Confinados dentro de casa, muitos britânicos acabaram achando tesouros em seu próprio terreno. Uma família encontrou coleção de 63 moedas de ouro da época da dinastia Tudor.
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A busca por tesouros é um esporte nacional dos britânicos. Alguns passam horas perambulando por campos com seus detectores de metal em busca de moedas, armas históricas ou tesouros enterrados.
Durante o primeiro lockdown, no entanto, entre março e maio deste ano, a caça ao tesouro com detectores de metal foi completamente proibida. E no atual bloqueio também há normas rígidas em torno da prática. Assim, caçadores de tesouros passaram a escrutinar o próprio jardim ou mesmo as casas onde moram.
E foram bem-sucedidos: em 2020 já foram registrados 47 mil achados do gênero, segundo o British Museum, incluindo 6.251 durante a proibição, de março a maio. Houve um significativo aumento dos achados no próprio jardim, acrescentou o museu.
Tesouros e curiosidades escondidas
Entre as descobertas estão alguns achados realmente notáveis, como uma coleção de moedas da época da Casa de Tudor, que governou o Reino da Inglaterra nos séculos 15 e 16.
A coleção inclui 63 moedas de ouro e uma moeda de prata, todas datando do final do século 15 ao início do século 16. Ela provavelmente foi enterrada por volta de 1540. Quem a descobriu foi uma família em New Forest, no sul da Inglaterra – totalmente por acaso, enquanto capinava.
O tesouro inclui quatro moedas do reinado de Henrique 8º, que trazem as iniciais de suas esposas Catarina de Aragão (K), Ana Bolena (A) e Jane Seymour (I).
De acordo com o British Museum, ainda não se sabe como o tesouro, que já era valioso na época das moedas, foi parar no jardim. O mais provável é que tenha sido enterrado por lá.
Também não está claro como 50 moedas de ouro maciço de Krügerrand, cunhadas durante o regime do apartheid na África do Sul, nos anos 1970, foram parar num jardim em Milton Keynes, a noroeste de Londres.
Outro mistério é o molde de um selo medieval feito de liga de chumbo e encontrado em Dursley, Gloucestershire. Ele mostra um bispo de túnica e segurando um cajado na mão esquerda. Uma inscrição em latim o identifica como David, bispo de St. Andrews.
Mas tudo indica que se trata de uma falsificação de época, provavelmente usada para autenticar documentos falsos. Moldes genuínos de selos como esse não eram feitos de chumbo, mas de uma liga de cobre ou mesmo de prata. Pelo jeito, alguém teve que se livrar de uma falsificação e jogou a cópia fora.
Em Old Basing, no condado inglês de Hampshire, foi encontrado um enfeite de mobília romana feito de liga de cobre. Ele data de entre os anos 43 e 200 e é decorado com uma face incrivelmente bem preservada do deus grego Oceano.
O detalhe consiste no rosto barbudo da divindade emoldurado por algas marinhas. Pequenos golfinhos nadam debaixo das orelhas, até o queixo de Oceano, enquanto criaturas em forma de serpente descansam em cada lado das têmporas do deus.
A descoberta é única, pois um motivo marinho como esse jamais havia sido encontrado em baús, portas ou móveis residênciais desse período.
Todas as descobertas devem ser reportadas
A caça ao tesouro é tão popular no Reino Unido que chegou a servir de cenário para uma popular série de TV chamada Detectorists. Mas existem regras muito claras no país sobre o que é considerado tesouro e quais os direitos de que os descobrem.
Por lei, caçadores de tesouros são obrigados a reportar tudo que encontram às autoridades locais, que então organizam uma análise arqueológica do local da descoberta, para assegurar que o contexto histórico não seja perdido.
Um comitê de avaliação de tesouros determina o valor do objeto e quem tem direito a uma parte do achado e em qual quantidade.
Aqueles que desrespeitaram a lei ao encontrar um tesouro, por exemplo invadindo propriedade alheia, não têm direito a qualquer recompensa. E os museus sempre têm prioridade na compra dos itens descobertos.
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Tornando os tesouros acessíveis a todos
A lista anual de todos os achados arqueológicos é disponibilizada ao público pelo British Museum em seu banco de dados online, o Portable Antiquities Scheme (PAS). O portal inclui informações de acesso gratuito sobre mais de 1,5 milhão de objetos.
Achados arqueológicos não devem ser guardados por quem os encontrou, pois mesmo pequenas descobertas às vezes levam a descobertas muito maiores, ou mesmo a sítios arqueológicos inteiros.
Esse foi o caso de um assentamento da Idade do Ferro e um assentamento romano encontrados em Kent, e também de um cemitério anglo-saxão em Lincolnshire.
Tesouros desaparecidos
Do Salão de Âmbar até misterioso tesouro da Igreja de Lima, muitas preciosidades são dadas como desaparecidas, até hoje. Outras estão cercadas por lendas. Será que eles existiram? Uma caça ao tesouro em imagens.
