Brasileiro Julián Fuks vence prêmio literário alemão
24 de abril de 2018
Escritor paulistano e autora berlinense Manja Pränkels dividem Prêmio Anna Seghers, concedido há mais de três décadas a jovens talentos da literatura de língua alemã e da América Latina.
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Os vencedores deste ano do Prêmio Anna Seghers de literatura são o escritor brasileiro Julián Fuks e a autora berlinense Manja Präkels, divulgou nesta segunda-feira (23/04) a assessoria de imprensa da fundação responsável pelo prêmio literário alemão. A cerimônia de premiação ocorrerá em 23 de novembro, na Academia das Artes de Berlim.
Pela primeira vez desde 2012, dois autores são homenageados com o Prêmio Anna Seghers, destinado a jovens talentos da literatura de língua alemã e da América Latina. O valor do prêmio, concedido desde 1986, é de 8 mil euros.
Fuks, nascido em 1981 em São Paulo, filho de pais argentinos, ganhou recentemente notoriedade com seu livro A resistência (Companhia das Letras, 2015), que venceu o Prêmio Jabuti e também o renomado Prêmio José Saramago.
A obra tematiza a Guerra Suja – o regime adotado em meio à ditadura militar argentina, a partir de 1976 – e o exílio no Brasil. "Uma expedição pessoal ao passado - político e emocional - de uma família latino-americana às voltas com uma feroz ditadura e com a agridoce experiência do exílio", resume a Companhia das Letras.
Fuks, que além de escritor é tradutor e crítico literário, estreou em 2004 com a coletânea de contos Fragmentos de Alberto, Ulisses, Carolina e eu. Seus dois primeiros romances, Histórias de literatura e cegueira (2007) e Procura do romance (2012), renderam-lhe elogios da crítica literária e foram finalistas do Prêmio Jabuti. Em 2012, a revista literária Granta coroou Fuks como um dos escritores mais promissores da literatura brasileira.
Präkels, por sua vez, recebeu o Prêmio Anna Seghers por seu primeiro romance, Als ich mit Hitler Schnapskirschen aß (Quando eu jantei cerejas de conhaque com Hitler, em tradução livre), de 2017, com o qual a escritora e cantora foi também nomeada para o Prêmio da Literatura Jovem Alemã de 2018.
Na obra, Präkels usa o exemplo de uma cidade pequena em Brandemburgo para descrever como o culto ao nazismo preenche o vácuo que surgiu após a queda do Muro de Berlim, ocupa locais públicos e alimenta a violência.
O Prêmio Anna Seghers e leva o nome da escritora alemã, morta em 1983 e que ficou famosa por retratar a experiência moral da Segunda Guerra Mundial. Ela deixou em seu testamento o desejo de que os rendimentos obtidos com suas obras fossem usados para incentivar jovens talentos da literatura.
"As obras de Anna Seghers são lidas, encenadas e filmadas como nunca", disse Hans-Willi Ohl, presidente da Fundação Anna Seghers. "Torna-se claro que os textos de Seghers, com sua qualidade poética e sua primazia política, ainda têm muito a dizer nos dias de hoje."
PV/ots
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Curiosidades sobre o Nobel de Literatura
O homenageado mais jovem, os mais controversos, os que não quiseram buscar o prêmio e outras curiosidades do Nobel de Literatura, que é concedido desde 1901.
Foto: picture alliance/dpa/V.Bucci
Por livro antigo
Quando Thomas Mann recebeu o Nobel de Literatura em 1929, não foi pela sua então obra mais recente, "A montanha mágica". O escritor foi homenageado por seu romance anterior, "Os Buddenbrook". Os jurados do Nobel na Suécia consideraram ""A montanha mágica" muito "prolixo e pesado", por isso optaram por uma obra mais antiga.
Foto: picture-alliance/dpa/Bifab
"Outros compromissos" mais importantes
Bob Dylan foi o primeiro músico a ganhar o Nobel de Literatur em 2016. Embora muitos músicos tenham celebrado o fato, Dylan demonstrou dar pouca importância ao prêmio. Ele não só não compareceu à cerimônia de entrega, alegando outros compromissos, como não enviou nenhum discurso para ser lido em sua ausência. Em março de 2017, então, ele deu uma passada por Estocolmo par apanhar sua medalha.
Foto: picture alliance/dpa/V.Bucci
Medo de aglomeração humana
Também a escritora austríaca Elfriede Jelinek não compareceu à cerimônia de premiação em 2004. Na época, alegou sentir medo em aglomerações humanas e da popularidade repentina: "Não estou em condições psíquicas de me expor a isso". Mas ela ao menos mandou um discurso por vídeo.
Foto: Imago/Leemage/S. Bassouls
Ameaça do regime soviético
O autor russo Boris Pasternak, famoso pelo romance "Doutor Jivago", foi homenageado em 1958. Seu governo, no entanto, o ameaçou de expatriação se aceitasse o prêmio. Pasternak não cedeu à pressão, o que lhe valeu a saída da Associação dos Escritores da União Soviética. Apesar de tudo, Pasternak permaneceu no país. A medalha pelo Nobel foi apanhada pelo filho dele em Estocolmo em 1989.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass
Outro prêmio controverso
A elite literária se indignou em 1997, alegando que o italiano Dario Fo, homenageado naquele ano com o Nobel de Literatura, era apenas um "bufão divertido e não um autor de classe mundial". Ao que o escritor respondeu com um discurso memorável ao receber o prêmio da Academia sueca.
Foto: Vittorio Zunino Celotto/Getty Images
Nobel pela retórica
Por duas vezes, o então premiê britânico Winston Churchill esteve na lista de nomeados ao Nobel da Paz. Até que, em 1953, ele recebeu o prêmio, mas de Literatura. O júri elogiou sua "maestria na descrição histórica e biográfica" e por sua "brilhante oratória, em que defende os valores humanos".
Foto: picture-alliance/AP-Photo
Interesse pelo dinheiro do prêmio
Em 1969, o prêmio foi para o francês Jean-Paul Sartre. Mas ele surpreendentemente o negou, alegando que "todo prêmio cria a dependência". Mais estranho ainda foi que, alguns anos mais tarde, ele discretamente perguntou junto ao Comitê Nobel se não seria possível receber as 273 mil coroas suecas do prêmio.
Foto: picture alliance/AP Images
O mais jovem
O britânico Joseph Rudyard Kipling é o mais jovem agraciado com o Nobel de Literatura. Ele o recebeu em 1907, com 41 anos de idade, por suas histórias curtas e poemas sobre o tempo que passou na Índia e por suas famosas histórias infantis como "O livro da selva". Ele também foi o primeiro escritor britânico a ganhar o Nobel de Literatura.