Brasileiro "Bacurau" leva Prêmio do Júri em Cannes
25 de maio de 2019
Filme de Kleber Mendonça Filho é o primeiro longa brasileiro a ganhar o terceiro prêmio mais importante do festival de cinema francês. Palma de Ouro vai para "Parasite", do sul-coreano Bong Joon-ho.
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O filme brasileiro Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, venceu neste sábado (25/05) o Prêmio do Júri, considerado o terceiro mais importante do Festival de Cannes. É a primeira vez que um longa brasileiro é reconhecido nessa categoria.
Bacurau, que foi exibido no festival francês em 15 de maio com a presença dos dois diretores e parte do elenco, dividiu o Prêmio do Júri com o filme francês Les misérables, de Ladj Ly.
"Faz 20 anos que eu venho ao Festival de Cannes. No começo como um jornalista. Ganhar este Prêmio do Júri significa muito", afirmou Mendonça Filho, após receber a honraria do cineasta americano Michael Moore.
O codiretor Dornelles, por sua vez, dedicou ao prêmio "a todos os trabalhadores brasileiros da ciência, da educação e da cultura", áreas afetadas por medidas recentes do presidente Jair Bolsonaro – Bacurau, inclusive, vem carregado de críticas e referências à atual situação política brasileira.
"Somos os embaixadores da cultura no Brasil", acrescentou Mendonça Filho, ao lembrar que o filme A vida invisível de Eurídice Gusmão, de Karim Aïnouz, ganhou na sexta-feira o prêmio principal da mostra Um Certo Olhar, a segunda mais importante de Cannes. Foi a primeira vez que um longa brasileiro venceu a principal competição paralela do festival.
Bacurau é interpretado por Sônia Braga e o alemão Udo Kier e foi rodado na divisa da Paraíba com o Rio Grande do Norte. Ele conta a história de uma comunidade que desaparece do mapa após a morte da matriarca. No Brasil, o longa estreia em 30 de agosto.
O pernambucano Mendonça Filho retorna a Cannes três anos após disputar a Palma de Ouro com Aquarius, também estrelado por Sônia Braga. Na ocasião, ele protagonizou um protesto contundente no tapete vermelho contra o então presidente Michel Temer.
A Palma de Ouro, principal prêmio de Cannes, foi para Parasite, do sul-coreano Bong Joon-ho. O filme é uma sátira centrada em duas famílias, uma rica e uma pobre, e os abismos sociais entre elas. É o primeiro filme da Coreia do Sul a levar a Palma de Ouro.
Já o segundo maior troféu do festival, o Grande Prêmio, foi para Atlantics, da diretora franco-senegalesa Mati Diop – a primeira diretora negra a competir em Cannes.
O Brasil só venceu a Palma de Ouro uma vez, em 1962, com o filme O pagador de promessas, de Anselmo Duarte. Em 1969, o cineasta Glauber Rocha levou o prêmio de melhor diretor por O dragão da maldade contra o santo guerreiro.
Confira os ganhadores desta edição:
Palma de Ouro
Parasite, de Bong Joon-ho (Coreia do Sul)
Grande Prêmio
Atlantics, de Mati Diop (França)
Prêmio do Júri
Bacurau, de Kleber Mendonça Filho (Brasil), e Les Miserables, de Ladj Ly (França)
Melhor diretor
Jean-Pierre e Luc Dardenne (Bélgica), por Young Ahmed
Melhor atriz
Emily Beecham (Reino Unido), por Little Joe
Melhor ator
Antonio Banderas (Espanha), por Dor e glória
Melhor roteiro
Portrait of a lady on fire, de Celine Sciamma (França)
Na história da sétima arte, não faltam projetos fracassados e obras-primas idealizadas por diretores renomados que nunca conseguiram ser exibidas – de Stanley Kubrick a Orson Welles e Alfred Hitchcock.
Foto: picture-alliance/Everett Colle/20thCentFox
'Napoleon', de Kubrick: jamais filmado
Um épico sobre Napoleão Bonaparte era para ser o filme mais elaborado de Stanley Kubrick, mas o projeto fracassou apesar do roteiro e dos figurinos já prontos. Para os produtores, um fator de desistência foi o malogro financeiro da megaprodução 'Waterloo', de Sergei Bondarchuk. Mas os preparativos de Kubrick não foram em vão: uma parte do material foi usada em seu filme 'Barry Lyndon' (1975).