Foto: picture-alliance/dpa
Ouro, prata, pedras preciosas
Do Salão de Âmbar até o misterioso tesouro da Igreja de Lima, muitas preciosidades são dadas como desaparecidas, até hoje. Outras estão cercadas por lendas, como as nefastas riquezas dos templários. Conta-se que, durante as Cruzadas, os cavaleiros haveriam acumulado tesouros incomensuráveis. Entre eles, o Santo Graal, que traria felicidade e juventude eterna a quem o possui.
Foto: Fotolia/Iakov Filimonov
Tesouro dos templários
Em 1307 o poder dos abastados cavaleiros a Ordem do Templo tornou-se excessivo para o rei da França, Felipe 4º. Ele mandou prender e assassinar os líderes, mas onde ficara seu tesouro? Nas casas da ordem não se encontraram grandes riquezas. Desde então se mantém o mito de que os templários as haveriam ocultado. Diferentes teorias levaram a Israel, à Escócia e à ilha Oak Island, no Canadá.
Foto: Hulton Archive/Getty Images
Segredo de Rennes-le-Château
Também o lugarejo de Rennes-le-Château, na França, foi considerado como possível esconderijo para o tesouro do Templo de Salomão, quando Bérenger Saunière (1852-1917), padre da aldeia, ficou subitamente rico e mandou realizar numerosas reformas na igreja local. Por isso supôs-se que ele encontrara um tesouro. Desde então o lugarejo é uma atração para turistas e sítio de escavações leigas.
Foto: Serafino Mozzo/Fotolia
Obra-prima de âmbar
Este tesouro é real: o legendário Salão de Âmbar foi criado por um artista alemão. Em 1716, o rei Frederico Guilherme 1º da Prússia presenteou-o ao czar russo Pedro, o Grande. Em 1941, os soldados alemães levaram o precioso âmbar para Königsberg (hoje Caliningrado, Rússia), onde sua pista se perdeu. Uma minuciosa cópia está exposta em São Petersburgo.
Foto: picture-alliance/dpa
Ouro do czar
Mais um enigma da Rússia: conta-se que no fundo do Lago Baikal ainda há ouro do último czar. Depois do assassinato dele, no inverno de 1920, opositores do novo regime comunista tentaram fugir com o ouro do czar, transportando-o em vagões de trem por sobre o lago congelado, porém eles afundaram. Desde então cientista procuram o tesouro. Em 2010 empregaram-se até mesmo submarinos para esse fim.
Foto: Alexander Nemenov/AFP/Getty Image
Tesouro da Igreja de Lima
Em 1821, tropas britânicas sitiavam Lima, com o fim de tomar dos espanhóis o domínio sobre o Peru. Em fuga, os colonizadores retiraram da catedral uma valiosa madona e caixotes cheios de ouro. Um navio comercial ainda chegou a deixar o porto da capital com o tesouro. Mas aí ocorreu algo inesperado.
Foto: picture-alliance/dpa
Ilha do tesouro nos trópicos
Em vez de pôr o tesouro a salvo para os espanhóis, a tripulação o haveria roubado e ocultado numa ilha de coqueiros. Porém até hoje não há qualquer vestígio do ouro de Lima. Aventureiros já escavaram várias vezes a ilhota, hoje pertencente à Costa Rica, sem nada encontrar. Ainda assim supõe-se que ela oculte ainda outros botins de piratas.
Foto: picture-alliance/Photoshot/BCI
Pirata alemão
Klaus Störtebeker, executado em 1401, é um herói popular, embora se duvide de sua existência. Nos mares do Norte e Báltico, assaltava os navios dos ricos comerciantes de Hamburgo. Segundo a lenda, com o ouro que o pirata ofereceu pela própria libertação, poder-se-ia formar uma corrente em torno da cidade portuária, mas nem uma moeda foi encontrada. Presume-se que o tesouro esteja na Ilha de Rügen.
Foto: picture-alliance/akg-images
Caçadores de ouro no Outback
Também a Austrália possui sua lenda do tesouro: o enigmático recife de ouro de Harold Lasseter (1880-1931). O australiano afirmava ter descoberto uma gigantesca jazida no deserto do país, apelidado Outback, mas os aparelhos de localização estariam defeituosos. O ouro não foi encontrado nas duas expedições de 1930 e 1931. Lasseter morreu de sede no deserto, sendo hoje considerado um charlatão.
Foto: Fotolia/Ralph Loesche
Ouro nazista nos Alpes
Pouco antes do fim da Segunda Guerra Mundial, criminosos nazistas, como o comandante da SS Ernst Kaltenbrunner, fugiram para os Alpes Austríacos com ouro roubado e arte de botim. Até hoje pululam as lendas em torno do Lago Toplitz. Terá Kaltenbrunner afundado aqui seu tesouro? Em 1959 mergulhadores encontraram apenas caixotes com notas falsificadas de libras esterlinas.
Foto: picture-alliance/dpa
Caçadores de esperança
Sobre a maioria dos tesouros perdidos só há informações fragmentárias. Porém é justamente isso que excita os caçadores. E pelo menos um tesouro mítico foi, de fato, encontrado. Em 1872, procurando as ruínas de Troia, o arqueólogo alemão Heinrich Schliemann encontrou um verdadeiro depósito de objetos preciosos. Até então, ele era considerado um visionário pelo meio científico.