Brasileiros devem deixar Gaza até quarta-feira, diz ministro
4 de novembro de 2023
Informação foi confirmada pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, após negociações por telefone com o homólogo israelense.
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O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, afirmou nesta sexta-feira (03/11) que os 34 cidadãos – 24 brasileiros e dez palestinos – que aguardam autorização para deixar a Faixa de Gaza devem cruzar a fronteira rumo ao Egito até a próxima quarta-feira.
Segundo Vieira, as negociações avançaram após conversas telefônicas com o ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen.
"Tive uma conversa telefônica, a quarta, com o ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen, e ele me garantiu que até quarta-feira todos os brasileiros que estão em Gaza poderão sair pela passagem de Rafah", disse o chanceler a jornalistas, destacando que a liberação ainda pode ocorrer antes desse prazo, embora a garantia tenha sido dada para a próxima quarta.
O acesso ao Egito, de acordo com Vieira, deverá ser providenciado pelas embaixadas do Brasil em Ramallah, na Cisjordânia, e também no Egito, de onde os brasileiros têm previsão de embarque em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) que já está no país.
"Foi um processo de conversa, de negociação de alguns dias e, hoje, tive essa boa notícia", acrescentou.
Até quinta-feira, os brasileiros estavam fora da lista de cidadãos estrangeiros ou com dupla nacionalidade autorizados a deixar a Faixa de Gaza pela passagem de fronteira com o Egito, após quase quatro semanas de conflito entre Israel e o grupo fundamentalista islâmico Hamas.
A passagem egípcia de Rafah, a única saída de Gaza não controlada por Tel Aviv, foi aberta pela primeira vez na quarta-feira, após um acordo firmado entre os governos de Egito e Israel, sob mediação do Catar em coordenação com os Estados Unidos.
Brasileiros em Gaza
Do total de 34 pessoas com destino ao Brasil, 18 já estão na cidade de Rafah, na fronteira com o Egito, e 16 estão em Khan Yunis, a dez quilômetros de distância.
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Governos estrangeiros afirmam que, entre os 2,4 milhões de habitantes do enclave palestino, há titulares de passaportes de 44 países, bem como de 28 agências, incluindo organismos da ONU. Esses estrangeiros somariam cerca de 7.500 pessoas em Gaza. O Egito estima que, conforme o acordo de evacuação, 500 pessoas cruzem diariamente a fronteira.
Brasil resgatou quase 1.500 pessoas
Enquanto brasileiros em Gaza esperam para deixar o enclave sitiado, outras centenas de pessoas já foram resgatadas pelo Brasil da região de conflito.
Desde o início da guerra, aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), em operação coordenada com os ministérios da Defesa e das Relações Exteriores, já retiraram 1.445 pessoas e 53 animais. Nesta quinta, mais um voo chegou ao país com 32 passageiros vindos da Cisjordânia.
"O Itamaraty providenciou veículos e garantiu a passagem dos nacionais por postos de fronteira administrados por Israel e Jordânia, além de seu traslado, em segurança, de diferentes pontos na Cisjordânia até o aeroporto de Amã, de onde embarcaram para o Brasil", informou o governo.
Controlada pelo Hamas desde 2007, a Faixa de Gaza vem sendo alvo de intensos bombardeios por Israel há semanas, além de enfrentar uma crise humanitária sem precedentes. Autoridades do enclave disseram que mais de 9,4 mil palestinos, grande parte mulheres e crianças, já foram mortos nos ataques israelenses.
A ofensiva ocorre em retaliação aos atentados terroristas de 7 de outubro, quando membros do Hamas, considerado um grupo terrorista pela União Europeia e por países como Estados Unidos e Alemanha, massacraram 1,4 mil pessoas em território israelense e, de acordo com autoridades de Israel, mantém mais de 240 reféns.
rc/gb (ots)
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sachs
2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Edmonds
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
Foto: Getty Images/C. Kealy
2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.