Foto: Taschen
Falta de sorte para os filmes de Eisenstein
No início dos anos 1930, o famoso diretor Sergei Eisenstein planejou, mas acabou não conseguindo filmar uma obra intitulada 'Que viva Mexico!' em Hollywood. Uma segunda tentativa, um filme sobre a história do México, também não teve êxito. O material filmado acabou sendo usado em vários documentários.
Foto: Icestorm
Orson Welles e seus projetos incompletos
Orson Welles talvez seja o mestre dos filmes inacabados. O número de obras clássicas é superado pelo de projetos nunca finalizados. O mais célebre deles é 'The Other Side of the Wind' ('O outro lado do vento'). Welles começou a filmá-lo nos anos 1980, mas morreu antes de as filmagens terminarem. A plataforma online Netflix restaurou e completou o filme, que deverá ser lançado também no cinema.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
O último filme de Marilyn Monroe
Quando as filmagens começaram em 1962, ninguém sabia que este seria o último filme de Marilyn Monroe. Dirigido por George Cukor, 'Something's Got To Give' parece ter sido condenado ao fracasso porque Monroe abandonou a produção diversas vezes. Lee Remick foi escalada para substituí-la, mas foi vetada pelo ator principal, Dean Martin. Um documentário posterior mostra 37 minutos da obra inacabada.
Foto: picture-alliance/Everett Colle/20thCentFox
'Hell', experiência com cores
A icônica atriz alemã Romy Schneider deveria ter estrelado um famoso filme inacabado: 'L'Enfer' ('O Inferno'), de Henri-George Clouzot (1964). A produção se tornou um pesadelo, inclusive porque Clouzot teve um infarto. Posteriormente, o diretor usou alguns takes sensacionais de Schneider em seu último filme. Em 2009, foi lançado um documentário explorando por que 'O Inferno' nunca foi finalizado.
Foto: Kinowelt
Jerry Lewis e os palhaços chorões
De Jerry Lewis, 'The Day the Clown Cried' é um dos projetos mais misteriosos da história do cinema. O objetivo era narrar uma história da Alemanha nazista por meio do humor. O comediante americano dirigiu e estrelou o drama de 1972. Apesar de finalizado, o filme nunca foi exibido publicamente devido a problemas legais e à insatisfação de Lewis com o resultado.
Foto: STF/AFP/Getty Images
A megalomania de Francis Ford Coppola
Francis Ford Coppola também trabalhou em vários projetos que nunca avançaram. Entre eles, 'Megalópolis', de 1984 – o script de 200 páginas sobre uma disputa entre um arquiteto e um prefeito em relação ao futuro de Nova York nunca foi transformado em filme.
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Rebours
Sonho não realizado: 'Leningrado'
Nos anos 1980, o diretor italiano Sergio Leone, habituado a épicos (a foto o mostra no set de filmagens de 'Era uma vez no Oeste' em 68), queria filmar uma obra sobre o cerco dos nazistas a Leningrado durante a Segunda Guerra Mundial. O filme nunca foi realizado, uma vez que o diretor morreu em 1989, aos 60 anos, devido a problemas cardíacos.
Foto: picture-alliance/dpa/Cinecitta Press Office
Alfred Hitchcock e mais sonhos frustrados
Até o "mestre do suspense" Alfred Hitchcock não conseguiu finalizar todas as suas ideias. No final dos anos 1950, ele queria filmar 'No Bail for the Judge' (algo como 'Sem fiança para o juiz'), baseado no livro homônimo de Henry Cecil. Estrelado por Audrey Hepburn, o filme era sobre um juiz acusado de assassinar uma prostituta. Mas houve problemas, Hepburn recuou e Hitchcock tocou outros projetos.
Foto: Imago/Granata Images
Final feliz: 'The Man Who Killed Don Quixote'
As filmagens do lendário projeto sobre Dom Quixote, de Terry Gilliam, começaram em 2000, apenas para serem adiadas e interrompidas repetidamente por uma série de razões. Com o passar dos anos, os atores e até a história mudaram. O filme finalmente estreou nas telas de cinema no Festival de Cannes de 2018.
Foto: Diego Lopez Calvin/Tornasol Films/Carisco Producciones