Brasileiros vão às urnas na Alemanha
15 de setembro de 2005Dos 7,2 milhões de estrangeiros que vivem na Alemanha, mais de 27 mil são brasileiros, segundo os laudos oficiais de 2004 do Departamento Federal de Estatísticas da Alemanha. Destes, vários têm dupla cidadania e, de posse de um passaporte alemão, podem, como qualquer outro cidadão do país, ir às urnas no próximo 18 de setembro.
Miriam Pflüger, da Produtora W-Films, com sede em Colônia, é uma das responsáveis pela divulgação do cinema brasileiro na Alemanha, organizando, entre outros, o ciclo de curtas Brasil Shorts em várias cidades do país. Miriam reside na Alemanha há nove anos e se autodescreve como uma brasileira "aclimatizada", pronta para ir às urnas. Para ela, votar significa se sentir parte do que acontece, sendo responsável pelos destinos do país.
Em entrevista à DW-WORLD, ela se diz satisfeita com o atual chanceler federal, Gerhard Schröder: "Ele é simpático, traz leveza ao país, é positivo. Vejo uma Alemanha triste se a União Democrata Cristã (CDU) ganhar as eleições."
"Menos mobilização"
O professor de História Marcos Antonio da Costa Melo já votou uma vez: "Acabei deixando aquela posição de visitante. Sinto-me feliz por ser um cidadão alemão e poder determinar, como qualquer outro, a vida política no país. Acho que os direitos de cidadania vivem na expressão de posições democráticas de um indivíduo, no lugar onde ele mora, ou seja, através da sua participação ativa não só em eleições."
Ao avaliar os candidatos, Marcos conclui que não simpatiza muito com os social-democratas – "nem com um Cardoso nem com um Schröder". Mesmo assim, espera que Angela Merkel perca as eleições, pois acredita que sua vitória não mudaria em nada a Alemanha.
"Vejo com Merkel ou com Schröder a continuidade do desmoronamento da responsabilidade do Estado nas áreas de educação e saúde. Estou, como se vê, muito resignado politicamente. As mobilizações sociais aqui estão diminuindo, enquanto privatizações de universidades e hospitais estão aumentando", analisa o brasileiro.
Apoio às minorias
A brasileira Ida Schrage, do Centro de Informação e Apoio Psicossocial e Terapêutico a Mulheres Imigrantes e Refugiadas (Agisra), chama a atenção para os desfalques sociais na Alemanha. Ida mostra-se preocupada com a situação atual e teme o que pode vir a acontecer depois das eleições.
Contudo, permanece com suas esperanças verdes. Não só como cidadã, mas também como profissional, que desenvolve um trabalho de responsabilidade social. A brasileira deseja que o futuro governo dê mais atenção às minorias e repense soluções para tratar dos problemas referentes aos estrangeiros que aqui chegam, seja por razões políticas, financeiras, ou por questões que ferem os direitos humanos em seus países de origem.
Na opinião de Ida, a questão da mulher deveria ser mais valorizada, principalmente em se tratando daquelas que servem como alvo de torturas físicas, psicológicas ou são sujeitas à violência sexual, familiar ou institucional, como no caso da obrigatoriedade da circuncisão genital e casamentos forçados em certos países.
A seu ver, a Alemanha deve crescer, ampliar-se e não se fechar em muralhas de conceitos políticos rígidos. Ida conclui seu pensamento desejando um governo alemão mais ligado aos interesses da população em campos básicos como educação, saúde, trabalho, sem esquecer a integração dos imigrantes.
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Amplos direitos como cidadão
Na Alemanha, é possível que estrangeiros se filiem a partidos e sejam ativos politicamente. Porém, para votar e ser eleito, é necessário que estes tenham obtido a cidadania alemã. Foi o que Iêda Maria da Costa Sousa fez.
A assistente social do Departamento de Saúde Pública de Colônia também optou pela dupla cidadania. Seu objetivo foi participar das decisões políticas no país e adquirir o direito de se candidatar. Iêda é membro do Partido Verde.
"Já pensou se a Sra. Müller vota no Sr. Schmidt, que talvez lance uma proposta prejudicial às questões que influenciam a minha vida como estrangeira? É maravilhoso ter os dois passaportes. Quero usufruir dos meus direitos como cidadã em amplos aspectos", comenta a assistente social.
"Sociedade teme inovações"
Iêda acredita que a Alemanha ainda sofrerá grandes mudanças após as eleições, principalmente em relação aos encargos fiscais, aposentadoria e questões que dizem respeito às universidades.
"Alguns políticos estão sugerindo o crédito educativo. Assim, o estudante inicia sua vida com dívidas, já falido antes de começar a trabalhar. Além disso, a lei de imigração é o que mais me assusta. Ao invés de ser formulada de acordo com as transformações que ocorrem dentro do país, ela parece não combinar com os tempos modernos. A sociedade ainda pensa de forma muito arcaica e teme inovações. Por outro lado, creio que no futuro isso possa mudar. Já também pelo surgimento de uma nova geração, procedente de casamentos binacionais, que cresce na Alemanha. Um dia a nação terá que admitir que estss descendentes e os próprios estrangeiros não são 'inexisitentes' ", conclui a "brasileira verde".
Tendência de esquerda
Já que o voto é opcional, não se sabe ao certo quantos eleitores brasileiros, de posse de um passaporte alemão, irão às urnas no próximo 18 de setembro. Independente disto, é possível observar, entre eles, uma tendência de maior simpatia por partidos mais à esquerda. Ao contrário dos brasileiros que participam das eleições norte-americanas, que votam, em sua maioria, em facções mais conservadoras.
Também na contagem de votos dos consulados e da embaixada durante as duas últimas eleições brasileiras, esta predileção se repetiu – Lula, se dependesse dos brasileiros radicados na Alemanha, teria ganho as duas últimas eleições presidenciais.