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Mercados emergentes

14 de novembro de 2011

Em meio à crise europeia, a cúpula da Apec delineia uma nova área de livre comércio na região e deixa claro o potencial de negócios existente entre os países às margens do Oceano Pacífico.

Obama: EUA apostam na região da Ásia e do PacíficoFoto: dapd

O principal tema da cúpula da Apec (Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico) realizada durante o fim de semana em Honolulu, no Havaí, seriam as relações econômicas na região, mas a crise financeira na Europa foi um assunto difícil de ser ignorado.

"Eu penso todos os dias numa possível solução para a crise europeia", comentou Doug Oberhelman, presidente-executivo da Caterpillar, grande fabricante americano de maquinário. Mas a crise até agora quase não afetou seus negócios, e Oberhelman vê o futuro com confiança. “Temos a capacidade de realizar negócios bem-sucedidos, não importa sob que circunstâncias", disse.

Desde o início de 2010, a Caterpillar criou 30 mil empregos em todo o mundo, 12 mil deles nos Estados Unidos. E a expansão da empresa continua, com investimentos e novos negócios em lugares como Indonésia, Japão, Tailândia e Índia. Também na América do Norte será construída uma nova fábrica para máquinas menores, e em 2011 a empresa espera registrar um recorde de vendas.

Olhos voltados para a China

A China também parece não estar sentindo os efeitos de crise. "O impacto da crise europeia é pequena", disse o presidente do Banco da China, Xiao Gang. Seu banco detém apenas uma pequena parcela de títulos de governos europeus, e nenhum de Espanha ou a Grécia, assegurou.

China é criticada por tolerar pirataria de produtosFoto: AP

Segundo ele, o mesmo vale para outros bancos do país. A China pode vir até a se beneficiar da crise do euro, avalia. Se os bancos europeus retirarem seus capitais da região da Ásia-Pacífico, poderão criar "uma boa oportunidade para os bancos chineses expandirem seus negócios", disse Xiao Gang.

A China sofreu pressão na cúpula da Apec em Honolulu. O presidente norte-americano, Barack Obama, apelou para que os chineses "respeitem as regras", citando como exemplo a moeda chinesa, considerada como tendo um valor artificialmente baixo.

"Isso tem que mudar", reclamou Obama, afirmando que, caso contrário, os EUA irão tomar suas próprias medidas. "É inaceitável que não obtenhamos a proteção necessária em um mercado grande como a China", lamentou Obama, se referindo às leis internacionais de patentes.

Xiao Gang não quis replicar diretamente as reclamações do líder americano, mas afirmou que a China está evoluindo de um estágio de mera produção de mercadorias “made in China” para um em que os produtos também são desenvolvidos no país. Ele acrescentou, ainda que o sistema bancário chinês também está se adaptando a longo prazo para uma nova realidade global.

Crescimento asiático às custas da Europa

Na opinião de John Chen, presidente da empresa de software Sybase, uma subsidiária da empresa alemã SAP, é apenas uma questão de tempo para que seja de interesse também dos chineses que sua moeda oscile livremente no mercado e que os direitos de propriedade intelectual sejam reforçados.

Foto dos líderes do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico no encontro em Honolulu, no HavaíFoto: dapd

"A moeda chinesa se ​​tornará mais forte, é apenas uma questão se saber com que velocidade isso irá ocorrer", avaliou em entrevista à Deutsche Welle. “Nos últimos cinco anos, o yuan se valorizou entre 25% e 30%”, disse. “E, mais cedo ou mais tarde, os chineses terão que se integrar no sistema, especialmente se quiserem continuar a investir no exterior", complementou.

Chen também prevê uma mudança na questão da proteção da propriedade intelectual. "A China está trabalhando duro para registrar suas próprias patentes, por isso logo terá interesse que sua propriedade intelectual também seja protegida", afirma.

John Chen, presidente da SybaseFoto: Christina Bergmann

Mesmo assim, Chen defende que o Ocidente mantenha a pressão sobre a China. A Sybase tem 50% de seu faturamento originados em negócios nos EUA, 35% provenientes da Europa e Oriente Médio, e o resto da região Ásia-Pacífico, parcela que vem crescendo constantemente. “Os negócios na China aumentaram nos últimos anos cerca de 25%”, contabilizou Chen.

