas as primeiras medidas para isolar a ilha começaram a ser implementadas em 1960, um ano após Fidel Castro tomar o poder.

JPS/rt/ots

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