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Brazil-latin-orient-electro-world-beat-cross-over?

Adriana Jacobsen28 de novembro de 2004

Fusão de ritmos tradicionais brasileiros e música eletrônica ganha cada vez mais adeptos no mercado alemão. DJs, músicos e agentes culturais abrem alas para a formação de público.

Grace Kelly valoriza o ecletismo

A música continua a ser o carro-chefe de entrada para a cultura brasileira na Alemanha. Enquanto os clássicos da MPB já têm um público cativo, o nicho dos eletrônicos made in (or about) Brazil vem ganhando cada vez mais adeptos. A mistura de vocais, ritmos e instrumentos acústicos brasileiros com a parafernália eletrônica vem conquistando cada vez mais um público acostumado a beats, breaks e loops urbanos.

São inúmeros os selos brasileiros e estrangeiros lançando CDs, compilações e remixes de música eletrônica brasileira no mercado alemão. Na selva de produções, os DJs têm um papel fundamental: selecionar, divulgar e formar um público local.

Berlim: novos espaços

Vindos de um país que prima pela miscigenação cultural, há vários DJs brasileiros que vêm conquistando um lugar cativo na cena musical berlinense. Jornalista e crítica de música no Brasil antes de se tornar DJ na capital alemã, a carioca Marie Leão conta como começou: "O Brasil foi ficando na moda e as pessoas começaram a me chamar. Trabalho com a mistura de elementos tradicionais e música pop eletrônica, como a união do dub com coco, hip-hop e samba de roda".

DJ produz festa Mundo Mix e tem programa na rádio Multikulti

Já a DJ Grace Kelly, produtora do Mundo Mix, festa regada a som brasileiro e já tradicional em Berlim, explica que começou de forma "mais tradicional. Eu era mais ligada à Bahia, ao samba e ao carnaval, mas cada vez mais as influências de outros gêneros na música brasileira passaram a me interessar. A mistura com a música eletrônica varia de festa para festa. Gosto dos DJs Marky e Patife, acho o drum 'n’ bass brasileiro mais macio, mas tem dias que sou mais acústica, depende do público".

A preocupação com o público foi também o motor de transformação do trabalho do DJ Ronaldo Bossa, veterano nos clubes berlinenses. "Como muitos, comecei com música regional, axé e MPB, mas meu trabalho foi se transformando. O público brasileiro em Berlim é pequeno e quero atingir mais gente, faço música para a Europa. Só que, apesar do interesse pelo Brasil, ainda falta muito para se criar um público fiel. Berlim tem muita música eletrônica e a concorrência é grande", diz.

Samba e bossa made in Europe

Enquanto Marie Leão e Grace Kelly se enveredam pela world club music e ampliam o leque das misturas, Ronaldo, produtor da festa Samba-nova Club Session, optou por uma linha mais definida: "Apresento minha música como samba-novo. O samba sempre foi uma batida muito usada na música eletrônica, o surdo cai muito bem no drum 'n' bass. Também a mistura de house e samba deu muito certo. Há gravadoras inglesas, francesas, italianas, alemãs e norte-americanas que trabalham com isso. Uso essas compilações e remixes de música eletrônica e ritmos brasileiros, além de toda a bagagem que trago de casa, que incluo no repertório".

Cristina Ruiz-Kellersman, da agênica Can+, especializada em promoção e marketing de música brasileira na Alemanha, observa que "existem vários selos europeus produzindo coletâneas que incluem artistas brasileiros – desde a MPB clássica até as novas vertentes eletrônicas. Através de CDs importados, também se pode ter acesso à produção de gravadoras como a Trama, uma das pioneiras na divulgação de música eletrônica brasileira. Na Alemanha, você também encontra DJs que fazem muito sucesso, como o pessoal do Jazzanova e Bozoo Bajou em Berlim e Mo’Horizons e Audiopharm em Hanôver".

Caminhando pelos beats germânicos

Leila Pantel

Além do trabalho dos DJs, um outro campo de ação para os que se interessam pela mistura dos beats com a música de raiz brasileira é o trabalho de composição de melodias e vocal para os remixes eletrônicos. A paulista Leila Pantel, cantora e compositora radicada em Hamburgo, trabalhou com os Mo’Horizons: "Na época, a faixa Pé na estrada ficou em sexto lugar nas paradas brasileiras e Foto viva, que foi parar em diversas compilações, já vendeu mais de 190 mil cópias", conta.

Apostando na mais tradicional antropofagia musical brasileira e sem se preocupar em atender às demandas de beats e loops do mercado pop eletrônico, o músico João Guimarães, gaúcho radicado em Berlim, lançou recentemente com sua banda Cloaca um CD cuja faixa título – Composto Energético – foi incluída na compilação Folklore Imaginaire 2005, lançada durante a feira de world music Womex. Músico de formação erudita, João diz que faz "música eletrônica contemporânea. Não me preocupo se os beats são do momento ou não. Procuro criar integrando elementos daqui com minha formação no Brasil".

A banda Cloaca

Se a demanda pela "brasilidade" cria mercado e espaço para os profissionais envolvidos com a música brasileira, há também o risco de que se criem falsas expectativas em torno do selo "música brasileira eletrônica". A DJ Marie chama atenção para o fato de que, entre o público cativo das festas berlinenses, "há às vezes uma nostalgia de uma música pura, do que é ou não brasileiro. Mas afinal, o que é música brasileira? Toda nossa cultura é baseada na mistura, na fertilização mútua", conclui.

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