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VariedadesGlobal

Brincar com o celular prejudica as crianças pequenas

25 de agosto de 2023

Passar muito tempo em frente a telas pode influenciar negativamente no desenvolvimento da fala, das habilidades motoras e das competências sociais. Bebês de até dois anos não deveriam ter acesso a smartphones e tablets.

Quatro meninos brincam com um smartphone
Materiais de desenho, brinquedos ou livros são definitivamente escolhas melhores do que um smartphone, dizem especialistasFoto: picture-alliance/Sven Stein

O bebê se deslumbra com as imagens coloridas. Ou então choraminga e logo ganha o telefone celular. Essa é uma maneira efetiva, porém muito ruim para aquietá-lo. Smartphones ou tablets não servem para ser babás, e crianças de colo nem mesmo deveriam brincar com eles porque esses aparelhos têm um efeito negativo no desenvolvimento delas.

Nos primeiros anos de vida, o desenvolvimento psíquico, emocional e cognitivo é de grande importância, e passar muito tempo na frente de uma tela pode influenciar o desenvolvimento da fala, das habilidades motoras e das competências sociais.

Um estudo realizado no Japão e que avaliou o desenvolvimento de 7.097 crianças por um longo período de tempo deixou isso bem claro.

Crianças de um ano que passarem de uma a quatro horas diárias na frente de uma tela terão, já aos dois anos, um risco até três vezes maior de déficits de desenvolvimento em comunicação, habilidades de coordenação motora fina e resolução de problemas, bem como habilidades pessoais e sociais, segundo o estudo.

Smartphones são inapropriados para os pequenos

Entre as causas para o déficit de desenvolvimento está a retirada do estímulo para o desenvolvimento da fala por meio do uso de tablets e smartphones.

"Crianças aprendem a falar quando são estimuladas a falar, mas quando apenas olham para uma tela, muitas vezes não têm a possibilidade de treinar a fala", explica o médico pediatra John Hutton, do Centro Hospitalar Pediátrico de Cincinnati (EUA), que não participou do estudo.

Muito tempo na frente de uma tela pode fazer com que crianças pequenas raramente interajam com companheiros da mesma idade ou com adultos, o que é importante para o desenvolvimento social delas.

Isso porque pessoas de verdade são muito mais complexas do que figuras numa tela. Quando se olha para o rosto de alguém, o cérebro é ativado para determinar como se deve interagir.

Tablets são tão prejudicias para bebês quanto smartphonesFoto: picture-alliance/All Canada Photos/O. Maksymenko

Quando crianças pequenas mexem em um smartphone, isso muitas vezes substitui atividades como brincar, explorar e pensar criativamente, que são tarefas decisivas para o desenvolvimento cognitivo.

Além disso, as crianças tendem então ao sedentarismo, o que as impede de treinar as habilidades motoras. Por fim, a interação com smartphones e tablets pode causar dependência e distrair as crianças de outras atividades.

O que recomendam os especialistas?

Crianças pequenas reagem às figuras em movimento, mas não entendem o que  estão vendo, pois o cérebro delas ainda não consegue assimilá-las. Por isso, mídias eletrônicas não são necessárias para o desenvolvimento delas.

Bebês com menos de dois anos não deveriam passar tempo algum na frente de smartphones e tablets. Já crianças entre três e seis anos deveriam ficar no máximo de 30 a 60 minutos por dia.

E mesmo o conteúdo supostamente apropriado para a idade muitas vezes não é realmente adequado, explica o pediatra Hutton.

"Um problema com alguns conteúdos online para crianças é que os pais os consideram educativos porque são comercializados como tal e contêm muitas informações sobre o alfabeto, as cores, os números ou animais que seus filhos podem ver e ouvir", diz.

"Mas o que estimula a aprendizagem é o conteúdo que ajuda as crianças a aplicar os seus conhecimentos para além da memorização – para ajudá-las a lidar com o mundo real, onde as coisas são mais imprevisíveis e exigem mais criatividade e resiliência", continua.

Crianças entre três e seis anos deveriam ficar no máximo de 30 a 60 minutos por dia nas telasFoto: picture alliance/dpa/T. Hase

Nada substitui o contato humano

O mais importante para o desenvolvimento na primeira infância é as crianças estarem próximas de pessoas que elas possam observar, que brinquem e conversem com elas. E as crianças têm de ser capazes de se mover e experimentar coisas para poderem vivenciar o mundo e adquirir experiência.

Nos momentos em que isso não for possível e uma criança tiver de ser mantida ocupada, por exemplo para que os pais possam fazer algo, então materiais de desenho, brinquedos ou livros são definitivamente escolhas melhores do que um smartphone.

Outra boa opção é integrar ativamente as crianças pequenas na vida cotidiana. Porque é uma grande vantagem para o desenvolvimento na primeira infância se elas forem envolvidas, se lhes for dito o que você está fazendo e por que, ou que você está cozinhando, por exemplo.

A criatividade também surge do tédio

Até mesmo crianças percebem como os smartphones são importantes para os adultos. E elas tendem a imitar o que veem. Assim, uma boa dica é dar o exemplo e não passar muito tempo na frente da tela quando os filhos pequenos estiverem por perto.

"Especialistas aconselham evitar o uso prolongado e com elevada concentração na presença das crianças e estar ciente de que também os pais tendem a subestimar a extensão da sua própria absorção cognitiva. Faz muito sentido evitar atividades altamente absorventes no smartphone na presença das crianças. Isso inclui jogos, assistir a filmes ou responder e-mails", diz um estudo suíço de 2021.

Quem logo entrega um smartphone ou tablet para uma criança chorona também impede uma outra etapa importante do desenvolvimento: a capacidade de lidar com o desconforto.

"Se você permitir que elas fiquem entediadas por um momento, elas inicialmente ficam um pouco desconfortáveis, mas depois dizem: 'Ok, vou mudar isso'. E assim surge a criatividade", explica o pediatra Hutton.

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