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Bruxa solta nos céus

Assis Mendonça10 de dezembro de 2002

Com a concordata da United Airlines, as turbulências no setor dos transportes aéreos atingiram agora a Star Alliance, o maior pacto mundial de cooperação entre empresas do setor.

Concordata da United Airlines ameaça as empresas parceirasFoto: AP

Os problemas das companhias aéreas tradicionais têm causas bem definidas: os elevados custos operacionais e a queda constante do número de passageiros – decorrente não apenas do receio de voar e da recessão econômica provocados pelos atentados de 11 de setembro, mas também da concorrência das companhias barateiras (low fares airlines).

Na Europa, a situação já provocou a falência de empresas de grande porte, como a Swissair e a Sabena, e ainda constitui uma ameaça iminente para a TAP (Air Portugal) e a Alitalia, entre outras companhias de renome internacional.

Nos Estados Unidos, as empresas aéreas podiam, ainda há pouco tempo, subvencionar seus vôos transatlânticos com os enormes lucros obtidos no mercado interno. Isto é coisa do passado. Pois a crise atingiu também as conexões nacionais americanas, com uma redução drástica de passageiros e a concorrência dos vôos baratos, oferecidos principalmente pelas companhias Southwest e JetBlue.

No roldão

O requerimento de concordata apresentado no início desta semana pela United Airlines não é caso inédito nos Estados Unidos. Algumas grandes companhias aéreas americanas não conseguiram evitar a falência: PanAm, Midway, Eastern, Braniff e TWA. Outras passaram pelo processo da concordata e conseguiram recuperar-se, como a Continental e a American West. Em termos de volume financeiro, contudo, a concordata da United Airlines deixa todas as demais para trás: 24,2 bilhões de dólares – a sétima maior concordata em toda a história dos Estados Unidos.

Fora dos EUA, o que torna o caso ainda mais grave é o fato de a empresa americana – a segunda maior do mundo no setor – ser a principal parceira de inúmeras companhias aéreas mundiais dentro do sistema de cooperação da Star Alliance. E, queiram ou não, as demais parceiras são levadas de roldão na crise da companhia americana.

Para evitar a falência, a United Airlines terá que "enxugar" radicalmente a sua lista de conexões, reduzir sua frota, cortar custos. Enfim, a empresa deverá encolher, reduzindo também as possibilidades de oferta das companhias parceiras no que se refere ao mercado aéreo americano.

Novo parceiro

Pior será ainda, se a UAL não obtiver êxito no saneamento. Segundo Hans Huff, analista do setor aéreo na Bankgesellschaft Berlin, uma eventual falência da parceira americana poderá gerar custos da ordem de 80 milhões de dólares somente para a Lufthansa. A crise pode envolver toda a Star Alliance, o maior e mais bem sucedido consórcio de empresas aéreas do mundo.

Para que a aliança continue a existir, na eventualidade da falência da United Airlines, seria necessário encontrar um novo parceiro americano de peso. Caso contrário, a Star Alliance teria uma enorme lacuna nas suas rotas internacionais, correspondente exatamente a um dos mercados até agora mais lucrativos – o dos Estados Unidos.

Ajuda ou aquisição

Dentro deste quadro, não é de se admirar que o chefe da Lufthansa, Jürgen Weber, tenha anunciado que a sua empresa está examinando a possibilidade de uma ajuda financeira sem riscos à parceira americana. Entre os especialistas do setor, em Frankfurt, chegou a circular a versão de que a Lufthansa estaria disposta até mesmo a adquirir uma participação direta na United Airlines.

A empresa alemã não deverá chegar, contudo, a tal ponto. Tão logo o boato espalhou-se em Frankfurt, o porta-voz oficial da Lufthansa, Klaus Walther, apressou-se em desmentir as especulações. Ao que tudo indica, a parceira alemã dará uma contribuição financeira para salvar a United Airlines, mas não pretende adquirir uma participação direta na empresa americana.

Indústria aeronáutica

A concordata da United Airlines afeta também outros dois setores: a construção de aeronaves e o mercado de leasing para os grandes equipamentos de vôo. A empresa possui a terceira maior frota mundial de aviões. No transcurso do seu saneamento, ela terá de abrir mão de um grande número de aeronaves. A maioria delas será devolvida então às empresas financiadoras, provocando um excesso de oferta no mercado de aviões usados e uma queda drástica das taxas de leasing.

A aquisição de novas aeronaves pela United Airlines deverá ser, na melhor das hipóteses, adiada por longo tempo. Isto afetará não apenas a Boeing, nos Estados Unidos, mas também a indústria aeronáutica européia. A encomenda de 42 Airbus dos tipos A319 e A320, para entrega entre 2004 e 2007, será provavelmente cancelada. Além do mais, o excesso de oferta no mercado de aeronaves usadas fará com que caia sensivelmente os preços dos aviões novos.

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