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Bundestag reconhece como genocídio massacre de armênios

24 de abril de 2015

Ao usar o termo, Parlamento arrisca arranhar relação com Turquia e gerar indignação entre cidadãos alemães de origem turca, que somam mais de 3,5 milhões. Para deputados, Ancara precisa aprender a lidar com passado.

Foto: picture-alliance/dpa/B. Pedersen

Depois de o presidente alemão, Joachim Gauck, reconhecer como genocídio o massacre de cerca de 1,5 milhão de armênios, foi a vez nesta sexta-feira (24/04) de o Bundestag (câmara baixa do Parlamento) usar o mesmo termo para classificar o episódio ocorrido há cem anos.

"Aquilo que aconteceu no Império Otomano em plena Primeira Guerra, sob os olhos do mundo, foi um genocídio", declarou o presidente do Bundestag, Norbert Lammert, diante do Parlamento. Ele mencionou a obrigação de "não se encobrir ou maquiar" o crime. A declaração, como ele deixou claro, representa a posição de todos os demais partidos da Casa.

O governo turco contesta o uso do termo genocídio para se referir à matança de armênios, ocorrida entre 1915 e 1917, na área da atual Turquia. No início deste mês, Ancara retirou seus embaixadores de Viena e do Vaticano depois que a Áustria e o papa Francisco descreverem o massacre como genocídio.

Para os parlamentares alemães, não se trata de acusar os turcos pelas mortes. Assim como a Alemanha não tem orgulho de seu passado nazista, afirmaram porta-vozes de todos os partidos representados na Casa, a Turquia também deveria aprender a lidar com seu passado.

Ao usar o termo genocídio, o Parlamento da Alemanha, maior parceiro comercial da Turquia na União Europeia, arrisca arranhar a relação diplomática com Ancara e gerar indignação entre seus cidadãos de origem turca – que somam mais de 3,5 milhões de pessoas.

Homenagens às vítimas

A resolução parlamentar, aprovada por maioria esmagadora nesta sexta, marca uma significativa mudança de posição em um país que tem lutado para enfrentar sua responsabilidade pelo Holocausto.

Presentes na sessão do Bundestag, a chanceler federal Angela Merkel e o ministro do Exterior Frank-Walter Steinmeier assistiram calados ao discurso de Lammert.

Homenagens às vítimas do massacre de armênios ocorreram em diversas partes do mundo nesta sexta-feira. Uma cerimônia na capital da Armênia, Yerevan, reuniu líderes mundiais, que fizeram um minuto de silêncio e discursaram, lembrando a tragédia. Entre as autoridades estavam o presidente francês, François Hollande, e o presidente russo, Vladimir Putin.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou nesta sexta-feira que "compartilha a dor” dos armênios, mas, como havia feito na quinta-feira, novamente refutou a descrição das mortes como genocídio. Ele não deu sinais de que pretende mudar sua posição.

O dia 24 de abril de 1915 marcou o início das perseguições à população armênia, que há séculos vivia sob domínio otomano. Centenas de milhares de armênios foram deportados, e a maioria de seus bens foi confiscada.

O termo "genocídio" foi definido pela ONU em 1948 como atos cometidos com a intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Mais de 20 países – entre eles Rússia e França – reconhecem a matança de armênios como tal.

MSB/rtr/dpa/ap/afp

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