Especialistas da OMS, dos EUA e da Europa afirmam que país não disponibiliza quantidade suficiente de amostras de sangue contendo o vírus, prejudicando o desenvolvimento de testes, medicamentos e vacinas.
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O Brasil não está compartilhando amostras e dados suficientes sobre o vírus zika, afirmam cientistas estrangeiros ouvidos pela agência de notícias Associated Press (AP). Segundo os especialistas, a legislação do país impõe um entrave à evolução dos estudos sobre a possível relação entre o patógeno e o aumento de casos de microcefalia em recém-nascidos.
A burocracia imposta pelo governo brasileiro estaria forçando laboratórios americanos e europeus a trabalhar com amostras de epidemias anteriores, o que prejudica o desenvolvimento de testes diagnósticos, medicamentos e vacinas.
É tecnicamente ilegal, diz a reportagem da AP, que institutos de pesquisa brasileiros compartilhem material genético, incluindo amostras de sangue contendo o vírus.
"O compartilhamento de amostras é um assunto muito delicado. Advogados têm que ser envolvidos", afirma Marcos Espinal, diretor de doenças comunicáveis da Organização Mundial da Saúde (OMS). O especialista disse ter esperança de que o assunto seja resolvido depois de conversas entre o presidente americano, Barack Obama, e a presidente Dilma Rousseff.
Cientistas estimam que o Brasil tenha enviado ao exterior apenas 20 amostras de sangue contendo o vírus. Para Espinal, a questão deveria ser resolvida rapidamente. "Esperar é sempre um risco durante uma emergência", alerta.
Burocracia
Em maio de 2015, Dilma sancionou lei que, entre outras coisas, regula o uso de material genético do Brasil por pesquisadores. A matéria, no entanto, ainda não foi regulamentada, deixando cientistas num limbo jurídico.
"Até que a lei seja implementada, estamos proibidos de enviar amostras para fora", argumenta Paulo Gadelha, presidente da Fundação Oswaldo Cruz. "Mesmo se quiséssemos, não podemos, porque isso é considerado um crime."
Pesquisadores estrangeiros têm usado amostras antigas de pacientes de países como Polinésia Francesa, Micronésia e Porto Rico. O virologista Jonas Schmidt-Chanasit, do Instituto Bernhard Nocht de Medicina Tropical em Hamburgo, conta que alguns pesquisadores têm conseguido contornar a burocracia brasileira obtendo amostras de laboratórios particulares.
"É quase impossível obter amostras do país", afirma. "Isso não acontece por meio dos canais oficiais do governo. Nossa fonte são simplesmente pessoas ricas que querem um diagnóstico."
Ben Neuman, virologista da Universidade de Reading, na Inglaterra, diz que milhares de amostras, ou ao menos centenas, são necessárias para determinar a dinâmica do vírus. "A ciência só acontece quando compartilhamos", alega.
Segundo Lawrence Gostin, diretor do Centro de Colaboração para Legislação Sanitária e Direitos Humanos da Universidade de Georgetown, em Washington, não existem regras que permitam forçar governos a compartilhar amostras ou outras informações relacionadas a vírus.
KG/ap
Os 10 vírus mais perigosos do mundo
Embora a covid-19 seja muito contagiosa, sua taxa de mortalidade é relativamente baixa em comparação com esses dez vírus.
Foto: picture-alliance/dpa
Vírus de Marburg
O vírus mais perigoso do mundo é o Marburg. Ele leva o nome de uma pequena cidade alemã às margens do rio Lahn, onde o vírus foi documentado pela primeira vez. O Marburg provoca febre hemorrágica e, assim como o ebola, causa convulsões e sangramentos das mucosas, da pele e dos órgãos. A taxa de mortalidade do vírus chega a 88%.
Foto: Bernhard-Nocht-Institut
Ebola
O vírus do ebola foi descoberto em 1976 na República Democrática do Congo por uma equipe de pesquisadores belgas. A doença foi batizada com o nome do rio que passa pelo vilarejo onde ela foi identificada pela primeira vez. Ele pode ocorrer em cinco cepas distintas, denominadas de acordo com países e regiões na África: Zaire, Sudão, Bundibugyo, Reston, Floresta de Tai. A cepa Zaire é a mais fatal.
Foto: Reuters
Hantavírus
O hantavírus descreve uma ampla variedade de vírus. Assim como o ebola, ele também leva o nome de um rio – neste caso, onde soldados americanos foram os primeiros a se infectarem com a doença durante a Guerra da Coreia, em 1950. Os sinais são doenças pulmonares, febre e insuficiência renal.
Foto: REUTERS
Gripe aviária
Com uma taxa de mortalidade de 70%, o agente causador da gripe aviária espalhou medo durante meses. Mas o risco real de alguém se infectar com o vírus H5NI é muito baixo. Os seres humanos podem ser contaminados somente através do contato muito próximo com as aves. Por esse motivo, a maioria dos casos ocorre na Ásia, onde pessoas e galinhas às vezes vivem juntas em espaço pequeno.
Foto: AP
Febre de Lassa
Uma enfermeira na Nigéria foi a primeira pessoa a se infectar com o vírus Lassa. A doença é transmitida aos humanos através do contato com excrementos de roedores. A febre de Lassa ocorre de forma endêmica na África Ocidental, como é o caso, atualmente, mais uma vez na Nigéria. Pesquisadores acreditam que 15% dos roedores dali sejam portadores do vírus.
Foto: picture-alliance/dpa
Junin
O vírus Junin é associado à febre hemorrágica argentina. As pessoas infectadas apresentam inflamações nos tecidos, hemorragia e sépsis, uma inflamação geral do organismo. O problema é que os sintomas parecem ser tão comuns que a doença raramente é detectada ou identificada à primeira vista.
Crimeia-Congo
O vírus da febre hemorrágica Crimeia-Congo é transmitido por carrapatos. Ele é semelhante ao ebola e ao Marburg na forma como se desenvolve. Durante os primeiros dias de infecção, os doentes apresentam sangramentos na face, na boca e na faringe.
Foto: picture-alliance/dpa
Machupo
O vírus Machupo está associado à febre hemorrágica boliviana. A infecção causa febre alta, acompanhada de fortes sangramentos. Ele desenvolve-se de maneira semelhante ao vírus Junin. O Machupo pode ser transmitido de humano para humano, e é encontrado com frequência em roedores.
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Doença da floresta de Kyasanur
Cientistas descobriram o vírus da floresta de Kyasanur na costa sudoeste da Índia em 1955. Ele é transmitido por carrapatos, mas supõe-se que ratos, aves e suínos também possam ser hospedeiros. As pessoas infectadas apresentam febre alta, fortes dores de cabeça e musculares, que podem causar hemorragias.
Dengue
A dengue é uma ameaça constante. Transmitida pelo mosquito aedes aegypti, a doença afeta entre 50 e 100 milhões de pessoas por ano em todo o mundo. O vírus representa um problema para os dois bilhões de habitantes que vivem nas áreas ameaçadas, como Tailândia, Índia e Brasil.