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Segurança no Afeganistão

15 de novembro de 2010

A responsabilidade pela segurança no país deverá ser transferida para o governo local nos próximos quatro anos. Cúpula da Otan em Lisboa marcará início da estratégia de retirada gradual das forças internacionais do país.

Perdas entre as tropas internacionais em 2010 foram as maiores desde 2001Foto: AP

A cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em Lisboa, de 19 a 20 de novembro, deverá ser um importante marco na atuação da Isaf (Força Internacional de Assistência para a Segurança no Afeganistão). O encarregado do governo norte-americano para Afeganistão e Paquistão, Richard Holbrooke, anunciou nesta segunda-feira (15/11) em Islamabad que o encontro na capital portuguesa iniciará o processo de transferência da responsabilidade pela segurança do país para o governo local até 2014.

A poucos dias da cúpula em Portugal, a violência no Afeganistão escalou. Em Kunduz, confrontos provocados pelo ataque a uma torre de telecomunicação culminaram na morte de nove policiais afegãos e de oito rebeldes. No domingo, cinco soldados da Otan morreram em um dos combates mais violentos dos últimos seis meses, ocorrido no leste do país. Neste ano, as tropas internacionais sofreram as maiores perdas desde que foram estacionadas no Afeganistão, em 2001.

"Transferência, não retirada"

Holbrooke ressalvou que as tropas internacionais não vão se retirar completamente do país até 2014. "Temos uma estratégia de transferência de responsabilidade, não uma estratégia de retirada."

Richard HolbrookeFoto: picture-alliance/ dpa

Não se trata, segundo ele, de uma repetição do que aconteceu em 1989, "quando as tropas soviéticas se retiraram do Afeganistão, virando as costas para o oeste do país". Foi nessa época que o Afeganistão imergiu na guerra civil e foi subjugado ao poder dos radicais islâmicos do Talibã. "O que ocorreu em 1989 levou diretamente ao 11 de Setembro e do 11 de Setembro à situação atual", argumentou Holbrooke, lembrando que essa "foi a mais extraordinária sequência de acontecimentos com consequências inesperadas da história dos EUA".

Ao mesmo tempo, o encarregado norte-americano assinalou que os EUA pretendem iniciar a retirada de suas tropas do Afeganistão em julho de 2011, segundo já anunciara o presidente Barack Obama. Ainda no ano passado, o chefe de governo norte-americano havia ordenado o envio de mais 30 mil soldados para a região, a fim de readquirir o controle sobre o país.

Diálogo com os talibãs?

Em Lisboa, a Otan pretende começar a transferir para os afegãos o controle militar do país. Em 2011, as autoridades locais deverão assumir o comando das primeiras províncias. No entanto, na cúpula de sexta-feira e sábado, a Otan ainda não deverá divulgar quais serão essas regiões.

O contingente alemão, por sua vez, deverá começar a ser reduzido apenas em 2012, um ano após o início da retirada dos norte-americanos. Nos últimos tempos, o Bundeswehr chegou a elevar seu contingente no Afeganistão. Desde outubro, as tropas alemãs estiveram envolvidas em violentos combates com rebeldes na província de Kunduz, a fim de readquirir o controle sobre esse reduto talibã.

David PetraeusFoto: AP

Nesse meio-tempo, os radicais islâmicos do Talibã voltaram a rejeitar negociações de paz com o governo afegão, alegando que não pretendem dialogar com um "governo corrupto de marionetes" enquanto ainda houver tropas estrangeiras estacionadas no país. Isso foi o que comunicou o "mulá" Omar, líder dos talibãs supostamente foragido no Paquistão, em um e-mail dirigido à mídia local.

Nas últimas semanas, houve notícias esporádicas de conversações entre o Talibã e o governo afegão. Os extremistas, derrubados do governo do país em 2001, travam desde então uma guerra contra as tropas ocidentais e afegãs. Diante da crescente violência no Afeganistão, aumenta no Ocidente o número de pessoas que favorecem o diálogo com o Talibã.

Holbrooke, por sua vez, tem uma opinião sóbria a respeito de eventuais negociações com os talibãs. Em declaração ao diário alemão Süddeutsche Zeitung, ele advertiu que tentativas do gênero não surtiram nenhum efeito até agora. "Mesmo assim, apoiamos esse tipo de contato, pois sabemos que não haverá uma vitória militar em que todos os inimigos se entreguem ou sejam mortos", explicou.

Iraque serve de modelo

Em Lisboa, o governo norte-americano deverá apresentar um plano detalhado de retirada de 130 mil soldados de 48 países, entre os quais 100 mil americanos. Até o final do ano corrente, deverá ser determinado o cronograma para cada região afegã, escreveram nesta segunda-feira os jornais New York Times e Washington Post.

Entre 2012 e 2014 deverá permanecer no Afeganistão um contingente de soldados capazes de agir com rapidez em caso de emergência. Mesmo após o fim da operação internacional, pode ser que dezenas de milhares de soldados ainda fiquem estacionados no país, a fim de continuar instruindo e treinando as forças locais de segurança. De qualquer forma, a meta é fortalecer e ampliar o exército afegão.

A estratégia de Washington tem como modelo a retirada das tropas norte-americanas do Iraque, recentemente finalizada. Desde o fim da intervenção militar no Iraque até meados deste ano, 50 mil soldados americanos permaneceram no país para apoiar as forças locais de segurança. No entanto, no caso do Afeganistão, o cumprimento do plano de retirada dependerá da segurança na região.

Hamid KarzaiFoto: Picture-alliance/dpa

Paralelamente ao anúncio dos planos militares da Otan para o Afeganistão, acirrou-se o desentendimento entre o governo norte-americano e o presidente afegão, Hamid Karzai, que também comparecerá à cúpula de Lisboa. Ao exigir que tropas ocidentais limitem as operações de guerra em seu país, Karzai recebeu severas críticas do general norte-americano David Petraeus, comandante da Isaf.

Karzai exige sobretudo o fim das batidas policiais noturnas em domicílios afegãos, uma estratégia central de Petraeus no combate ao terrorismo. O governo norte-americano pretende fazer uma avaliação parcial da estratégia de Obama para o Afeganistão na segunda metade de dezembro.

SL/rtd/dpa
Revisão: Roselaine Wandscheer

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