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Brasileiros e alemães montam grupo para discutir golpe de 64

Renata Miranda24 de março de 2014

"Nunca Mais – Brasilientage" organiza série de eventos para lembrar os 50 anos do início da ditadura. Associação tem apoio de várias instituições da sociedade alemã.

Foto: picture-alliance/AP Photo

A distância que separa Brasil e Alemanha ficou menor, ao menos na política. Desde o ano passado, um grupo de brasileiros e alemães vem se reunindo regularmente para refletir sobre as relações entre os dois países durante os 21 anos que sucederam o golpe militar de 1964.

Batizada com o nome "Nunca Mais – Brasilientage", a associação surgiu na capital alemã e trabalha agora na organização do Brasilientage, uma série de eventos que, desde março, relembram a ditadura no Brasil.

A iniciativa faz parte de um projeto para relembrar os 50 anos do golpe militar de 1964 e tem como principal objetivo analisar os laços bilaterais durante o período.

A socióloga Marijane Lisboa, uma das fundadoras do movimento, ressalta a importância de examinar a postura adotada pela Alemanha em relação ao governo militar no Brasil.

"A RFA (República Federal da Alemanha) foi um desses países que deu apoio a essa ditadura, ainda que seu papel não possa ser comparado ao dos Estados Unidos", diz a professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Ela cita a assinatura de um acordo nuclear entre os dois países como um dos sinais de aproximação durante o regime. "[Ernesto] Geisel foi recebido na Alemanha com honras de Estado, enquanto refugiados como eu enfrentavam muitas dificuldades para ver o seu pedido de refúgio concedido."

Apoio e financiamento

O grupo atualmente conta com cerca de 30 integrantes, distribuídos entre Berlim e Colônia. A iniciativa também atraiu o interesse de organizações não governamentais, que apoiaram a concepção do Brasilientage.

Ramalho: evento teve amplo apoio de organizações alemãsFoto: Privat

Desde o início de março até novembro, o evento será realizado simultaneamente em cidades dos dois países. Na Alemanha, a programação é centrada em Berlim, Bielefeld, Bonn, Colônia, Frankfurt, Hamburgo e Leipzig. Já no Brasil, as atividades ocorrerão em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Entre os projetos do Brasilientage estão seminários, debates, ciclos de palestras, exposições de arte e mostras de filmes e documentários. Segundo o sociólogo Luiz Ramalho, um dos organizadores, a dimensão das atrações só foi possível com o apoio das entidades que se associaram à iniciativa.

"Ficou combinado que cada ONG que assumisse uma atividade ficaria responsável também pela procura de financiamento", explica Ramalho.

Segundo ele, 28 organizações apoiam a iniciativa teuto-brasileira, entre elas a Anistia Internacional, o Instituto Latino-Americano da Universidade Livre de Berlim, a Fundação Friedrich Ebert (ligada ao Partido Social-Democrata), a Fundação Heinrich Böll (ligada ao Partido Verde) e a Fundação Rosa Luxemburgo (próxima ao partido A Esquerda).

Troca de experiências

Para Marijane, esta é uma oportunidade única para refletir sobre o contexto histórico da ditadura. A socióloga acredita que os brasileiros podem aprender muito com os alemães – principalmente sobre a cultura da memória.

"Os alemães enfrentaram e reconheceram a sua responsabilidade pelos crimes cometidos durante o nazismo e trataram de adotar medidas para promover uma cultura democrática, de respeito intransigente aos direitos humanos", diz Marijane.

"Embora o Brasil já seja uma democracia há quase duas décadas, até hoje permanecem impunes os agentes do Estado, militares e civis, que torturam e mataram tantas pessoas, graças a uma falaciosa interpretação da lei da anistia", argumenta.

O Brasilientage será encerrado em novembro, numa cerimônia simultânea em Berlim e São Paulo. A data ainda não foi acertada porque a organização do evento quer que seu fim coincida com a divulgação dos resultados da Comissão Nacional da Verdade.

A iniciativa "Nunca Mais – Brasilientage" ainda não tem projetos concretos para depois do fim das atividades do Brasilientage. Marijane, porém, ressalta que o grupo teve uma resposta tão positiva que pretende continuar explorando outros assuntos de interesse para as relações bilaterais entre Brasil e Alemanha.

Ramalho, que também atua como consultor do grupo, acredita que há bastante espaço para discussão do tema. "Apesar de não termos nada concreto, há um interesse muito grande de acompanhar os movimentos sociais brasileiros."

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