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Brasileiros encontram-se com o papa em Colônia

Geraldo Hoffmann18 de agosto de 2005

Jovens, padres e bispos que participam da Jornada Mundial da Juventude avaliam início do pontificado de Bento 16 e mostram-se preocupados com o esvaziamento da Igreja no Brasil.

Encontro com jovens de todo o mundo empolga brasileirosFoto: Simone Hoffmann


Os 4478 brasileiros que participam da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) estão entusiasmados com o megaevento, marcado nesta quinta-feira (18/08) pela chegada do papa Bento 16 à Alemanha. Ao mesmo tempo, mostram-se preocupados com as notícias de que a evasão de fiéis aumenta no Brasil.

"É maravilhoso estar aqui. Estamos todos ansiosos para ver como será a relação do novo papa com a juventude. Espero que Bento 16 dê continuidade ao projeto da JMJ, iniciado por João Paulo 2º, como forma de atrair jovens para a Igreja. A Igreja não é só missa, missa e missa. É também essa festa da juventude mundial", disse Layane Angélica, de Esperantina, no Piauí, pouco antes da chegada do papa a Colônia.

Globalização da fé

Bento 16 acena para a multidão ao chegar em ColôniaFoto: dpa - Bildfunk

Para Alexandre Osvaldo, da paróquia São Francisco, de Sinop, no Mato Grosso, "isso que estamos vivenciando aqui, esse contato com gente de tantas nações e o encontro com o papa é algo inesquecível. Estamos sendo acolhidos com muito calor humano pelos alemães e fazendo uma fantástica experiência religiosa e intercultural".

Segundo o padre Edson Sestari, reitor do Seminário Maior de Sinop, o fascínio da JMJ "vem do fato de vivermos num mundo virtual, e aqui acontece um encontro real. Há um contato humano, um intercâmbio e uma partilha cultural combinada com uma experiência de fé. A JMJ opõe-se à onda de individualização que atinge todos os setores da vida humana". Isso aqui é a globalização da fé, acrescenta seu colega Nelson Koch.

No "barco americano"

Jovens brasileiros no 'barco americano' que escoltou a comitiva papal na chegada a Colônia

Três jovens cariocas – Fernanda Araújo, Leandro Santos e Fábio Santos Araújo – puderam acompanhar bem de perto a chegada de Bento 16 a Colônia. Eles representaram o Brasil no "barco americano", uma das embarcações que escoltaram a comitiva papal no passeio pelo Reno, simbolizando os cincos continentes em que a Igreja Católica está presente.

Para Fernanda (25), que já participou da JMJ em 2002 no Canadá, "cada detalhe desse evento é uma experiência de encontro com o próximo e com Deus". Ela também diz estar contente com Bento 16. "Eu havia lido textos dele antes de sua eleição e o aprecio muito. Ele é uma garantia de fidelidade aos princípios da Igreja", disse.

"Acostumando-se ao novo papa"

Já Leandro diz que ainda está se acostumando à imagem do novo papa, "mas ele parece muito acolhedor, simples e interessado em entrar em contato com os jovens".

Dimas Lara Barbosa, bispo auxiliar do Rio de Janeiro: satisfeito com Bento 16

Também Dimas Lara Barbosa, bispo auxiliar responsável pela Pastoral da Juventude da arquidiocese do Rio de Janeiro, diz estar satisfeito com Bento 16 e que "não há nenhuma mágoa" dos brasileiros pelo fato de dom Claudio Hummes não ter sido eleito."O papa alemão ainda não pôde demonstrar tudo o que pretende movimentar na Igreja", acrescentou.

Segundo Nelson Koch, pároco de Sinop (MT),"ainda é cedo para uma avaliação cabal sobre o rumo do pontificado de Bento 16. Como católicos, acreditamos que isso não depende só do fator humano, mas também da ação do Espírito Santo. Ele exerceu um papel muito específico na Congregação para a Doutrina da Fé, e hoje todos esperam uma resposta dele para os problemas da Igreja como um todo".

Já Sestari vê em Bento 16 um "papa de transição", mas concorda com Koch que "há uma necessidade premente de abertura da Igreja Católica para as questões mundiais, como, por exemplo, o debate sobre gênero, bioética etc". O desafio da Igreja é passar do "vinde rezar" para o "ide e anunciai", diz. Os muros caíram. Agora, espera-se da Igreja um caminho de esperança, acrescenta Koch.

Na opinião dos jovens Layane Angélica e Pedro Neves, do Piauí, Bento 16 ainda tem a fama de ser muito conservador. "Ele precisa se antenar mais na sociedade moderna. Proibir o uso da camisinha ou esperar que o namoro seja só um passo para o casamento são idéias ultrapassadas", diz Neves.

Evasão de fiéis

A notícia de que o percentual de católicos no Brasil caiu de 74% para 67% da população preocupa os jovens, padres e bispos brasileiros que participam do encontro na Alemanha.

Bispo Friedrich Heimler, de Cruz Alta (RS): 'Precisamos acolher mais os jovens.'

Segundo o bispo Friedrich Heimler, de Cruz Alta (RS), a evasão ocorre, principalmente, por conta de católicos que já não participavam mais da Igreja. "Temos que pensar em formas de como atingir essas pessoas. Em parte, elas vão atrás de promessas de emprego e progresso feitas pelas seitas pentecostais. A Igreja Católica ainda gasta energias demais com a manutenção de sua própria estrutura. Precisamos também acolher mais os jovens na Igreja", disse.

Barbosa afirma que a evasão de fiéis é maior nas fronteiras agrícolas, onde a migração é grande, e na periferia dos grandes centros urbanos. "A Igreja não está conseguindo acompanhar essa mobilidade da população. Por isso, no planejamento pastoral está priorizando o acolhimento, as missões populares e a maior participação dos leigos. Também com os jovens estamos juntando esforços para conter essa evasão". O clero precisa se aproximar mais da juventude, acrescenta a jovem Layane Angélica.

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