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Cúpula da Otan vai anunciar operações do escudo antimísseis

20 de maio de 2012

Na cúpula em Chicago, Otan vai declarar escudo antimísseis como provisoriamente operacional. O sistema deve ser ampliado nos próximos anos para interceptar possíveis projéteis lançados pelo Irã.

Foto: AP

A central do sistema de defesa antimísseis, localizada na cidade de Ramstein, no sudoeste da Alemanha, é composta atualmente de alguns poucos soldados e mesas de computadores. Ela é um apêndice do sistema de defesa aérea da Otan, que, com cerca de 100 soldados, é responsável pela defesa do espaço aéreo em grande parte da Europa.

É também em Ramstein que as informações sobre eventuais lançamentos de foguetes inimigos são registradas e avaliadas. Mas a decisão de acionar o sistema de defesa antimísseis não é tomada lá. “Atualmente, o nosso sistema se limita a detectar se, a partir de uma determinada região, um míssil será lançado contra o território da Otan", diz o general Wilhelm Ploeger, vice-comandante do sistema de defesa aérea da Otan, à Deutsche Welle. Na prática, isso quer dizer que no momento o sistema só funciona parcialmente.

Defesa contra mísseis iranianos

O "sistema do sistema", composto de satélites, equipamentos de radar, sistemas de interceptação em navios e em terra, deverá ser desenvolvido até 2020 em três fases adicionais. Os mísseis interceptores do tipo SM-3 vêm dos Estados Unidos e ficarão estacionados em navios no Mediterrâneo, assim como na Romênia e na Polônia. Eles deverão interceptar mísseis de médio e de longo alcance que venham a ser disparados do Irã. Mísseis de curto alcance deverão ser combatidos por mísseis Patriot, conhecidos desde o tempo da Guerra do Golfo, dos quais a Alemanha também possui duas dúzias de sistemas.

General Ploeger, comandante da central do escudo antimísseisFoto: NATO Ramstein

Em Ramstein, são feitos os preparativos para a operação: a defesa contra o ataque de mísseis deverá ser feita, em grande parte, de forma automática. O trabalho humano se dá basicamente no planejamento e na implementação do sistema de defesa, ressalta o general Friedrich Wilhelm Ploeger. "O fator tempo é fator decisivo no combate a mísseis balísticos”, comenta o militar. “Dependendo do alcance dos mísseis, dispomos de no máximo 20 minutos para realizar a avaliação completa de um míssil. Dentro desses 20 minutos, temos apenas uma janela muito pequena, uma fração do tempo de voo, para iniciar uma tentativa de interceptação bem-sucedida".

Boa parte ainda é só teoria

Os especialistas avaliam de formas diversas as chances de que o sistema de defesa antimísseis europeu venha realmente a funcionar, após décadas de planejamento. O especialista em segurança Joachim Krause, professor da Universidade de Kiel, observa que os sistemas de mísseis previstos já estão sendo usados pelas forças armadas norte-americanas. "Este programa é baseado em componentes existentes e deve estar pronto para ser ativado rapidamente, pelo menos em parte. Não se trata de Guerra nas Estrelas, mas algo passível de se tornar realidade nos próximos anos."

Manobra: navio de guerra americano lança míssil SM-3Foto: AP/ US Navy

Oliver Meier, do Instituto de Pesquisa sobre Paz e Política de Segurança, sediado em Hamburgo, tem opinião diferente. "Os sistemas, em grande parte, ainda não existem. A fase crítica começa quando for introduzido, a partir de 2018, uma nova arma contra mísseis de longo alcance. E ainda é totalmente incerto se ela funcionará”, diz Meier em entrevista à Deutsche Welle. “A Otan quer defender toda a população da Europa contra um ataque nuclear do Irã. Portanto, deve haver um alto grau de segurança operacional. E isso é provavelmente impossível de se garantir em sistemas tão complexos como o de defesa de mísseis. Porque, em relação à ameaça nuclear, basta que uma única ogiva consiga furar o sistema que tudo vai por água abaixo".

