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Bundesliga em compasso de espera

1 de abril de 2020

Clubes estão preocupados com prejuízos de longa paralisação e temem pela sua sobrevivência, e dirigentes já falam que epidemia pode levar a reavaliação de algumas práticas, como os altos salários e transferências caras.

Portões no estádio do Colônia estão fechados, assim como em outras cidadesFoto: picture-alliance/dpa/F. Gambarini

Situações extraordinárias exigem medidas extraordinárias. Basta ler os principais jornais ou assistir ao atual noticiário dos canais de TV alemães que fatalmente essa frase acaba aparecendo. As situações extraordinárias são aquelas provocadas pela pandemia de covid-19 e as medidas extraordinárias, com maior ou menor ênfase, atingiram em cheio o cotidiano dos cidadãos.

No futebol não poderia ser diferente. Nesta terça-feira (31/03), os 36 clubes profissionais de futebol se reuniram extraordinariamente através de videoconferência com a diretoria da Bundesliga. Jamais, na história da entidade, um evento desse porte tinha sido realizado à distância, sem a presença física dos participantes.

Constavam da pauta basicamente três questões. Como ficam os treinos? O que acontece com o restante da temporada? Como evitar a falência dos pequenos e um prejuízo financeiro enorme para a liga como um todo?

Mediante autorizações especiais dos respectivos municípios, Augsburg e Wolfsburg já haviam voltado ao treinamento individual dos seus jogadores. O Borussia Dortmund chegou a treinar no gramado, formando duplas, mas sem contato físico. A grita geral dos outros clubes logo se fez ouvir na sede da Bundesliga, em Frankfurt, e com justa razão. Afinal, deveria haver uma regra unificada para todos e não uma colcha de retalhos com procedimentos que cada clube pudesse interpretar ao seu bel prazer – ou todos clubes estão autorizados a treinar ou ninguém está.             

Esse ponto foi fácil de resolver. Ficou definido que todo e qualquer tipo de treino coletivo nas dependências dos clubes fica suspenso até 5 de abril. Até lá será desenvolvido um procedimento padrão para higiene e desinfecção nas dependências do centro de treinamento e dos estádios, assim como o estabelecimento de regras claras para o distanciamento social de jogadores, membros da comissão técnica e funcionários do clube.     

Quanto ao restante da temporada, ficam suspensos todos os jogos das duas divisões profissionais até 30 de abril. Até lá, a Bundesliga vai desenvolver um projeto com diversos cenários para tentar encerrar a temporada 2019/2020 o mais tardar até 30 de junho, mesmo que as nove rodadas restantes sejam disputadas com portões fechados para o público, a partir de 1º de maio.

A eventual implementação de "jogos-fantasma" não depende apenas da liga e dos 36 clubes associados. Atualmente há inúmeras restrições à vida pública na Alemanha que poderão continuar valendo em maio e junho. Nesse caso, até a realização de jogos sem público pode ficar inviável.

Christian Seifert, CEO da DFL (Liga Alemã de Futebol), reconhece que, "...em primeiro lugar, trata-se de limitar a disseminação do vírus e a proteção para os grupos de risco, mas vamos trabalhar a todo vapor para que possamos sair da crise e retomar nossas atividades logo. De todo modo, vamos desenvolver projetos específicos para cada um dos 36 estádios para que jogos com portões fechados e transmissão pela TV possam ser garantidos com toda segurança e com o menor número possível de recursos humanos".

O empenho da liga pela realização de jogos-fantasma justifica-se pelo aspecto financeiro. Com a ausência da torcida nas arquibancadas, os clubes calculam um prejuízo de 15% a 20% do volume do seu faturamento anual, que a maioria tem condições de absorver. 

De outro lado, sem TV e consequentemente sem as cotas dos patrocinadores, muitos clubes pequenos estarão à beira da insolvência e, para sobreviver, dependerão da ajuda dos grandes ou até de um improvável socorro do governo. Estima-se que um encerramento abrupto da atual temporada possa causar um prejuízo total de aproximadamente 750 milhões de euros aos clubes da Bundesliga, sem contar que há milhares de empregos em jogo que dependem diretamente de um negócio chamado futebol.

A crise provocada pela covid-19 balançou fortemente as certezas acumuladas nos últimos 20 anos por conta do até então constante crescimento desse esporte, que se tornou uma máquina de fazer dinheiro. Em 2016, por exemplo, foi registrado um aumento de 80% só com as quotas de TV. No próximo mês de maio seriam negociados os novos contratos de direitos televisivos e esperava-se um aumento de pelo menos 10%. Por precaução, a liga estipulou agora o mês de junho para o início das conversações com os representantes da mídia.

O presidente de um clube da Bundesliga, que preferiu ficar no anonimato, explicou que a pandemia pode ser uma oportunidade para repensar o futebol. Diz ele: "A pergunta que deveríamos fazer agora é: O que o futebol pode aprender com a crise?"

Há um consenso entre os dirigentes que as despesas dos clubes estão num patamar muito alto.

"Vamos ter que achar outros caminhos no que diz respeito aos mirabolantes salários pagos aos jogadores. Futuros contratos terão que ser negociados em patamares inferiores aos que se praticam atualmente", diz um manager de um clube da segunda divisão.

Outro representante de um clube pequeno aponta outro aspecto importante: "Mais cedo ou mais tarde teremos que nos libertar da espiral ascendente das fabulosas somas de dinheiro pagas por uma transferência".

Christian Seifert, o chefão da liga, não tem dúvida: "É óbvio que o futebol vai precisar se adaptar à uma nova era depois dessa crise, mas por ora quero chegar a um porto seguro, o mais tardar em junho".

É a Bundesliga em compasso de espera.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no TwitterFacebook e no site Bundesliga.com.br

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