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"Burquíni": solução polêmica para dilema em escolas alemãs

Stefan Dege (mas)12 de setembro de 2013

Jovem muçulmana que não queria ter aula de natação mista vai à Justiça, que diz que espécie de "maiô islâmico" pode ser saída para o impasse. Sugestão é criticada, e tema divide país, onde islã é cada vez mais presente.

Mangas longas e lenço na cabeça, o "burquíni" é uma solução para as muçulmanas devotasFoto: picture-alliance/dpa

Um vestido de manga longa, uma calça legging e um lenço na cabeça. O "burquíni" é a maneira que as mulçumanas mais devotas encontraram para aproveitar praias e piscinas ao redor do mundo, já que esses trajes de banhos deixam pouca, ou quase nenhuma, parte do corpo visível. Os "burquínis" podem ser encontrados em diferentes cores, estampas e modelos, em lojas especializadas e na internet.

"Eu gosto de nadar, mas só com as meninas", decidiu uma estudante mulçumana de Frankfurt há dois anos, inaugurando uma polêmica de repercussão nacional. Sua fé islâmica a impede de se mostrar para meninos e homens em trajes de banho. Ela também não quer ver os colegas sem camisa. Mesmo o uso do "burquíni" está fora de cogitação para ela. Desde então, o caso foi parar na Justiça seguidas vezes.

O "burquíni" pode ser encontrado em diversas cores e modelosFoto: picture alliance/dpa

Os pais da estudante, que tem ascendência marroquina, solicitaram que a filha fosse isenta da aula de natação ao lado de meninos. A escola recusou. Eles levaram o caso para um tribunal de Frankfurt e outro em Kassel – sem sucesso. Na época, os juízes decidiram que era esperado que a jovem frequentasse as aulas de natação vestindo um "burquíni". A decisão final foi dada por um tribunal administrativo federal em Leipzig. A questão central do caso é: quando termina a missão educativa da escola e começa o direito fundamental da liberdade religiosa?

Integração em debate

De acordo com o Conselho Central Mulçumano na Alemanha, o uso do maiô de corpo inteiro é "razoável do ponto de vista islâmico". No entanto, para esse caso individual, é diferente, disse o presidente do conselho, Aiman Mazyek. Segundo ele, se uma menina mulçumana não quer, conscientemente, nadar com seus colegas meninos, sua vontade deve ser respeitada.

"A questão aqui não é só a integração das comunidades religiosas ou de uma menina de Frankfurt, mas a tolerância de nossa sociedade e a vontade de fazer valer o que diz nossa Constituição a respeito da liberdade de crença e consciência", afirma Mazyek.

A educadora Yasemin Karakasoglu, de origem turca, é vice-reitora de interculturalidade da Universidade de Bremen. Para ela, religião é um assunto privado. No entanto, ela acredita que deve haver um equilíbrio entre o sentimento religioso individual e o interesse pedagógico do Estado.

A jovem em Frankfurt não quer – e não deve – ver seus colegas sem camisaFoto: picture-alliance/dpa

"Não podemos usar nossa razão e ideias para determinar que a maneira que lidamos com o nosso corpo e a inteiração entre os sexos se aplique a todos igualmente", opina a educadora. "A religião é interpretada pelas pessoas."

Liberdade religiosa contra o ensino obrigatório? Karakasoglu, que é o rosto multicultural da equipe de campanha do candidato a chanceler Peer Steinbrück (SPD), não vê uma solução ideal para o dilema. Ela defende soluções práticas e cotidianas para esses problemas, como aulas de natação separadas para meninas estritamente religiosas.

Klaus Meissner, advogado da jovem de Frankfurt, cita outros casos envolvendo o "burquíni" que foram a julgamento. Em 1993, foi decidido que a isenção das aulas de natação é possível se a escola não as oferece com a divisão por gênero.

Yasemin Karakasoglu acredita que a integração não pode ser forçadaFoto: picture-alliance/dpa

Liberdade civil e religiosa

Em contrapartida, um dos juizes envolvidos no caso enfatizou que uma das tarefas da integração é a educação. Os alunos precisam ser preparados para viver na plural e laica sociedade alemã. Meissner discorda: "Educação mista não é essencial para a formação de um comportamento respeitoso entre os sexos", afirma.

Meninas mulçumanas usando "burquínis" agora podem participar de aulas de natação mistas. A fim de preservar seus sentimentos religiosos, o maiô de corpo inteiro parece ser uma solução apropriada, como decidiram os juizes do tribunal administrativo em Leipzig. A decisão é "uma solução prática entre a missão educativa do Estado e o direito à liberdade religiosa".

Para a estudante, o julgamento teve consequências concretas: as aulas de natação ainda constam no currículo semestral da jovem que frequenta a nona série na escola Helene-Lange em Frankfurt.

Depois do cristianismo, o islamismo é a religião com mais seguidores na Alemanha. Um estudo realizado pelo Departamento Federal de Migração e Asilo apontou que entre 3,8 e 4,3 milhões de muçulmanos vivem na Alemanha, o equivalente a entre 4,6% e 5,2% da população do país.

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