Ploeger, entretanto, está confiante de que o sistema funcionará como prometido. Mas no caso da interceptação de mísseis com ogivas múltiplas, seria necessário um sistema muito mais amplo, segundo o general. "A possibilidade de mísseis com ogivas múltiplas ainda não têm foi intensamente considerada em nosso planejamento", admite.

Mais flexível e barato

A implementação do sistema europeu de defesa antimísseis foi decidida na última cúpula da Otan em Novembro de 2010 em Lisboa. O presidente dos EUA, Barack Obama, já havia apresentado em 2009 uma nova estratégia simplificada para a defesa de mísseis. O sistema deveria ser, segundo esta estratégia, mais flexível e menos oneroso. "Nossa nova arquitetura de defesa antimísseis na Europa proporcionará uma defesa mais rápida e inteligente, para proteger nossas tropas e nossos aliados", prometeu Obama na época. Com isso, ele colocava fim a uma fase de planejamento e desenvolvimento que se estendia por décadas, na qual, sob os presidentes Bush e Clinton, já haviam sido investidos muitos bilhões de dólares.

Projeto foi lançado no governo de Ronald ReaganFoto: AP

Tudo começou em março de 1983, com o famoso discurso do presidente Ronald Reagan, no qual ele anunciou a Iniciativa Estratégica de Defesa, programa que ficou conhecido como “Guerra nas Estrelas”. Com ele, Reagan queria transferir a Guerra Fria para o espaço. Essa corrida armamentista com a União Soviética tinha por meta subjugar os comunistas. Quando o Muro de Berlim caiu, seis anos mais tarde, e a União Soviética se desfez, o programa se tornou supérfluo.

Rússia se vê ameaçada

Mas a ideia de um escudo antimísseis continuou viva, assim como o conflito entre os dois blocos. Até hoje, a Rússia insiste que a defesa regional europeia antimísseis também é uma ameaça para o país. Os especialistas em segurança Joachim Krause e Oliver Meier veem o assunto de forma diferente. Para Oliver Meier, as primeiras fases do sistema de defesa de mísseis da Otan são, do ponto de vista militar, completamente desinteressantes para os russos. "Temos que admitir que a preocupação russa é exagerada, pois no momento a Rússia ainda tem milhares de mísseis nucleares. A ideia de que um escudo de defesa poderia interceptar essa quantidade de mísseis é uma ilusão", avalia Maier.

O professor Joachim Krause, da Universidade de Kiel, diz compreender a preocupação russa. "Se os norte-americanos obtiverem sucesso na defesa regional na Europa, então pode ser que eles venham a usar o sistema contra os russos. Isso poderia significar que, a partir de uma perspectiva russa, o potencial estratégico de ameaça contra os Estados Unidos pode vir a ser enfraquecido lentamente."

Possível ameaça: mísseis iranianos de médio alcanceFoto: picture-alliance/dpa

Otan convida russos

A Otan tem tentado há anos dissipar estes receios, até agora sem sucesso. O secretário-geral da aliança, Anders Fogh Rasmussen, ofereceu uma cooperação ao ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, na última reunião de ministros do Exterior da Otan, em abril último. "A melhor garantia poderia começar na participação da Rússia em uma cooperação direta no sistema de defesa de mísseis. Sugerimos construir uma ou duas centrais comuns, onde dados e conhecimentos seriam compartilhados e exercícios preparados conjuntamente ", disse Rasmussen, acrescentando que através da cooperação, Moscou poderia ver com eus próprios olhos que o sistema da Otan não é dirigido contra a Rússia.

Apesar de toda a retórica a nível político, há bastante cooperação na prática militar entre a Otan e a Rússia. Ambas fizeram um exercício conjunto há alguns meses: um treinamento de defesa contra mísseis de curto alcance em que todos os cenários foram simulados.

Autor: Bernd Riegert (md)
Revisão: Soraia Vilela

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