Em três a quatro anos, ele espera uma redistribuição em favor do mercado asiático, e nos próximos 10 a 20 anos a Apec é o lugar de maior crescimento, em detrimento, segundo ele, do mercado europeu, que perderá importância para a Sybase, ainda que de poucos pontos percentuais.

Enquanto a Europa discute, a China age

Mesmo que a China seja criticada por sua política de câmbio, o país é muito assediado na condição de parceiro de negócios. A firma Tethys Petroleum fornece à Europa gás proveniente do Cazaquistão, Uzbequistão e Tajiquistão através de dutos da empresa russa Gazprom, a qual pode determinar o preço do combustível por possuir a única rota de exportação.

David Robson, da Tethys PetroleumFoto: Christina Bergmann

Isso pode mudar em breve, afirmou o presidente da Tethys, David Robson, em entrevista à Deutsche Welle. "Em 2013 haverá um novo gasoduto, ligando a Europa a nossos campos de exploração de gás na China", previu. A nova alternativa de mercado, segundo ele, vai pressionar os preços do gás para baixo.

Os europeus só vão conseguir se manter competitivos como clientes se construírem o gasoduto Nabucco, linha planejada há anos, projetada para ser uma rota mais ao sul, levando o gás para o Ocidente através da Turquia. Mas o plano parece ainda longe de se  tornar realidade. "Ouço falar sobre o projeto Nabucco desde meus tempos de escola", brinca Robson. "Eu não sei quando ele vai ser implementado." Ao mesmo tempo, há também interesse no gás da Ásia Central por parte da Índia e do Paquistão, que planejam a construção de um gasoduto até 2016.

A competição é considerável para a Europa, mesmo que a China ainda precise eliminar barreiras comerciais para a importação de gás, diz Robson. Mas também os europeus teriam que trabalhar duro se quiserem continuar a receber o gás da Ásia Central. "Até agora tem faltado vontade política para tornar o gasoduto Nabucco uma realidade", diz Robson. “Porque, ao contrário da China, que rapidamente realiza suas metas estabelecidas, na Europa há muita discussão, mas nada acontece."

Rússia se aproxima da adesão à OMC

Mesmo os russos estão muito interessados ​​em boas relações econômicas com a China. Recentemente foi criado um fundo de investimentos russo-chinês no valor de 4 bilhões de dólares. O diretor-executivo do Russian Direct Investment Fund, Kirill Dmitriev, vê sinergias entre a Ásia e a Europa. "A Rússia pode ajudar a Europa a superar a atual crise", disse à Deutsche Welle.

Os russos têm razão para se alegrar, pois estão a poucos passos da inclusão na Organização Mundial do Comércio (OMC). “Parece que todas as questões pendentes já puderam ser esclarecidas”, observou Dmitriev. A próxima cúpula da Apec será realizada no ano que vem em Vladivostok, na Rússia, e então a adesão à OMC pode vir a ser assinada. "A Rússia estará (desta forma) muito mais próxima dos padrões internacionais", disse o presidente russo, Dimitri Medvedev, em Honolulu.

Parceria transpacífica

Honolulu serviu de palco para o estabelecimento de um Tratado de Livre Comércio Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), que prevê uma zona de livre comércio entre Estados Unidos, Austrália, Brunei, Chile, Malásia, Nova Zelândia, Peru, Cingapura e Vietnã. "Uma série de detalhes ainda têm que ser trabalhados, mas estamos confiantes de que tudo dará certo", declarou Obama no Havaí.

Medwedew: Rússia está perto de entrar na OMCFoto: dapd

Barreiras ao comércio e aos investimentos devem ser reduzidas, o que deverá ampliar as exportações e também gerar empregos nos Estados Unidos, espera Obama. O Japão também anunciou que pretende ser incluído no TPP. Os governos de Canadá e México também manifestaram interesse em se aliar ao projeto.

Obama definiu como meta duplicar as exportações dos Estados Unidos até 2015, o que deverá gerar cinco milhões de postos de trabalho. "Nenhuma região vai determinar nosso futuro econômico de longo prazo mais do que a região da Ásia e do Pacífico", afirmou no discurso de encerramento.

O encontro no Havaí não deixou evidente apenas que o mercado asiático está crescendo, mas também que as prioridades da política externa dos EUA estão mudando de eixo. A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, afirmou na sexta-feira, em discurso, que as guerras no Iraque e no Afeganistão estão se aproximando do fim e que a era do comércio está começando. E a Ásia está no centro dela.

Autora: Christina Bergmann (md)
Revisão: Alexandre Schossler

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