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"Novo despertar" da Unasul em Quito

Greta Hamann (md)4 de dezembro de 2014

Inauguração da nova sede da entidade e debates sobre passaporte sul-americano estão na pauta do encontro, voltado a retomar esforço de integração do subcontinente. Cooperação política deve nortear trabalho da aliança.

Ecuador UNASUR Gebäude in Quito
Foto: Luis Astudillo/Cancillería del Ecuador

O novo despertar deve acontecer num espaço de 20 mil metros quadrados, de acordo com o novo secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper. A primeira sede da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), aliança que inclui todos os 12 países da América do Sul, fica na periferia da capital do Equador, Quito, e deve se tornar "um lugar emblemático" para a integração do subcontinente, conforme Samper.

Nesta sexta-feira (05/12) o imponente edifício será inaugurado. Em seguida inicia-se a cúpula dos chefes de Estado da Unasul. O prédio impressiona por sua arquitetura futurista. O presidente do Equador, Eduardo Correa, até mesmo espera que em breve ele passe a atrair mais turistas à capital do Equador. Seu país gastou 43,5 milhões de dólares na construção.

Concorrência do Mercosul e Aliança do Pacífico

"A inauguração da sede da Unasul é um ato simbólico", diz o especialista em relações interamericanas Luis Fernando Ayerbe, da Universidade Estadual Paulista (Unesp). A obra, segundo ele, deve mostrar que os países sul-americanos estão se esforçando novamente por uma maior convergência.

Ele vê da mesma forma os planos para um passaporte comum sul-americano, a ser debatido mais detalhadamente na cúpula. O documento deverá permitir liberdade de circulação na América do Sul a todos os cidadãos dos 12 países da Unasul, mas segue indefinida a data a partir da qual deve entrará em vigor.

Várias razões levaram a que pouco se falasse sobre a Unasul nos últimos anos. De um lado, há inúmeras discussões paralelas dentro de outras alianças latino-americanas, como o Mercosul e a Aliança do Pacífico. Por outro lado, vários políticos para os quais a Unasul era um assunto importante já não estão mais na arena política.

Não é à toa que a nova sede também lembre uma das grandes perdas para a Unasul, ao ser batizada com o nome do ex-presidente argentino Néstor Kirchner. Nomeado em 2010 como primeiro secretário-geral da entidade, ele morreu no mesmo ano.

O novo secretário-geral, Ernesto Samper, quer retomar o trabalho de Kirchner. O ex-presidente da Colômbia quer fazer de Quito a "nova capital da integração sul-americana".

Proteção da influência dos EUA

Um dia antes da cúpula, Luiz Inácio da Silva se pronunciou em uma conferência em Guayaquil, evento prévio ao encontro dos chefes de Estado da Unasul. O ex-presidente brasileiro fez um apelo para que os parlamentos latino-americanos criem mecanismos para concretizar acordos internacionais e acelerar a integração regional. Segundo ele, esta deve ser acelerada especialmente em momentos de crise.

"A integração não é um problema e sim parte da solução”, frisou Lula. Ele acrescentou que quanto mais os países se integram "melhores serão as condições para se enfrentar e superar as crises". Por isso, reivindicou, parlamentos "devem criar mecanismos especiais mais ágeis" para concretizar os acordos internacionais.

"Uma das principais intenções da Unasul é se proteger contra a influência exercida por parte da Organização dos Estados Americanos (OEA), que também inclui os EUA", comenta Detlef Nolte, diretor do Instituto de Estudos Latino-Americanos do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), em Hamburgo.

"Há um consenso entre todos os países da América do Sul: se há algum problema, eles devem resolvê-lo entre si. Isso vinha funcionando geralmente bem no passado recente, desde a fundação da Unasul, em 2008”, explica.

O analista cita a intervenção diplomática da Unasul em conflitos no Paraguai, assim como o papel da aliança no incidente com o presidente da Bolívia, Evo Morales em 2013, quando seu avião ficou retido durante várias horas no aeroporto de Viena, por suspeitas de que ele estivesse acobertando uma fuga do whistle-bloweramericano Edward Snowden. "Juntos é possível conseguir mais. Essa ideia é compartilhada pela maioria dos Estados sul-americanos", ressalta Nolte.

Muitas vezes, a União de Nações Sul-Americanas é comparada à União Europeia. Mesmo agora – antes da inauguração da nova sede – há discussões sobre o caminho que a organização deve seguir.

"Mas os países da Unasul não pretendem ceder competências nacionais a uma instituição supranacional, como é o caso da UE", sublinha Luis Fernando Ayerbe, completando: "A Unasul está mais preocupada com a cooperação política e a intervenção em situações de crise." O historiador da Unesp comenta que muitas vezes espera-se mais da Unasul do que ela realmente é. Nesta cúpula deverá haver um "progresso realista e pragmático" – nada mais do que isso, contudo.

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