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Os 50 anos da Fração do Exército Vermelho da Alemanha

2 de abril de 2018

Membros do grupo terrorista de esquerda – também conhecido como Grupo Baader-Meinhof – cometeram seu primeiro ataque em 2 de abril de 1968, ao incendiar duas lojas em Frankfurt.

Frankfurt Ausgebrannter Kaufhof 1968
Uma das lojas de departamento atingidas pela primeira ação violenta do núcleo original que viria a formar a RAFFoto: picture-alliance/AP Photo/C. Hampel

À meia-noite do dia 3 de abril de 1968, a polícia de Frankfurt registrou dois incêndios em duas lojas de departamento em curto espaço de tempo. Era a primeira hora do terrorismo de esquerda na Alemanha.

Os atentados não deixaram feridos, mas os prejuízos materiais chegaram a 2 milhões de marcos. Depois que o fogo foi controlado, os bombeiros descobriram quatro garrafas plásticas com um líquido altamente inflamável, uma pilha e um despertador.

Os autores foram presos poucos dias depois. Entre eles estava o carismático e arrojado Andreas Baader, de Munique, e Gudrun Ensslin, filha de um pastor protestante.

O episódio revelou que um grupo de estudantes havia decidido radicalizar seu protesto em atos de violência. Pouco mais de um ano depois, Baader e Ensslin se uniriam a outras pessoas, incluindo a jornalista Ulrike Meinhof, para formar oficialmente a Fração do Exército Vermelho da Alemanha, conhecida pela sigla RAF ou como o Grupo Baader-Meinhof.

Cinquenta anos depois, a RAF ainda alimenta o noticiário. Três antigos membros do grupo, Ernst-Volker Staub, Burkhard Garweg e Daniela Klette, estão foragidos até hoje.

Em novembro passado, o Departamento Federal de Investigações da Alemanha (BKA) publicou novas fotos do trio. Em 1990, eles passaram para a clandestinidade e, no final da década, voltaram ao radar das autoridades após uma série de roubos. Dessa vez, os crimes não serviram a nenhum objetivo político aparente: seu único propósito era financiar a vida dos fugitivos.

Os incendiários de Franfurt em julgamento. Gudrun Ensslin e Andreas Baader são os dois à direitaFoto: picture-alliance/dpa/M. Rehm

A RAF ainda não é história passada, principalmente porque os assassinatos, atentados a bomba e ataques realizados pelo grupo entre 1970 e 1998 – que deixaram 33 mortos e 200 feridos – não foram todos solucionados ou explicados.

Desculpas tardias ainda provocam reações fortes nas pessoas. No outono passado, por exemplo, a ex-integrante da RAF Silke Maier-Witt se encontrou com o filho do empresário Hanns Martin Schleyer, assassinado em 1977 pelo grupo, e pediu perdão pelo crime.

A RAF não é história passada, apesar de o terrorismo de extrema esquerda ter passado a fazer parte de exposições em museus. O movimento ganhou ainda mais impulso com o retorno à Alemanha, no ano passado, do Landshut, o avião da Lufthansa sequestrado pelo grupo em 1977 e que havia passado os últimos anos enferrujando em um aeroporto no Brasil. Agora, a aeronave vai se tornar parte da exposição de um museu em Friedrichshafen.

Cinquenta anos depois, também ainda não está claro qual papel os serviços de inteligência da Alemanha desempenharam quando os membros do movimento de protesto estudantil do final dos anos 1960 e 1970 começaram a mostrar inclinação para o terrorismo.

O agente provocador Peter Urbach

Uma figura-chave para a transformação dessa cena estudantil foi Peter Urbach, um informante dos serviços de inteligência da Alemanha Ocidental, segundo o cientista político Wolfgang Kraushaar. "Urbach desempenhou um papel importante, que não pode ser avaliado de forma conclusiva, ao transformar um núcleo pequeno, mas duro, da cena de protesto em agrupamentos de militantes e, eventualmente, em círculos dos quais o terrorismo emergiu", disse Kraushaar.

Urbach já estava ativo em 11 de abril de 1968 – o dia em que o líder estudantil Rudi Dutschke foi baleado e gravemente ferido por um ativista de extrema direita.

Após o atentado, dois mil estudantes furiosos marcharam até a sede da editora Axel Springer, em Berlim Ocidental. O conservador tabloide Bild, que pertencia à empresa, estava se posicionando fortemente contra os protestos estudantis e atacando o próprio Dutschke em reportagens.

Ataque à sede da editora Axel Springer em 1968Foto: picture-alliance/dpa

Kraushaar disse que Urbach estava entre os manifestantes que foram até a sede da Axel Springer e que ele carregava uma cesta de vime cheia de coquetéis Molotov, que foram distribuídos para os manifestantes, já em um estado de indignação e fúria.

"Quando as primeiras bombas de gasolina não alcançaram o que os manifestantes esperavam alcançar, que era incendiar os carros da empresa, Urbach mostrou o que eles tinham que fazer", disse Kraushaar. "Primeiro eles viraram os carros, então foi mais fácil chegar aos tanques de gasolina embaixo. Depois eles atearam fogo. Todos os carros queimaram."

Esforço para desacreditar

Kraushaar disse que Urbach também foi a primeira pessoa a distribuir armas de fogo para os manifestantes de esquerda. Em sua opinião, Urbach era um agente provocador a serviço do Estado e que tinha considerável influência nas ações da oposição não parlamentar da Alemanha.

Isso levanta a questão sobre o que motivou a administração da cidade-estado de Berlim – e possivelmente aliados da Alemanha Ocidental, como os Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, que controlavam a cidade até a Reunificação, em 1990 – a dar liberdade a tal homem.

"Eles queriam que manifestantes com inclinações mais fortes desacreditassem a si mesmos e aos outros e, em última instância, desacreditar com atos de violência todo o movimento ativo não parlamentar de esquerda", disse Kraushaar.

Embora a RAF fosse o grupo terrorista de extrema esquerda mais conhecido, não era o único. Havia também, por exemplo, as Células Revolucionárias; O Movimento de 2 de junho, em homenagem ao dia do assassinato do estudante Benno Ohnesorg por um policial em 1967; e os Tupamaros da Berlim Ocidental, que tentaram bombardear o Centro Comunitário Judeu de Berlim em 9 de novembro de 1969, o 31º aniversário da Noite dos Cristais.

O centro estava cheio, com cerca de 250 pessoas presentes. Felizmente a bomba não explodiu. Aqui também os serviços de inteligência da Alemanha estavam envolvidos. Em 2005, foi revelado que a bomba havia sido repassada pelos serviços de inteligência para Urbach. "Imagine só: uma instituição judaica foi atacada com uma bomba dos serviços de inteligência fornecida por Peter Urbach", disse o historiador Michael Sontheimer. "Este foi o início do terrorismo na Alemanha Ocidental, em Berlim Ocidental".

Em retrospecto, ficou claro que as agências governamentais estavam preparadas para despejar ainda mais combustível em um incêndio que já estava acontecendo.

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