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Carnaval das Culturas

11 de junho de 2011

Carnaval das Culturas apresenta festas, desfiles e workshops que celebram multiculturalismo de Berlim nas ruas do bairro de Kreuzberg. Apesar de polêmicas, grupos de cultura brasileira são maioria e brilham na avenida.

Evento ocorre nas ruas de Kreuzberg
Evento ocorre nas ruas de KreuzbergFoto: AP

O verão em Berlim é uma época de celebração. No final da tarde as ruas, bares e parques são tomados pelos moradores, que buscam celebrar a liberdade de poder sentar ao ar livre, beber uma cerveja, caminhar descalço na grama ou de cruzar a cidade de bicicleta. Neste fim de semana um dos maiores eventos do ano festeja as cores, culturas e nações que vivem na cidade.

O Carnaval das Culturas foi criado em 1996 para celebrar a riqueza multicultural de Berlim, onde hoje vivem mais de 450 mil imigrantes, sem contar os cidadãos alemães de diferentes origens étnicas. Inicialmente planejado apenas como uma parada de rua, o evento foi crescendo a cada ano e hoje conta também com uma feira de rua, uma festa para crianças, workshops e diversos eventos paralelos.

No ano passado, o Carnaval contou com quase 5 mil artistas, profissionais e não profissionais, que desfilaram na parada que acontece no domingo para um público de mais de 1,35 milhão de espectadores.



Carnaval dos brasileiros

Apesar do formato mais europeu, com inspiração em carnavais de rua como o de Notting Hill em Londres, a cultura brasileira exerce um papel muito forte no evento. Uma das pioneiras na festa é a pernambucana Sonya Cipriano, que vive na cidade desde 1990. A dançarina é dona de um dos primeiros estúdios de danças brasileiras da Alemanha e desde a primeira edição participa do Carnaval das Culturas.

"Trabalhava no Werkstatt der Kultur [Oficina da Cultura, órgão organizador do Carnaval] e já participava do grupo coordenador. Desde que abri o meu estúdio em 2002, desfilo com meus alunos de uma forma simples e suave. Eles querem mostrar o que aprendem nas aulas e todos querem se divertir", disse a empresária.

Pela sexta vez participando do Carnaval, o também pernambucano Carlos Silva é o líder da associação Locomotiva do Frevo, que além do frevo também leva à avenida outros ritmos regionais nordestinos, como o maracatu, a ciranda e o cavalo-marinho.

Nos primeiros anos, Silva estranhou a relação entre público e artista no Carnaval berlinense. "Aqui existe uma distância maior entre o público e o artista. Fazemos o show e eles aplaudem. Apesar da diferença, temos uma energia muito boa do público, mas não se compara com o Carnaval do Brasil", completou o dançarino.

Samba em Berlim



O grande vencedor das edições anteriores do Carnaval das Culturas não poderia deixar de ser uma escola de samba. A Sapucaiu no Samba foi fundada em 1998 pelo alemão Dietrich Kollöffel, que já tocava samba desde então. Durante temporada no Brasil, em 1998, ele se apresentava ao lado de um belga, de um francês e de um japonês, com o Bloco dos Gringos.

Ele voltou à Alemanha e começou a formar a bateria que se tornou a Sapucaiu no Samba. Hoje são mais de 200 pessoas na avenida, entre dançarinos e músicos vindos de toda a Europa, acompanhados de samba-enredo próprio e carro alegórico.

Inspirado no Carnaval carioca, ele acredita que o sucesso do grupo está na qualidade da bateria, na estrutura e nos diversos elementos que compõem a escola. "A preparação é difícil, mas ver a escola na avenida me deixa muito orgulhoso", completa Kollöffel.

Falta de incentivo

Nesse ano uma polêmica foi levantada pelo tradicional grupo Afoxé Loni, que anualmente abre o evento lavando as ruas e apresentando a procissão inspirada no candomblé. O grupo não irá participar do Carnaval das Culturas a partir de 2012 por falta de apoio financeiro dos organizadores do evento.

"O Carnaval está muito comercial e pouco cultural. Todo mundo envolvido no evento ganha, menos o artista", declarou Carlos Silva, que pensa em abandonar o evento caso não haja mudanças. "Não tenho nenhum retorno com o Carnaval, mas muitos custos. Quero apresentar algo bonito e profissional, mas muitos amigos artistas estão preferindo ir vender caipirinha e ganhar dinheiro a se apresentar e ter prejuízo", disse Silva.



Outros grupos tentam achar uma solução com aquilo que o evento tem a oferecer. Sonya Cipriano encara a festa como um Carnaval comunitário. Os alunos de seu estúdio que querem sair no carnaval pagam uma taxa e participam de workshops onde desenvolvem e confeccionam os figurinos. Seu bloco sai acompanhado da percussão da Banda Furiosa, o que elimina gastos com carro de som. "O Carnaval de Kreuzberg é mais simples, aberto e comunitário. Não posso ter a referência do Brasil”, completa Sonya Cipriano.

Já a Sapucaiu no Samba conta com o dinheiro dos membros da bateria e com muito trabalho, organização e patrocínio para poder desfilar no evento. Ambos os grupos apoiam o Afoxé Loni e ressaltam a importância artística do grupo para a festa. Eles estarão presentes no ato de apoio ao grupo que acontecerá no domingo após o desfile.

Apesar das polêmicas, para quem mora ou visita a cidade, o Carnaval é uma celebração positiva e a participação brasileira grande e importante. "Enquanto eu viver, quero representar minha cultura, estar à frente do meu bloco. Mesmo com todas as dificuldades", declarou Sonya Cipriano.

Autor: Marco Sanchez
Revisão: Carlos Albuquerque

Afoxé Loni ameaça não participar do evento em 2012Foto: DW/Eva Usi
Sapucaiu no Samba é pentacampeã do Carnaval das CulturasFoto: Elton Hubner
Bloco Tangará de Sonya CiprianoFoto: Elton Hubner
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